Nas eleições municipais de 2024, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) saiu do radar dos ataques de grupos extremistas, que em 2022 tentaram desacreditar o sistema de votação desconfinando das urnas eletrônicas. Mas não era apenas a atuação da extrema-direita que preocupava: o uso da inteligência artificial (IA) para disseminação de notícias falsas era outro fantasma — que, por sua vez, não assustou as autoridades que organizaram o pleito.
Uma das razões para a ausência de ataques à Corte deve-se ao fato de que a operacionalização e a organização das eleições municipais ficam a cargo dos tribunais regionais eleitorais (TREs) — o papel do TSE é prestar apoio logístico e institucional, e de concentrar a totalização dos votos. Mas, na avaliação do cientista político e professor da ESPM Fábio Andrade, como as eleições municipais focam apenas em pautas locais, o Tribunal Superior Eleitoral terminou por ser poupado.
“As questões são mais sobre a gestão da cidade, pautas muito particulares. Tem menos espaço para as discussões temáticas. Mesmo os candidatos mais ligados ao bolsonarismo orientaram as campanhas para uma combinação entre agenda de costumes e preocupações diretas da comunidade”, observa.
Já para o cientista político Elias Tavares, o perfil da ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, colaborou para tirar a Corte da berlinda e garantir um processo eleitoral sem ataques. “Ela tem uma abordagem muito mais tranquila e equilibrada. Sem dúvida, isso ajuda a trazer essa estabilidade. Além disso, os ataques ao TSE partiam, principalmente, da extrema-direita. Esse grupo perdeu um pouco o espaço. É um momento de reorganização para os extremos políticos e tudo isso contribui para um cenário menos turbulento”, observou.
Na eleição geral de 2022, o presidente do TSE era o ministro Alexandre de Moraes, até hoje considerado inimigo figadal da extrema-direita. Tanto que no último 7 de Setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro organizou seus apoiadores na Avenida Paulista com a pauta de pedir o impeachment do magistrado.
Outro temor do TSE era de que a desinformação e o uso irregular da inteligência artificial se refletissem na corrida eleitoral. Ao assumir a presidência da Corte, em junho passado, Cármen falou em um “desaforo tirânico” por parte das redes sociais. Em fevereiro, o tribunal proibira as “deepfakes” — a manipulação maliciosa de imagens e vozes por meio de IA — em propagandas eleitorais.
No domingo pós-votação, Cármen salientou que esse o temor em relação à inteligência artificial não se concretizou. “A preocupação inicial era enorme. Entretanto, não aconteceu o que era inicialmente previsto, de ter um superuso de inteligência artificial”, explicou a ministra.
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