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Depois do segundo turno, briga feroz será na Câmara

Assim que as urnas decretarem os resultados, mostrando quem são os novos prefeitos e definindo a força de cada partido, o mundo da política se voltará para a sucessão de Arthur Lira. Disputa contará com a presença de novos e poderosos atores

A poucos dias do segundo turno das eleições municipais, os políticos começam a desembarcar do pleito e a se preocupar com a próxima temporada eleitoral, composta pelo seleto grupo de eleitores formado por 513 deputados e 81 senadores. A partir da semana que vem, com a definição dos novos prefeitos e o mapa da força de cada partido definido, novos padrinhos vão entrar em cena, especialmente, na corrida pela Presidência da Câmara, a mais embolada a preços de hoje.

Gilberto Kassab, comandante do PSD, jogará suas fichas na campanha do deputado Antonio Brito (PSD-BA), enquanto o Republicanos do também deputado Hugo Motta (PB) espera contar com a ajuda do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, filiado ao partido. Já o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), espera uma ajuda de aliados à direita — leia-se Ronaldo Caiado, governador de Goiás e seu correligionário —, e também da esquerda, caso do PDT, que o apoia assim que seu nome foi cogitado para a disputa.

Consenso?

Os bastidores estão em plena ebulição desde que o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), desistiu da candidatura e lançou o nome de Motta. A ideia era apresentá-lo como o nome de consenso para suceder o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Deu errado. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse que não aceitava uma definição assim, de bate-pronto.

Inconformado porque Lira prometeu-lhe apresentar como o nome de consenso, Elmar também não arredou o pé da pré-candidatura. Assim, uniu-se a Brito com o seguinte acordo: quem chegar ao segundo turno da corrida à sucessão de Lira, apoia o outro. Assim, o consenso esperado em torno de Mota não durou sequer 24 horas.

A resistência de Elmar e de Brito levou o PT a pisar no freio e não apoiar nenhum candidato no curto prazo. Conforme antecipou a coluna Brasília-DF, em 17 de setembro, os dois ofereceram a primeira-vice-presidência da Câmara aos petistas. Motta, por sua vez, foi no caminho oposto: ofereceu o cargo ao PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto. Apesar das pressões do Republicanos para que o PT aceite a secretaria-geral da Casa, a tendência é esperar. Um grupo de deputados do partido realizou um jantar com Motta e receberá Brito e Elmar em encontros separados.

Até aqui, Lira não deu uma entrevista e nem fez um pronunciamento oficial para anunciar seu apoio a Motta. Mas participou de almoço com os petistas ao lado do candidato e isso foi entendido como um apoio formal. Amanhã, os dois estarão novamente juntos em um evento do agronegócio, em São Paulo.

Na avaliação de aliados de Brito e Elmar, Motta até agora só conseguiu juntar o Republicanos e o PP do senador Ciro Nogueira (PI). O PDT já fechou com Elmar, que trabalha no mesmo caminho que Lira trilhou em 2021, quando foi eleito com o apoio formal do hoje candidato Elmar.

Aliados do União Brasil e de Brito dizem, nos bastidores, que Lira está blefando ao dizer em conversas reservadas que tem os votos para eleger Motta no primeiro turno. A corrida começou agora e, à boca pequena, a avaliação é de que a foto do deputado do Republicanos com vários líderes num almoço em Brasília, em meados de setembro, não pode ser lida como um sinal de apoio, porque era apenas para comemorar o aniversário do líder. Com essa mesma informalidade, todos os líderes foram as festas promovidas por Brito e Elmar, ambas em julho.

Com três candidatos em campo, cada segmento da Câmara coloca suas pautas importantes na roda. Valdemar Costa Neto avisou a todos que o PL apoiará quem colocar em votação a proposta de anistia aos acusados pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 — e, de quebra, uma anistia também para o ex-presidente Jair Bolsonaro, para que ele possa ser candidato ao Palácio do Planalto em 2026. Até aqui, o máximo que o partido conseguiu foi a vice-presidência da Câmara oferecida por Motta. E, se o candidato do Republicanos garantir a votação de propostas nesse sentido, perderá toda a esquerda e parte do centro que não deseja Bolsonaro candidato.

Governistas

Enquanto o Republicanos se aproxima do PL, Elmar e Brito buscam os governistas. O deputado do União Brasil tenta quebrar resistências no PT — por conta disso, esteve com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na semana passada. Ele sabe que setores petistas têm dificuldades em apoiá-lo por causa do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Antonio Brito, por sua vez, não perde uma chance de estar ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em busca do apoio do PT. Ele tem Gilberto Kassab como um padrinho, que estará em campo a partir da semana que vem para auxiliá-lo junto aos partidos de centro.

Já Tarcísio de Freitas ainda não decidiu se participará de forma ostensiva da campanha para Presidência da Câmara. Se entrar em apoio a Motta, pode espantar os demais partidos de centro e os de esquerda — o que pode ser negativo para seus planos a longo prazo. Isso porque, de todos os que estão no tabuleiro político hoje, o governador de São Paulo é visto como a grande aposta da direita para 2026.

Apesar de Bolsonaro não ter abraçado a candidatura de Ricardo Nunes à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, Tarcísio considera que o ex-presidente lhe dará um "selo de qualidade" caso seja realmente o nome do bolsonarismo para a disputa presidencial de 2026. E seu envolvimento com a corrida pelo comando da Câmara pode atrair, antecipadamente, a artilharia adversária.

As cartas que cada um tem (ou quer ter)

Antonio Brito (PSD)

Gilberto Kassab — O presidente do PSD tem trânsito da direita à esquerda do espectro político. Atualmente, ocupa o cargo de secretário de Governo e Relações Institucionais do governo de São Paulo, comandado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas. Mas seu partido tem três ministérios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Agricultura e Pecuária, Minas e Energia e Pesca). Bancou a manutenção de Brito na corrida pela sucessão de Arthur Lira. Sua legenda fez 886 prefeituras, a maior quantidade no primeiro turno da eleição municipal.

Palácio do Planalto — Brito busca o apoio do governo para sua candidatura e, por extensão, o do PT, partido do presidente Lula. Tanto que prometeu à legenda a primeira vice-presidência da Câmara caso seja eleito presidente da Casa. Esteve com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, num esforço de obter as simpatias do governo.

Hugo Motta (Republicanos)

Tarcísio de Freitas — O governador de São Paulo emerge da eleição municipal na capital paulista como o sustentáculo da campanha de Ricardo Nunes à reeleição. Mas tem pretensões a voos mais altos, em
2026 — pode ser o nome do bolsonarismo para a disputa presidencial. É do mesmo partido de Motta, mas, nos bastidores, há quem diga que não estaria tão certo assim a apoiá-lo ostensivamente para o comando da Câmara. Há quem considere que se ele entrar de cabeça para eleger o deputado sucessor de Arthur Lira, pode diminuir-lhe o leque de apoios.

Valdemar Costa Neto — O presidente do PL quer o compromisso de que, caso Motta suceda Lira, colocará em votação uma anistia para os condenados da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e, também, para o ex-presidente Jair Bolsonaro — restaurando-lhe a elegibilidade. Tais propostas, porém, podem reduzir o arco de apoios de Motta, que garantiu ao PL a primeira vice-presidência da Câmara se eleito.

Elmar Nascimento (União Brasil)

Ronaldo Caiado — Um dos expoentes do União Brasil, o governador de Goiás tem pretensões de ser o principal nome da direita para a disputa presidencial de 2026. Nos últimos meses, entrou em rota de colisão com o ex-presidente Jair Bolsonaro por questões eleitorais — apoia Sandro Mabel contra o bolsonarista Fred Rodrigues em Goiânia — e também porque quer os votos moderados da direita para pavimentar uma eventual candidatura ao Planalto. Caso Elmar conquiste o comando da Câmara, Caiado teria um aliado de peso para tentar esse voo mais alto.

PDT — O partido de Carlos Lupi, presidente nacional licenciado da legenda e ministro da Previdência Social, apoia Elmar desde que seu nome foi colocado. O PDT tem 18 deputados e integra um bloco com União Brasil, PP, Federação PSDB-Cidadania, Avante, Solidariedade e PRD, que devem fechar com Elmar. O deputado ainda tenta conquistar o Palácio do Planalto e o PT — tanto que apoia Evandro Leitão na corrida pela Prefeitura de Fortaleza.

 

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