A violência tornou-se a marca da eleição municipal deste ano. Prova disso é que um estudo do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE) levantou que 128 casos de agressão relacionados à política foram identificados no último trimestre de 2024. O número representa um aumento de mais de 100% em relação ao trimestre anterior.
Miguel Carnevale, pesquisador do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), aponta que esse tipo de violência traz danos diretos às eleições e à democracia como um todo. “Trata-se de um fenômeno que tende a florescer em contextos de inaptidão ou omissão institucional no combate e na prevenção da radicalização de disputas políticas”, adverte.
Na terça-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou o envio de forças federais para reforçar a segurança de locais de votação no primeiro turno das eleições municipais. Segundo Carnevale, essa atitude atesta a gravidade do momento, mas, ao mesmo tempo, indica que as instituições estão atentas ao problema.
Partidos
O estudo do Observatório traz, também, a informação de que PL, PSB e PP foram os partidos que mais tiveram políticos vítimas da violência. Carnevale explica que, apesar da diferença ideológica entre as legendas — apenas PL e PP pertencem ao mesmo espectro de direita —, isso se mistura em coligações e alianças a nível local.
“A violência política em ano de eleições municipais traz desafios extras ao processo de monitoramento do fenômeno. A municipalidade brasileira é heterogêneas, em especial no que tange à política. Com as eleições, é possível que tenhamos um padrão ideológico-partidário mais claro”, explica.
Segundo o estudo, os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador estão no centro da violência. A razão disso seria porque estão na base da estrutura política nacional — e fazem o contato direto com o eleitor, seja na eleição municipal, seja no pleito nacional.
“É raríssimo que lideranças estaduais ou federais sejam vítimas. Disputas político-econômicas e a presença do crime organizado contribuem para essa maior vulnerabilidade das lideranças municipais”, observa.
O estudo também mostra que o percentual de mulheres vítimas da violência política aumentou 14 pontos percentuais, em comparação com o trimestre anterior. “Elas enfrentam desafios diários não somente para alcançar os cargos, mas, principalmente, na manutenção e consolidação desses mesmos postos”, afirma.
Sobre polarização, Carnevale destaca que continua sendo um traço da política brasileira. “Neste ano, é possível observar contornos polarizados nos episódios violentos. Isso tende a ocorrer, inclusive, fora da dinâmica esquerda x direita. O caso da cadeirada do José Luís Datena no Pablo Marçal é um exemplo”, salienta.
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