Em mais um movimento de aproximação dos evangélicos — segmento em que enfrenta forte rejeição —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nesta terça-feira, o Projeto de Lei (PL) nº 3.090/2023, que instituiu o Dia Nacional da Música Gospel, a ser celebrado em 9 de junho. Na solenidade, no Palácio do Planalto, o chefe do Executivo recebeu rasgados elogios do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), um ferrenho bolsonarista, que criticava duramente o petista.
De Paula discursou no evento como representante do presidente da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara, Silas Câmara (Republicanos-AM), que se recupera de cirurgia.
"Senhor presidente, quis Deus que eu, que fui um dos maiores defensores do antigo governo e seu crítico político, estivesse hoje aqui para representar a Frente Parlamentar Evangélica. E, neste momento, já fora do palanque eleitoral, me dirijo não ao Lula, do Partido dos Trabalhadores, mas ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, que, enquanto estiver ocupando este cargo por força de nacionalidade, é meu presidente também", iniciou o parlamentar.
Ele destacou a postura do chefe do Executivo em relação às religiões. "Presidente Lula, Vossa Excelência é a prova de que é possível divergir politicamente durante as eleições, sem permitir, contudo, que as paixões eleitorais contaminem a gestão governamental, que deve cuidar e olhar a pluralidade, seja cultural, seja religiosa desse imenso Brasil", frisou. "A igreja, senhor presidente, não é de direita ou de esquerda, e não é desse partido ou daquele outro partido. Não somos gados ou jumentos, somos ovelhas do bom pastor. Presidente Lula, se aproxime sem reserva, se aconchegue, tem lugar na mesa do Pai para termos comunhão."
O deputado destacou a resistência dos evangélicos a Lula nas eleições de 2022 — o apoio foi, em peso, para o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, afirmou que o segmento é um dos "mais contemplados pelos programas sociais" do governo.
"A maioria dos evangélicos desta nação não votou em Vossa Excelência, e o senhor sabe disso. Mesmo assim, talvez estejamos entre os brasileiros mais contemplados pelos programas sociais de seu governo, já que os mais pobres e necessitados, os quais Jesus sempre dedicou a maior parte do seu tempo, formam a maioria esmagadora de nossos irmãos", enfatizou. "Graças à visão social de seus governos que essa gente humilde de Deus tem o poder ou tem condições de comer, por causa do Bolsa Família, e onde morar, por causa do Minha Casa, Minha Vida."
Conforme De Paula, "também graças a essa visão social é que nossas igrejas passaram a ter mais doutores e professores, gente que jamais poderia ter um diploma de curso superior se não fosse a visão do governo de Vossa Excelência". "Por isso que, independentemente de nunca ter votado em Vossa Excelência, mas em nome da minha consciência cristã, quero lhe agradecer, presidente."
Atritos
Desde o fim do governo anterior, De Paulo tem trocado alfinetadas com a família Bolsonaro, que culminaram no rompimento durante a campanha municipal deste ano. O motivo foi o apoio do parlamentar ao prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), candidato de Lula. Paes derrotou o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL), diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no governo do ex-presidente.
Lula não respondeu diretamente a De Paula em seus discursos. Porém, posteriormente, fez uma publicação nas redes sociais com trechos das falas do parlamentar a favor de seu governo.
"Durante a sanção do Dia da Música Gospel, hoje (nesta terça-feira), o deputado Otoni de Paula, que representou a Frente Parlamentar Evangélica, lembrou que nos nossos governos foi garantida, por lei, a liberdade religiosa, para que os brasileiros pudessem professar sua fé. E também quanto os programas sociais beneficiam os que mais precisam. Governamos para todos os brasileiros", escreveu.
No mês passado, Lula sancionou uma série de leis batizadas de "pacote cristão" — que contou com a criação do Dia do Pastor e da Pastora e o reconhecimento de expressões cristãs como manifestação cultural nacional. A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) também tem sido uma importante ponte de apoio para o governo com o segmento, pois é coordenadora do núcleo evangélico do PT.
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