CASO MARIELLE

Entenda por que Marielle foi importante para Rivaldo Barbosa

Em depoimento ao STF, Rivaldo Barbosa fez agradecimentos à Marielle e se esquivou das acusações sobre o envolvimento dele no assassinato da vereadora

Durante o interrogatório do STF na quinta-feira (24/10), Rivaldo Barbosa, acusado de ter auxiliado no planejamento do homicídio de Marielle, relembrou da importância que a vereadora teve em um momento-chave da carreira dele na polícia  -  (crédito: Dayane Pires/CMRJ)
Durante o interrogatório do STF na quinta-feira (24/10), Rivaldo Barbosa, acusado de ter auxiliado no planejamento do homicídio de Marielle, relembrou da importância que a vereadora teve em um momento-chave da carreira dele na polícia - (crédito: Dayane Pires/CMRJ)

Durante o interrogatório do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (24/10), Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ), acusado de ter auxiliado no planejamento do homicídio de Marielle Franco, relembrou da importância que a vereadora teve em um momento-chave da carreira dele na polícia. Então assessora parlamentar do ex-deputado federal Marcelo Freixo, Marielle viabilizou a entrada de Rivaldo, na época delegado da Divisão de Homicídios (DH), dentro do Complexo da Maré, depois da chacina de 2013. 

A chacina, que vitimou 10 pessoas, teve início com uma operação do Bope na região, na noite de 24 de junho daquele ano. Segundo a organização não-governamental Redes da Maré, o “episódio deu visibilidade à violência que na época caracterizava os conflitos entre os grupos criminosos armados e as polícias”.

Nascida e criada no Complexo da Maré, Marielle trabalhava na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e exerceu um papel fundamental na integração policial dentro da comunidade depois do ocorrido. 

“Marcado pela dor e perda de vidas como tantos outros, o evento foi, no entanto, singular pela forma como a população local se mobilizou para impedir uma tragédia maior e garantir alguma repercussão dos eventos ocorridos. O episódio também foi peculiar pela forma — claramente, em consequência da mobilização dos moradores — como se iniciaram as investigações realizadas pela Polícia Civil, através da Divisão de Homicídios, DH”, descreveu a ONG.

Em razão dessa relação antiga entre Marielle e Rivaldo, o anúncio da prisão dele, em 24 de março deste ano, surpreendeu a família da vereadora. Segundo Marinete Silva, mãe de Marielle, o ex-chefe da PC tinha uma relação próxima à filha e esteve junto à família após o assassinato, prometendo investigar e trazer respostas sobre crime. 

"A minha filha confiava nele e no trabalho dele. E ele falou que era questão de honra elucidar [a morte da vereadora]. A Marielle, além dele confiar, garantiu a entrada do doutor Rivaldo no Complexo da Maré depois de uma chacina para ele entrar e sair com a integridade física garantida", disse Marinete em entrevista à GloboNews, no dia da prisão do policial.

Na foto, o então delegado Rivaldo Barbosa se reúne com os pais de Marielle e o ex-deputado Marcelo Freixo, em abril de 2018, um mês após o assassinato.
Então delegado Rivaldo Barbosa se reúne com os pais de Marielle e o ex-deputado Marcelo Freixo, em abril de 2018, um mês após o assassinato (foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil)

Quando o anúncio da prisão de Rivaldo foi feito, o ex-deputado federal e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, se manifestou, acusando a Divisão de Homicídios de ter sido “o verdadeiro escritório do crime” e que a prisão do ex-chefe da PCRJ explica "porque ficamos seis anos sem saber quem mandou matar Marielle".

Depoimento ao STF

Marielle trabalhou para Freixo por 10 anos, desde 2006. Em depoimento ao Supremo, Rivaldo contou que soube da morte dela pelo ex-deputado federal por meio de uma ligação. “Eu estava na sala do chefe de polícia e montei o gabinete de crise”, disse. Além do envolvimento no crime, o ex-chefe da PCRJ também é acusado de ter atuado para evitar o esclarecimento do assassinato e de prometer imunidade aos mandantes, os irmãos Brazão, segundo inquérito da Polícia Federal.

"Hoje, saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu, tem envolvimento nesse mando é para nós entender que não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. A Polícia Civil não apenas errou, mas foi também cúmplice desse processo", ressaltou Mônica Benicio, viúva de Marielle, à época do anúncio da prisão de Rivaldo.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 25/10/2024 13:11 / atualizado em 25/10/2024 13:13
x