As negociações para acordo comercial entre Mercosul e União Europeia avançaram na semana passada, em Brasília, mas não há ainda uma perspectiva de conclusão. Diplomatas apontam que houve progresso nos principais entraves para o acordo, e que o debate continuará em novo encontro nas próximas semanas. A meta do governo brasileiro é que o tratado, cujo acerto já se arrasta há mais de duas décadas, seja finalizado neste ano.
A rodada de negociação ocorreu entre quarta-feira (4/9) e sexta-feira (6) da semana passada, no Palácio do Itamaraty. Ela foi mediada pelo Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros da pasta, embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, e reuniu diplomatas de países dos dois blocos.
Segundo integrantes do Itamaraty ouvidos sob reserva pelo Correio, a conversa ocorreu bem e houve avanços significativos nas áreas de meio ambiente e compras governamentais — principais entraves para o acordo. Não houve comunicado oficial do ministério, e uma nova rodada de negociação deve ocorrer nas próximas semanas.
Não há, porém, perspectiva que o tratado seja realmente finalizado neste ano, como quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista, por sinal, pressionou para o acordo ser fechado no ano passado, quando o Brasil estava à frente do Mercosul. Porém, sem sucesso.
Exigências
Em agosto, Lula destacou que o Mercosul está pronto para fechar a negociação, mas a União Europeia precisa vencer a resistência francesa. No país europeu, a preocupação é com a concorrência com os produtos agrícolas brasileiros. Os principais entraves no momento envolvem as pesadas exigências ambientais impostas aos países sul-americanos, e a exigência da participação de empresas europeias nas compras governamentais de integrantes do Mercosul.
“Nós, aqui, já decidimos o que é que queremos e já comunicamos a eles. A União Europeia que se vire com a França, que tem dificuldade com produtos agropecuários brasileiros. Certamente, tem medo de disputar com nosso queijo de Minas, com nosso vinho do Rio Grande do Sul”, declarou o presidente no evento "Diálogos Capitais", organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que celebrou os 30 anos da revista Carta Capital.
Apesar da resistência da França, outros integrantes da União Europeia pressionam para o fechamento do acordo o quanto antes. Na semana passada, durante as negociações, um grupo de 11 países do bloco enviou uma carta para a presidente da Comissão Eurpeia, Ursula von der Leyen, em que pediu a conclusão do entrave. Entre eles estão a Alemanha, Portugal e Suécia.