A tensão regional causada pela Venezuela será um dos temas centrais na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao México, hoje. Ele vai participar da posse da nova presidente, Claudia Sheinbaum, na terça-feira, com a presença de pelo menos outros 16 líderes latino-americanos e caribenhos. Antes da solenidade, porém, vai conversar em separado com Manuel López Obrador — que ainda ocupa a cadeira — e sua sucessora, e encontrará os demais chefes regionais.
O petista tem interesse em trazer o governo mexicano de volta para a sua proposta de negociação com o presidente Nicolás Maduro, que está empacada. Brasil, México e Colômbia atuaram em conjunto durante a crise, em contraponto a países que condenaram Maduro por fraude na eleição. Obrador, porém, deixou a mesa de negociação em agosto.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, não há previsão de atos ou pronunciamentos oficiais envolvendo a Venezuela. O tema será tratado nos bastidores. "Claro que o Brasil considera que, quanto mais países… E se têm três países com as características de Brasil, Colômbia e México, isso te dá mais alavancagem para mostrar que é uma questão de âmbito regional", respondeu a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, ao ser questionada se o Brasil quer trazer o México de volta à negociação.
"Obviamente que haverá conversas, e obviamente que o Brasil gostaria de estar junto com seus parceiros na América Latina em um tema da região. Sim, a gente gostaria de trabalhar com nossos grandes parceiros em um tema delicado", confirmou a diplomata. A saída de Obrador do grupo foi atribuída pela chancelaria brasileira à proximidade com a troca no cargo. Sheinbaum declarou, no passado, que a crise na Venezuela deveria ser tratada por organizações internacionais e pelas instituições venezuelanas.
O diálogo sobre Venezuela em uma agenda regional contrasta com a participação de Lula na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde o tema não foi mencionado. O chefe do Executivo chegou mesmo a ser cobrado pelo presidente chileno, Gabriel Boric, durante evento em defesa da democracia, paralelo à Assembleia, organizado por Brasil e Espanha.
Atualmente, a tentativa de manter diálogo entre Maduro e oposição é feita pelo petista e pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Porém, as negociações foram frustradas e vivem um impasse atualmente. A diplomacia brasileira considera que nenhum dos lados, mas especialmente Maduro nas últimas semanas, demonstrou vontade de negociar.
Petro também estará presente na posse de Sheinbaum, assim como os chefes de Estado e Governo da Bolívia, Chile, Cuba, Guatemala, Honduras, Paraguai, República Dominicana, Belize e Dominica, entre outros. Segundo o Itamaraty, não há no momento previsão de encontros bilaterais com Lula com outros líderes durante a viagem. Porém, em entrevista à CNN, Petro confirmou que se reunirá com o petista para discutir Venezuela.
Comércio
Lula embarca para a América Central hoje, perto do meio-dia, e chega à Cidade do México após 12 horas de voo. A agenda será simples, e começa amanhã (30). Ele terá primeiro reunião com o atual presidente, Manuel López-Obrador, e depois com a ainda presidente eleita. Depois, no final da tarde, encerra o Fórum Empresarial México-Brasil. À noite, irá a jantar oferecido pelo governo mexicano aos chefes de Estado que foram prestigiar a posse. Na terça-feira ocorre a cerimônia propriamente dita, e Lula volta no início da tarde, assim que o evento acabar.
Além da tensão regional, Lula tratará da relação Brasil-México. Para o Itamaraty, o diálogo é central para firmar a ponte entre os países da América do Sul e os da América Central e Caribe, já que ambas são as maiores economias de suas regiões. Também há planos para expandir as trocas comerciais a partir do ano que vem. O México é o sexto maior parceiro comercial do Brasil, e quinto maior destino das exportações brasileiras. Em 2023, houve um fluxo de US$ 14 bilhões, 15% a mais em relação a 2022. Também é considerado um comércio de alto valor agregado, já que o Brasil vende produtos industriais.
Padovan destacou o acordo ACE 53, de complementaridade econômica entre os dois países. "A ideia é ampliar o número de linhas tarifárias, porque o acordo abrange só 13% das linhas com benefícios de comércio ou tarifas mais baixas, e é muito restrito", explicou a embaixadora. Outro mecanismo que precisa ser expandido é o ACE 55, que trata da exportação de automóveis brasileiros e peças para o México — o objetivo é modernizar o documento e incluir carros elétricos e híbridos.
Segundo a secretária do Itamaraty, porém, não há previsão de assinatura de acordos na viagem, pois o governo mexicano está "com as mãos cheias" em preparação à troca de governo.
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