Eleições municipais

Segundo turno: Cenário difícil para o PT nas capitais

Partido de Lula não tem nenhum candidato favorito nas quatro grandes cidades em que disputa o segundo turno, fato preocupante para a sucessão presidencial

Das quinze capitais que decidem o pleito, hoje, apenas quatro têm candidatos do PT. Especialistas avaliam que esse não é um bom sinal para a legenda. Em Cuiabá, a disputa está acirrada entre o deputado federal Abilio Brunini (PL) e o deputado estadual Lúdio Cabral (PT). Não há favoritos. Segundo os últimos resultados da pesquisa Quaest, apresentados ontem, Brunini e Lúdio estão numericamente empatados, com 50% das intenções de voto na capital.

Lula não apareceu muito na campanha de Lúdio, o que pode ser explicado pelo fato de a capital mato-grossense, fortemente influenciada pelo agronegócio, ter sido uma das mais bolsonaristas nas eleições de 2022. Chegar ao segundo turno foi visto como uma conquista da esquerda, já que, no primeiro, Brunini despontou com 39% dos votos válidos, contra 28% do petista.

A situação é similar em Fortaleza, onde o deputado federal André Fernandes (PL) e o deputado estadual Evandro Leitão (PT) também estão em empate técnico, segundo os principais institutos de pesquisa. No Datafolha de ontem, Fernandes lidera com 51% dos votos válidos, contra 49% de Leitão, configurando empate técnico. Para a Quaest, os dois estão numericamente empatados, com 50% cada um.

Em menos de três semanas, Leitão tirou praticamente toda a vantagem do candidato bolsonarista no primeiro turno (40% a 34%). Lula esteve em Fortaleza na semana seguinte à primeira rodada de votações, para participar de comício com Leitão. O atual ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará, também entrou de cabeça na campanha do petista. O governo federal entregou novos ônibus escolares e unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, na visita do presidente à capital nordestina.

A perspectiva, no entanto, não é muito positiva nas outras capitais em que o PT pleiteia a prefeitura. Em Natal, a candidata Natália Bonavides (PT) aparece com 47% das intenções de votos, atrás de Paulinho Freire (União), que tem 53%, segundo a última pesquisa Quaest feita antes do segundo turno e apresentada ontem.

Lula esteve com Bonavides, em comício, no último dia 16, quando foi ao Rio Grande do Norte anunciar investimento de R$ 318 milhões no estado, através do Novo PAC.

Aliado do governo e reeleito prefeito de Recife, João Campos (PSB) também esteve na capital potiguar para tentar alavancar a petista. "É uma alegria apoiar uma jovem política que, assim como eu, acredita no poder do trabalho e do compromisso para transformar a cidade", pontuou o político, que desponta como uma das novas lideranças de esquerda com forte apelo popular.

No outro extremo do país, em Porto Alegre, a esquerda está longe de chegar à prefeitura. A deputada federal Maria do Rosário (PT) enfrenta o atual prefeito e candidato à reeleição, Sebastião Melo (MDB). Historicamente, o PT já teve grandes nomes no comando da capital gaúcha, como Olívio Dutra e Tarso Genro, mas, desde 2005, não consegue vencer eleição na cidade.

De acordo com a última pesquisa da Quaest, em Porto Alegre, a corrida tem um franco favorito, o atual prefeito Sebastião Melo. Ele tem 63% das intenções de voto, enquanto Maria do Rosário aparece em segundo, com 37% dos votos válidos. Lula não participou da campanha eleitoral da deputada nem no primeiro nem no segundo. Ele apenas enviou alguns vídeos de apoio à candidata da esquerda.

Desde a última sexta, o presidente tem publicado alguns dos vídeos de apoio enviados aos candidatos à prefeitura do segundo turno, que não são das capitais. Ao todo, 36 cidades de médio e grande porte decidem o pleito neste domingo. Nas redes sociais, ele defendeu os candidatos petistas em Camaçari (BA), Mauá (SP), Diadema (SP), Sumaré (SP), Olinda (PE), Santa Maria (RS), Pelotas (RS) e Caucaia (CE).

Enfraquecido

Nas últimas eleições municipais, em 2020, o PT não elegeu nenhum candidato a prefeito nas capitais brasileiras pela primeira vez, desde a redemocratização. Neste ano, numericamente, o partido de Lula elevou de 183 para 248 o número de prefeituras, mas, continua sem força nas grandes cidades. Especialistas avaliam que a legenda sai enfraquecida desse pleito e que isso irá refletir em 2026.

Para o cientista político Leandro Consentino, a atitude de ceder a "cabeça" das candidaturas para outros partidos, como forma de tentar ganhar aliados em 2026, não teve efeito positivo. "Nas grandes cidades, o PT sai menor, bastante desarticulado. Tem parte de uma estratégia concebida lá atrás, de angariar aliados em 2026, que vamos ter que ver se vai valer a pena a longo prazo. Não parece um bom negócio porque perde a capilaridade", comenta.

No Rio de Janeiro, o PT abriu mão de ter uma vice-candidatura com Eduardo Paes (PSD), que ganhou no primeiro turno. Em Belo Horizonte, a legenda chegou a considerar não lançar candidato para apoiar a reeleição de Fuad Noman (PSD). Mas indicou Rogério Correia, que deixou o pleito em um frustrante sexto lugar. Neste segundo turno, o PT apoia Fuad contra o bolsonarista Bruno Engler (PL).

Centrão

Para Beatriz Nóbrega, consultora de relações governamentais, os dois exemplos mostram como essas eleições estão sendo vitoriosas para o Centrão. "Depois de toda polarização ideológica, a realidade bate à porta e o eleitor escolheu as ideias de centro. Isso trouxe uma mensagem muito forte, tanto para a esquerda, quanto para a direita, mas, principalmente, para o PT", avaliou ela.

"Cada vez mais, a esquerda precisa ser democrata, como na lógica dos Estados Unidos. É necessário aproximar a preocupação social com a lógica econômica, entender como garantir emprego e o crescimento econômico do país", apontou a consultora.

Crítico do próprio partido, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT) também vê a necessidade de autocrítica da legenda. "O PT é bom na prática, mas não consegue falar com a sociedade. O governo atual tem resultados excelentes, mas não consegue se comunicar com as pessoas", avalia o parlamentar, acrescentando que o diálogo precisa melhorar, principalmente, com a classe média "que o governo Lula ajudou a construir" e com o papel comunitário das igrejas na sociedade.

 


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