Violência Política

Vereador é denunciado por chamar única colega eleita de vagabunda e safada

MP pede cassação dos direitos políticos de Codó (MDB) por ataques à única vereadora de Medina, cidade que, há 24 anos, não tinha uma mulher na Câmara

Ex-secretária de Saúde de Medina foi ofendida por vereador, denunciado por crime eleitoral pelo MPMG -  (crédito: Redes Sociais)
Ex-secretária de Saúde de Medina foi ofendida por vereador, denunciado por crime eleitoral pelo MPMG - (crédito: Redes Sociais)

O vereador reeleito de Medina, cidade de 20 mil habitantes no Vale do Jequitinhonha, Ailson Batista de Figueiredo (MDB), conhecido na cidade como Codó, foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por violência política de gênero.

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Codó é acusado de crime eleitoral contra a vereadora eleita, a ex-secretária de Saúde do município, Tatyana da Saúde (Republicanos), única mulher a ocupar uma vaga na Câmara Municipal de Medina, cidade que, há seis legislaturas, não tinha nenhuma mulher na vereança.

No dia das eleições, após o resultado das urnas, durante um comício em praça pública para comemorar a vitória de Lucas Luterplan (MDB) para o cargo de prefeito, ao microfone, Codó chamou sua futura colega de vereança e a irmã dela, Aline Azevedo de Figueiredo, de "vagabundas e safadas", além de tecer comentários misóginos contra as duas. As ofensas foram gravadas e o vídeo viralizou na cidade.

O MPMG pede a suspensão dos direitos políticos do vereador, além de uma indenização de R$ 500 mil para a vítima.

De acordo com a denúncia, o vereador reeleito humilhou Tatyana e a irmã dela, "utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher, com a finalidade de impedir ou dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo".

Tatyana foi secretária de Saúde de Medina por sete anos, mas foi demitida em janeiro por, segundo ela, pleitear a candidatura a vereadora e não apoiar o candidato do prefeito, que acabou eleito. Codó ficou em sexto lugar na disputa e teve menos votos que Tatyana, a quarta mais votada para a Câmara Municipal.

“Eles não aceitam que uma mulher possa ter voz, possa ousar não acatar o que eles querem na política. No fundo, eles têm medo da concorrência”, disse a vereadora eleita. Segundo ela, as ofensas foram constantes ao longo da campanha. “O vídeo veio apenas provar o que ele estava falando da gente. Ele atacou até o nosso corpo”, disse Tatyana, que atribuiu os ataques ao “machismo nu e cru da política”. “O ódio concorre contra nós mulheres na luta por espaço na política”, afirmou.

Segundo ela, sua irmã, que trabalha na prefeitura, foi perseguida durante a campanha e transferida do seu local de trabalho. “Tudo porque ousei ser candidata a vereadora e não apoio o candidato deles”, afirmou Tatyana.

De acordo com a irmã da vereadora eleita, ela foi atacada apenas pelo parentesco e por ter apoiado a eleição de Tatyana. "Atingiu o ego masculino dele o fato de minha irmã ter disputado para vereadora contra a vontade deles e ter sido eleita com mais votos que ele", afirmou Aline.

De acordo com o promotor de Justiça que assina a denúncia, Uilian Carlos Barbosa de Carvalho, o vereador “dolosamente almejou constranger e humilhar a vereadora eleita e a irmã dela, em razão da candidatura e eleição”. Carvalho afirmou ainda que as pessoas presentes no comício batiam palmas enquanto ele proferia as ofensas.

Além do prefeito eleito, durante as ofensas, Codó estava acompanhado do atual prefeito Evaldo Lúcio Peixoto Sena, conhecido como Vavá (Republicanos), além de apoiadores e simpatizantes.

O vereador não respondeu ao pedido de entrevista enviado pela reportagem para seu e-mail institucional. Assim que ele se manifestar, o texto será atualizado. Ele não foi localizado pelo telefone.

Alessandra Mello - Estado de Minas
postado em 18/11/2024 18:50
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