Acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão afirmou que foi delatado por Ronnie Lessa porque o ex-policial militar precisava "encontrar uma saída" para a situação dele. Ressaltou que o ex-PM já estava preso por outros crimes quando foi apontado como o autor dos disparos que mataram a vereadora e o motorista dela, Anderson Gomes.
As declarações do conselheiro foram dadas em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse que não conhece Ronnie Lessa, repetindo o que disse o irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido), também suspeito de ser mandante do homicídio. Na segunda-feira, em depoimento ao STF, o parlamentar enfatizou não conhecer o delator.
Domingos Brazão negou envolvimento no homicídio e afirmou: "Eu preferia ter morrido no lugar da Marielle".
O conselheiro disse que a primeira vez que viu Lessa foi em transmissões de televisão, após o crime. Questionado sobre o motivo de ter sido incriminado pelo ex-PM, o conselheiro afirmou que foi por ser "o lado mais vulnerável".
"Nunca vi esse senhor. A primeira vez que vi a imagem do Ronnie Lessa, me parece que foi no IML. Parecia que ele estava saindo do exame de corpo de delito. Vi na televisão", sustentou o conselheiro, que, a exemplo do irmão, também chorou na audiência, ao citar os filhos.
Segundo ele, a delação foi uma tentativa de Lessa de se livrar das acusações. "Penso eu que isso só passou na cabeça dele após a delação do Elcio (Queiroz). Quando o Elcio delata ele, ele tinha de buscar uma saída para resolver o seu problema. Ele é do Rio e acompanhou muitas coisas. O vereador Marcello Siciliano, que era amigo dele de copo (de bar), disse que eu era metido", completou Brazão.
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Ele classificou como "narrativa" a delação de Lessa. "Um marginal sem escrúpulos, preparado, que conhecia os dois lados, tanto da polícia, das duas polícias, deve ter percebido a oportunidade. Mas não tem nada maior que a verdade. Então ele construiu uma narrativa", frisou. "Parte dessa história é verdade. Ele realmente matou, com o Élcio. Ele começa a mentir para proteger seu comparsa, se dar bem e empurrar essa situação para quem estiver mais vulnerável."
Questionado sobre o motivo que levaria Lessa a incriminar, também, Chiquinho Brazão, respondeu: "Acredito que primeiro ficou só eu. Foram vários anos em cima de mim. Essa questão do meu irmão apareceu no último mês. Eu acredito que buscaram ali um caminho. Acho que uma das coisas é porque o Chiquinho tinha sido vereador, ao lado dela. Em 2017, o Chiquinho pouco estava indo à Câmara. Ele já estava rodando o estado. Botaram a tese de que a Marielle iria atrapalhar os planos futuros do Chiquinho. O plano futuro do Chiquinho era Brasília".
Conforme Brazão, a citação ao irmão dele foi uma maneira de levar o caso para julgamento no Supremo. "Não vejo outra coisa, pois isso ficou no STJ (Superior Tribunal de Justiça) não sei quanto tempo. Em quatro dias, foi decidido no STF. Não estou criticando, mas em quatro dias foi homologado e saiu isso daí."
Domingos Brazão foi ouvido no STF pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
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