A reta final da disputa eleitoral em São Paulo é marcada pela volatilidade. Essa fase da campanha é aquela na qual a disputa eleitoral sai completamente do controle isolado de seus protagonistas, com efetiva mobilização dos eleitores e sujeita a imprevistos. A disputa mais provável seria entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição e conta com o maior volume de campanha — tempo de televisão, número de vereadores, ocupação de espaços públicos com propaganda eleitoral —, porém, há três pesquisas Datafolha se mantém com 27% de intenções de votos, e Guilherme Boulos (PSol), na segunda colocação, com 25%. Logo atrás, na terceira posição, vem Pablo Marçal (PRTB), com 21%. Tabata Amaral (PSB), com 9%, teve ligeira recuperação; e José Luiz Datena (PSDB), manteve-se com 6%.
Entretanto, havia um movimento de queda de Boulos e uma recuperação de Marçal, o que aumentou a indefinição sobre o pleito, uma vez que se esperava, nas campanhas de seus adversários, que a disputa estivesse consolidada entre o prefeito e candidato de esquerda. A incógnita é como se comportarão os eleitores que estavam indecisos nesta reta final e, sobretudo, o contingente insondável de voto silencioso na classe média e na periferia de São Paulo.
Tradicionalmente, os eleitores da periferia — principalmente da Zona Leste — formavam uma onda a favor dos candidatos do PT. Mas isso pode não se repetir por causa do poder de atração de Marçal, um outsider antissistema, com forte influência nas redes sociais, que se destacou pela virulência nos debates, mas parece ter ajustado o discurso, durante o debate do último sábado, na TV Record. Como se sabe, Marçal levou uma cadeirada de Datena no debate da TV Cultura, depois de agredi-lo verbalmente, e seu assessor Nahuel Medina agrediu com um soco o marqueteiro de campanha de Nunes, Duda Lima, no debate do Flow Podcast.
Berlinda
Na Record, houve confrontos diretos e 11 pedidos de resposta negados pelos organizadores, que aparafusaram mesas e cadeiras, por precaução. Entretanto, não houve agressões. Líder nas pesquisas, quem acabou na berlinda foi Nunes. No primeiro bloco, por exemplo, Boulos levantou a bola para Datena questioná-lo sobre os 80 mil moradores de rua de São Paulo: “Os abrigos são de qualidade péssima. Tão péssima que as pessoas preferem morar na rua, dividindo o chão com ratos e baratas. Precisamos que a saúde chegue até essas pessoas. Onde estão os braços sociais da prefeitura?"
Houve confronto direto de Marçal (PRTB) com Nunes (MDB), a quem perguntou o que fez de errado para a cidade de São Paulo ter piorado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no último ano. Nunes respondeu com suas principais realizações na área de Educação, entre as quais, zerar a fila por creches e distribuir 500 mil tablets aos alunos.
Na tréplica, Marçal fez um novo questionamento ao atual prefeito, a respeito da investigação da Polícia Federal sobre a chamada “máfia das creches”, com mais de 100 indiciados. “Existe lá pagamentos em seu nome, no nome de familiar. E eu queria que você desse explicação”, afirmou o influencer.
A resposta de Nunes foi dura: “Olha, Pablo Henrique. Quem fugiu da polícia foi você. Fugiu pela sua condenação de ter integrado uma das maiores quadrilhas desse país para poder roubar dinheiro de pessoas humildes pela internet. Quem foi preso foi você. A minha vida é limpa e continuará limpa para sempre. Nunca tive um indiciamento, nunca tive uma condenação e não terei. Porque meu passado é honrado”, declarou.
Perde-perde
Esse tipo de embate nos debates vai parar nas redes sociais e vira memes, o que acaba ampliando sua repercussão para além das bolhas dos candidatos. Entretanto, pode ser um jogo de perde-perde. Marçal não conta mais com sua principal ferramenta nesta terreno, o X (antigo Twitter), tirado do ar por decisão de Alexandre Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), devidamente referendada pela Corte. Entretanto, o WhatsApp é a parte submersa de um iceberg nas redes sociais, difícil de ser mensurada, principalmente porque as campanhas se estruturaram, profissionalmente, para utilizar esses recursos.
Outra variável importante da disputa eleitoral é a rejeição dos candidatos. Segundo a pesquisa Quaest/TV Globo divulgada ontem, Nunes tem maior potencial de voto (48%) que Boulos (36%) e Marçal (32%), e menor rejeição que os dois (39% ante 50% de Boulos e de Marçal). A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Entretanto, esse aspecto da eleição é mais decisivo no segundo turno, entre os que forem mais votados no próximo domingo.
Quem ficará de fora? Essa dúvida não existia na campanha de Boulos, mas agora passou a existir por causa da recuperação de Marçal. Parecia superada na campanha de Nunes, mas também voltou à ordem do dia por causa da estagnação nas pesquisas. Se o ex-coach continuar crescendo, tudo pode acontecer. O peso das estruturas administrativas da prefeitura e do governo estadual, devido apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), nestas eleições, favorece bastante a candidatura de Nunes. Um exemplo claro é o aumento significativo da presença de policiais na região central de São Paulo, por causa da epidemia de roubos de celulares. Entretanto, a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quase se anula, porque seus eleitores se dividiram entre Nunes e Marçal.
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