Entrevista | diretor-executivo do Renova BR

Rodrigo Cobra: 'Redes não substituem olho no olho'

Apesar dos avanços tecnológicos, contato direto com o eleitorado ainda é o fator mais importante para a conquista do voto — diz o CEO da principal escola de líderes políticos do país

Maior escola de formação de lideranças políticas do país, o Renova BR entrou em modo de alta ansiedade. Nada menos que 1.470 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador em 680 cidades do país saíram das salas de aula do think tank sediado em São Paulo. O desempenho dos alunos nas urnas, amanhã, será acompanhado com lupa e em clima de torcida, em um comitê montado especialmente para isso. Na visão do diretor-executivo do Renova BR, Rodrigo Cobra, a eleição é uma espécie de prova final do curso de líderes. “A gente vai comemorar não só o aumento do número de candidaturas, como o de candidatos e eleitos”, disse Cobra. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Para uma escola formadora de lideranças políticas, eleição é uma espécie de prova de fim de ano. Como o senhor vê a presença dos alunos nesta reta final das eleições municipais?

Realmente é um momento de teste. Agora é que os resultados vão aparecer, mas há outros resultados que estão aparentes. Chegamos a mais de 40% de candidatas mulheres, também ultrapassamos os 40% de candidatos pretos, pardos e indígenas do Renova BR. Isso é um bom resultado e faz parte desse teste. É importante a gente ter não só mais mulheres, negros e indígenas como alunos, mas ter mais candidatos. Falando de amanhã, é um teste, mas, também, é uma comemoração. O Renova BR faz sete anos de existência no dia da eleição, e a gente espera comemorar não só o aumento do número de candidaturas como o de eleitos.

Quantas cidades contam com alunos do Renova?

São 680, com 1.271 candidaturas a vereador, 139 a prefeito e 60 a vice-prefeito. E a gente espera manter os atuais eleitos. Temos 156 no nível municipal e esperamos que essas pessoas se reelejam, no mesmo percentual que foi nos outros anos, que é de eleger 15% (dos alunos).

Uma característica do Renova BR é não estar vinculado a ideologias ou partidos políticos. A polarização ideológica, que chegou a interditar o diálogo democrático, arrefeceu ou o país ainda está cindido?

Quando a gente fala das cidades menores, a questão ideológica diminui em importância. Nas médias, vemos mais influência da dicotomia entre os líderes nacionais — aqui falamos dos grupos ligados ao presidente Lula e ao ex-presidente Bolsonaro. Mas, quando a gente vai para as capitais, a questão ideológica se mantém. Essa proximidade das narrativas com as questões nacionais, com o ex e com o atual, fica bem evidente. Aqui em São Paulo é bem forte.

Por falar em São Paulo, duas alunas do Renova estão na disputa — Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Pelas pesquisas, não vão para o segundo turno. Mas a campanha deu muita visibilidade às duas, que enfrentam os três candidatos homens que lideram as pesquisas. Como o senhor vê esse desempenho?

Marina e Tabata muito nos orgulham. A gente acompanha essas candidaturas sempre expondo, em relação às demais, uma qualidade evidente no que diz respeito às propostas. É muito positivo ver, principalmente nos debates de exposição nacional, nossas alunas e alunos brilhando com suas propostas. Logicamente, enfrentam as dificuldades inerentes de um pleito majoritário — não é fácil sustentar uma eleição no nível das capitais.

Como o senhor vê o vale-tudo nas redes sociais? Os alunos do Renova estão preparados para essa guerra quase sem regras no ambiente digital?

Estão preparados, para atacar dentro da lei, das resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, dos TREs, e, principalmente, para se defender. Nossos alunos tiveram aulas sobre o que pode e o que não pode ser feito, e como fazer as denúncias à Justiça Eleitoral. Aprenderam como utilizar a inteligência artificial (IA) dentro da lei, como utilizar os recursos das redes sociais impulsionando os conteúdos. Foram preparados para isso e, principalmente, para colocar o que aprenderam no Renova dentro das redes sociais.

O que o seu time observou de novidade nesta eleição que não havia na anterior?

O volume das campanhas de rua tem diminuído de maneira visível. Por incrível que pareça, há menos campanha de rua do que em 2020, quando tivemos a pandemia e todas as suas limitações, principalmente no Centro- Sul. Há menos material de campanha sendo distribuído, menos bandeiras sendo abanadas.

E a importância da propaganda no rádio e na teve? Diminuiu com o avanço das redes sociais?

Continuamos entendendo que essa publicidade é importante e pode mudar uma eleição. Jamais as redes sociais substituirão o olho no olho. Em municípios maiores, é uma ótima ferramenta de distribuição de conteúdo em massa. Nos menores, é mais complementar ao dia a dia da campanha.

Os alunos do Renova são atuantes nas redes sociais, é uma característica da nova geração de políticos. A novela do X (ex-Twitter) é um exemplo do que acontece em um mundo sem regras claras, em que a Justiça acaba sendo chamada para preencher as lacunas da regulação. Como os alunos encaram esse tipo de debate?

Uma parte dessa história é agir com ética e bom-senso. Mas existem crimes que não precisam dessa regulamentação, são crimes na vida real. Se você ataca a honra de alguém em uma rede social é igual a atacar no mundo físico. Da mesma forma, não há cabimento que, em questões relacionadas a crianças e adolescentes, as redes deixem de seguir decisões judiciais importantíssimas.

Política é discussão, negociação e tolerância em favor de um bem maior para a sociedade. Seus alunos trabalham esses temas da essência política? Os eleitores conseguem perceber essa diferença?

Sim. Comecei a fazer política distribuindo panfletos nas ruas. Se o panfleteiro distribuir santinhos sem vontade de participar daquela campanha, o candidato sairá derrotado. E os nossos alunos são os que melhor conversam com os eleitores na rua.

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