PODCAST DO CORREIO

"Trump 2.0": professor comenta as expectativas sobre as eleições dos EUA

Especialista comenta as implicações da eleição do republicano à Casa Branca

Daniel Azevedo é professor e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa de Espaço e Democracia da Geopolítica da UnB -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Daniel Azevedo é professor e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa de Espaço e Democracia da Geopolítica da UnB - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

No podcast do Correio desta quarta-feira (6/11), Daniel Azevedo, professor e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa de Espaço e Democracia da Geopolítica da Universidade de Brasília (UnB), discutiu os impactos e as consequências da recente vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Azevedo considera que o novo mandato do republicano trará dilemas distintos dos vividos durante o primeiro governo, em 2016.

O professor descreveu esse novo período como um "Trump 2.0", ressaltando que, embora seja improvável que a democracia americana seja destruída, há chances de que certas partes dela sejam comprometidas. Segundo Azevedo, o alinhamento político resultante das últimas eleições oferece a Trump um contexto favorável, que pode facilitar mudanças estruturais em diferentes esferas institucionais.

“Nos próximos quatro anos, chama mais atenção a questão do alinhamento entre Judiciário, Legislativo e Executivo em um possível 'Trump 2.0', digamos assim. Acho que o 'Trump 2.0', em termos de perigo institucional, é mais claro do que o 'Trump 1.0', que foi mais um grito coletivo de oposição pela vitória de alguém tão diferente, do que um risco real à democracia americana", pontua o professor.

"Não diria que a democracia americana está correndo risco nesse momento, porque a democracia é mais do que uma forma de governo; é mais do que uma pessoa ou um partido. Trata-se de um conjunto de instituições que funcionam — ou não funcionam — como um arranjo. Em quatro anos, é difícil alguém desmontar a democracia, mas é possível desmontar”, completa.

Para Azevedo, a campanha de Trump reforçou temas antigos e já esperados de proteção econômica e segurança nacional, mantendo o tom populista que marca a base eleitoral desde as últimas eleições. A defesa do protecionismo e da segurança nas fronteiras, somada a críticas ao sistema migratório, consolidou o apoio entre republicanos e, surpreendentemente, alcançou os próprios eleitores imigrantes que vivem na fronteira. 

"Porque parece que quem mudou mais foi o eleitor, não o Trump. Os discursos dele são muito semelhantes aos de oito anos atrás. Se você observar questões como imigração e as palavras que ele usa para falar sobre migrantes, especialmente os latinos na fronteira com o México, ou o slogan 'Make America Great Again', ele ainda sustenta essa base protecionista", detalha.

"Trump realmente está conseguindo transformar até mesmo seu partido em torno dessas bandeiras econômicas. Mas, nos últimos quatro anos, o eleitor também parece ter mudado. Há uma ativação dessas pessoas, que saem para votar com muito entusiasmo. Nos EUA, vencer uma eleição é menos sobre mudar o voto dos opositores e mais sobre mobilizar os próprios apoiadores a saírem de casa para votar. Quem é Republicano dificilmente votará em um Democrata, e vice-versa. Então, o que faz diferença é a mobilização”, pontua.

*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes

postado em 06/11/2024 18:16
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