O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (11/10) que as falas do ministro da Defesa, José Múcio, sobre a compra de blindados de Israel não abalaram sua permanência no cargo. Segundo o petista, Múcio ligou para ele "apavorado" após a repercussão.
Na quarta-feira (9), durante evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Múcio reclamou que a compra dos blindados foi travada por "questões ideológicas", o que gerou críticas contra o ministro dentro do governo.
"O José Múcio é uma pessoa que eu tenho uma amizade profunda, um respeito profundo, sabe, eu gosto muito dele. Ele me ligou apavorado dizendo 'acho que eu falei alguma coisa que não devia ter falado'. Eu falei: Múcio, não se preocupe. Aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado. Esqueça, toque o barco para frente", contou Lula em entrevista à Rádio O Povo/CBN de Fortaleza, Ceará.
O presidente lembrou que Múcio foi ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais durante seu segundo mandato, e que ele manteve a lealdade mesmo depois de deixar o governo. "Isso não abalou nada a permanência dele no Ministério da Defesa", garantiu o petista.
"Questões ideológicas"
A fala polêmica ocorreu quando Múcio discursava durante evento para firmar parceria entre a CNI e o Ministério da Defesa. Sem citar exatamente o contrato, Múcio fez referência à licitação para compra de 36 blindados da empresa israelense Elbit Systems, no valor de R$ 1 bilhão. A empresa venceu a seleção, mas a assinatura do contrato está barrada em meio à tensão diplomática com Israel.
"Houve uma concorrência, uma licitação, e venceram os judeus. O povo de Israel. Mas, por questões da guerra, do Hamas, dos grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta mas, por questões ideológicas, não podemos aprovar. O TCU (Tribunal de Contas da União) não permitiu dar ao segundo colocado, e agora estamos aguardando que essas questões passem, para que a gente possa se defender", lamentou o ministro.
Múcio já havia externado sua visão sobre a compra de blindados no passado. Ele defende a licitação, enquanto o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, aponta que não faz sentido comprar armamentos de Israel enquanto o Brasil é crítico das ações do país no Oriente Médio, como os ataques à Faixa de Gaza, Líbano, Síria, Iêmen e Irã.
Por sua posição, porém, Múcio atraiu críticas de outros ministros e de alas do PT, que pediram até sua retirada do governo. Por outro lado, a fala foi celebrada por integrantes das Forças Armadas e por empresários presentes no evento da CNI.