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Análise: segundo turno desafia Lula a ampliar alianças

A principal força municipalista do país agora é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, chefe da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas. Desbancou o MDB

entrelinhas0810 -  (crédito: kleber sales)
entrelinhas0810 - (crédito: kleber sales)

Três disputas eleitorais de segundo turno, em 27 de outubro, desafiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ampliar suas alianças para evitar uma fragorosa derrota política para seus dois principais adversários, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado decisivo do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, grande responsável pelo desempenho eleitoral do PL no primeiro turno, ao lado do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Em São Paulo, Nunes e Guilherme Boulos (PSol) se enfrentarão novamente, com Pablo Marçal (PRTB) fora da disputa, porém, com grande poder de influência. Marçal ficou fora do segundo turno porque o feitiço virou contra o feiticeiro, quando fez circular nas redes sociais fake news, na véspera da eleição, com base em documento falso, acusando Boulos de ter sido internado drogado numa clínica de recuperação. A denúncia caluniosa provocou forte reação na campanha de Boulos, que liderava a disputa e poderia até ficar fora do segundo turno, e dos demais candidatos, entre os quais o prefeito Nunes, que criticou duramente Marçal e avançou para a primeira colocação.

Com 28% dos votos, Marçal poderá ser influente no segundo turno, porém, muito tóxico. O ex-presidente Jair Bolsonaro, de pronto, descartou o apoio formal do influenciador a Nunes, com o argumento de que os votos de extrema-direita virão por gravidade para o prefeito. No PT, busca-se uma narrativa capaz de capturar os eleitores que optaram por apoiar a candidatura de Marçal por descontentamento em relação à administração e não por razões ideológicas. É uma manobra muito arriscada, que pode virar um tiro no pé.

O grande desafio de Boulos para derrotar Nunes no segundo turno é atrair o eleitorado de centro, que já deriva para o prefeito, em todas as pesquisas de opinião. O engajamento efetivo do presidente Lula na campanha de Boulos pode transformar uma eventual derrota em São Paulo num desastre político para o Palácio do Planalto. Esse é o tipo de decisão estratégica que costuma ser tomada com base em pesquisas. É a bala de prata que não pode errar o alvo.

O resultado geral do primeiro turno mostra que o presidente Lula saiu enfraquecido no confronto com Bolsonaro, apesar de o PT ter aumentado o número de prefeitos eleitos: 248. O PL elegeu 510. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, o PL participará de 23 das 51 disputas pelas prefeituras. Em apenas duas, haverá confronto direto entre o PL e o PT: Fortaleza (CE) e Cuiabá (MT).

Em Fortaleza, André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) foram os mais votados. O atual prefeito, José Sarto (PDT), candidato à reeleição, teve apenas 12% dos votos. O grande derrotado no primeiro turno foi o ex-prefeito e ex-governador Ciro Gomes, aliado de Sarto, que agora está diante de uma "escolha de Sofia": apoiar Lula ou Bolsonaro. Em Cuiabá, Abílio Brunini terminou como mais votado, com 39% dos votos válidos, seguido por Lúdio Cabral (PT), que teve 28%. Eduardo Botelho (União Brasil) terminou com 27% dos votos válidos e teve chances reais de ir ao 2º turno. Sua participação no segundo turno pode definir a eleição.

PSD desbanca MDB

A principal força municipalista do país agora é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, chefe da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas. Desbancou o MDB, que durante 20 anos foi o partido mais influente nas cidades brasileiras. O PSD elegeu 878 prefeitos, ao passo que o MDB, 847. Esse resultado reforça o centro político nas disputas que virão em 2026 e contribui para evitar a radicalização do processo político brasileiro. O terceiro lugar ficou com o PP, partido do ex-senador Ciro Nogueira (PI), aliado de Bolsonaro, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), com 743 prefeitos eleitos. O União Brasil ocupa a quarta posição, com 578 prefeitos, seguido do Republicanos, 430; PSB, 309; e PSDB, 269. Foram eleitas 724 mulheres, contra 656 nas eleições passadas.

Havia muita expectativa quanto à influência das emendas impositivas na eleição de prefeitos, em função de que a transferência de recursos de investimento do Orçamento da União para os municípios agora ocorre em função dos interesses eleitorais dos deputados federais. Essa mudança reduziu muito o controle dos governadores sobre a destinação dessas verbas e, consequentemente, sua influência nas eleições municipais. Entretanto, dos 68 parlamentares que disputaram as eleições, apenas oito se elegeram no primeiro turno.

Foram eleitos os deputados Alberto Mourão (MDB), em Praia Grande (SP); Gerlen Diniz (PP), em Sena Madureira (AC); Washington Quaquá (PT), Maricá (RJ); Dr. Benjamin (União), Açailândia (MA); Hélio Leite (União), Castanhal (PA); Carmen Zanoto (Cidadania), em Lages (SC); e Nitinho (PSD), vereador de Aracaju (SE). O senador Rodrigo Cunha (Podemos) foi eleito vice-prefeito de Maceió (AL), na chapa de JHC (PL). Foram derrotados os senadores Carlos Viana (Podemos) em Belo Horizonte, Eduardo Girão (Novo) em Fortaleza (CE) e Vanderlan Cardoso (PSD) em Goiânia (GO). A candidatura de Antônio Nicoletti (União) à prefeitura de Boa Vista (RR) foi cassada pela Justiça Eleitoral.

 

 

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postado em 08/10/2024 03:55
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