Eleições municipais

Mesmo com Lula, PT perde força até nas capitais no Nordeste

Sem o protagonismo vivido 20 anos atrás, o Partido dos Trabalhadores pode repetir o fiasco do pleito de 2020 para prefeituras de capitais. Para especialistas, falta renovação de lideranças

O Partido dos Trabalhadores viu, nas duas últimas décadas, uma diminuição drástica no número de prefeituras comandadas pela sigla. Em 2004, levou 411 prefeituras, sendo nove capitais. Já em 2020, esse número diminuiu para 183, sem nenhuma capital. Este ano, segundo as pesquisas, o PT tem chance de eleger prefeitos em quatro capitais nas eleições municipais, mas a tendência é de derrota.

Na maior cidade do país, São Paulo, o partido sequer tem um candidato próprio concorrendo nas eleições municipais. A legenda apoia a candidatura de Guilherme Boulos, do PSol, que concorre com a vice petista Marta Suplicy. O PT, no passado, conseguiu emplacar grandes nomes na cidade, como Fernando Haddad, em 2012.

Goiânia também chama atenção, sendo a cidade em que o PT chega mais perto da liderança nas pesquisas. Sandro Mabel (União Brasil) e Adriana Accorsi (PT) aparecem empatados tecnicamente, segundo a última pesquisa Quaest. Mabel aparece com 24% das intenções de voto enquanto Accorsi, tem 22%. A margem de erro é de três pontos percentuais. Mesmo assim, em um possível segundo turno, a pesquisa mostra a derrota da petista.

Em Porto Alegre, por sua vez, Maria do Rosário (PT) sofre uma queda vertiginosa nas pesquisas desde o começo da campanha. Em 27 de agosto, ela marcava 31% das intenções de voto, contra 36% de Sebastião Melo (MDB). Na última pesquisa, porém, Rosário marcou apenas 24%, contra 41% do candidato emedebista.

Até mesmo no Nordeste, onde Luiz Inácio Lula da Silva foi campeão nas eleições de 2022 em todos os estados, o partido não aparece em primeiro lugar em nenhuma capital. Em Teresina (PI), cidade dada como certa de uma vitória petista, o candidato da sigla, Fábio Novo, figura em segundo lugar, com 40%, contra 44% de Silvio Mendes (União).

Os números vão de encontro ao que Lula prometeu em dezembro do ano passado, quando garantiu que o partido teria uma "extraordinária vitória nessas eleições". "O que eu prometo é ser um bom cabo eleitoral", disse o presidente na ocasião.

O coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT, senador Humberto Costa (PE), comentou ao Correio no início de setembro que o foco da legenda no Nordeste seria nas capitais. "Estamos apostando em bons resultados. Para nós, isso é muito importante porque é uma base de sustentação importante da esquerda, do PT, do próprio presidente Lula. Nós queremos ganhar algumas dessas capitais", afirmou.

Coalisão

Para o cientista político Magno Karl, a postura do PT nas eleições municipais reflete a decisão de o partido tomada nos anos 2000 de focar mais nas eleições presidenciais. "A estratégia do PT consistia basicamente em fazer alianças com outros partidos para as eleições municipais e estaduais para que esses outros partidos apoiassem o PT nas eleições nacionais", explica.

"É uma política de alianças do PT que não é nova, que vem pelo menos desde 2002 e que o partido mantém por acreditar que o resultado das eleições nacionais é estrategicamente mais importante para a legenda do que vencer prefeituras ou governos estaduais", reforça Karl.

Na avaliação do cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, André César, essa queda no número de candidatos petistas vencedores indica um problema de renovação de lideranças, do discurso dos candidatos para os seus eleitores, bem como um certo distanciamento do lulismo.

"O próprio Lula não se envolveu tanto porque ele sabe das dificuldades dos candidatos do partido, que eles estão enfrentando. Ele não quer se expor também, talvez queimar um pouco a imagem dele, então ele se afasta", aponta César.

Karl complementa que nos últimos 20 anos, o petismo aparece subjugado ao lulismo. "Porque ao abrir mão de competir nas cidades e em alguns governos estaduais, o PT está subjugando o seu projeto próprio de partido em favor do lulismo, em favor da promoção das possibilidades do partido eleger o presidente da República."

O consultor político Rodriggo Morais diz ser importante lembrar que o governo Lula 3.0 não é necessariamente um governo petista, mas uma coalisão formada a partir de uma "frente ampla partidária". "Diferentemente dos demais governos petistas, a atual capacidade de Lula de se valer da máquina federal para fortalecer as campanhas municipais é muito limitada. Em termos de execução orçamentária, principalmente desde o advento do chamado orçamento secreto, o Congresso e os partidos adquiriram muitas prerrogativas de controle do Orçamento federal, enquanto o Executivo vem perdendo a capacidade sobre este mesmo Orçamento", analisa.

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