O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitará tratar da crise na Venezuela na passagem por Nova York, nesta semana, onde participa da Assembleia-Geral das Nações Unidas — cuja abertura é amanhã. A tentativa de mediação proposta pelo Brasil e pela Colômbia entre o presidente Nicolás Maduro e sua oposição chegou a um impasse depois que os dois lados recusaram a possibilidade de refazer as eleições. Nas últimas semanas, Lula não comentou a crise, mas disse, no início da semana passada, que as relações com a Venezuela não serão interrompidas, independentemente de quem esteja no governo.
Segundo o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Márcio Cozendey, apesar de Lula não tratar diretamente do tema, a comitiva brasileira deve discutir a situação venezuelana com outros países. Porém, é uma oportunidade de explicar as razões para o princípio de "congelamento" das relações entre Brasília e Caracas.
"O governo brasileiro parece determinado a manter sua postura de neutralidade, com o objetivo de ser visto como um mediador potencial na crise venezuelana. Esse desejo de exercer uma liderança nas negociações regionais justifica, em parte, a abordagem mais cautelosa e silenciosa do Brasil", avalia o especialista em política internacional Luizio Felipe Rocha.
Isso não quer dizer que a ditadura venezuelana não será abordada, mesmo lateralmente. Lula participa de uma mesa redonda organizada pelo Brasil e pela Espanha para discutir os perigos da extrema direita e as ameaças à democracia. Um dos temas do encontro é a garantia de eleições livres, que as Nações Unidas acusam Nicolás Maduro de ter feito. O governo espanhol concedeu asilo ao candidato de oposição à Presidência venezuelana, Edmundo González.
Para o cientista político Leandro Consentino, a situação dá margem para que exijam do país uma posição mais firme em relação à ditadura venezuelana. "Pode haver uma cobrança quando o Brasil for falar em questões relacionadas à democracia, dada a contradição óbvia de defender Maduro e afirmar valores democráticos", explica.
Lula endureceu o discurso contra Maduro, mas não classifica seu governo como ditadura nem o acusa diretamente de fraude às urnas. Diplomatas acreditam que está clara a falta de disposição de Maduro para negociar e que as atas eleitorais não serão divulgadas. Ainda assim, segundo fontes do Itamaraty, a diplomacia brasileira continua atuando nos bastidores para uma mudança no quadro.
Violações
A agenda de Lula na ONU ocorre poucos dias depois da divulgação de um novo relatório sobre a Venezuela. O documento foi produzido por uma missão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em parceria com entidades do país. A investigação foi realizada entre setembro de 2023 e agosto deste ano, e mostrou um grande crescimento nas violações de direitos imediatamente à eleição, em 28 de julho.
O relatório aponta que as autoridades ligadas a Maduro orquestraram medidas para desmontar a oposição política, reprimindo brutalmente os protestos. "A resposta repressiva do Estado (às manifestações) foi um novo marco na deterioração do Estado de Direito", diz o relatório.
A investigação confirmou 25 mortes nos embates entre manifestantes e a polícia. Além disso, foram registrados 40 casos em que as forças de segurança invadiram casas sem mandado.
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