O soco desferido por Nahuel Medina, sócio e cinegrafista de Pablo Marçal, no marqueteiro Duda Lima, no fim do debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pelo Grupo Flow, segunda-feira à noite, acendeu a luz vermelha no Judiciário e na classe política. Ontem, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de dizer que o ataque físico é uma demonstração de "ensurdecedor retrocesso civilizatório", cobrou da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Federal (MPF) e dos tribunais regionais eleitorais (TREs) que priorizem casos de violência "que se vêm repetindo no processo eleitoral em curso e que afrontam até mesmo a nobilíssima atividade da política".
"Política não é violência, é a superação da violência. Violência praticada no ambiente da política desrespeita não apenas o agredido; ofende toda sociedade e a democracia", afirmou a ministra.
Logo depois do evento, havia entre os candidatos não apenas indignação, mas, também, uma crítica ao fato de Marçal vir num crescendo de ataques verbais e de incitação à violência, que culminou no soco de Nahuel no rosto do marqueteiro do postulante do MDB, Ricardo Nunes. Ainda no calor do tumulto, nas instalações do Clube Sírio, onde realizou-se o debate, os assessores discutiam duas hipóteses para os próximos compromissos: isolar Marçal, ignorando suas perguntas e comentários, ou pressionar os veículos para que não o convidem (leia mais ao lado).
Pelas redes sociais, Tabata Amaral (PSB) deixou claro que o soco em Duda Lima ultrapassou os limites. "Temos que dar um basta. Tudo isso foi plantado. Quem vai para a rua, sabe: Marçal coloca os assessores dele para agredir e constranger. Eles vieram para a violência", criticou.
Nunes publicou mais de 10 vídeos em suas redes sociais relacionados à agressão, trazendo imagens em diferentes ângulos. Postou, também, um vídeo no qual Nahuel intimida assessores de outros candidatos, feito no debate da TV Cultura — quando aconteceu a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Marçal.
Guilherme Boulos, candidato do PSol, não poupou o influenciador, mas também criticou Nunes. Isso porque, antes do debate do Flow, os dois bateram boca quando seguiram para o estúdio — os seguranças de ambos também se estranharam. "É isso o que acontece quando dois bolsonaristas se encontram", afirmou.
O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas — que apoia Nunes —, foi mais um a criticar a agressão cometida pelo assessor de Marçal. "Não dá mais para tolerar o que está acontecendo nesta campanha. Aonde vamos parar com tanta baixaria? As pessoas querem acompanhar o debate de ideias, querem ouvir as propostas que vão melhorar a vida delas. Tudo isso é lamentável", condenou.
"Esses episódios de violência são atos que atentam contra a democracia. Isso acende um sinal de alerta. A arte de fazer política é a de dialogar com os opostos, com pontos de vista diferentes e que você tenha a capacidade de construir consensos a partir dos dissensos. Se a população parte para um movimento de rompimento e de violência, como administrar as cidades?", indagou o secretário-executivo adjunto da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP), Jeconias Júnior.
A advogada Paula Bernardelli, especialista em direito eleitoral, destaca que a escalada da violência vem se acentuando desde 2018. "Tivemos a ascensão de um discurso muito violento da extrema direita. Alguns círculos eleitorais incentivam esses atos. Há campanhas que têm como estratégia eleitoral o estímulo ao ódio e à polarização", lamenta.
Horas depois da agressão cometida pelo assessor, Marçal tentou justificar-se dizendo que a eleição é desproporcional e que a agressividade é uma maneira de chamar a atenção do eleitor.
"Sei que ainda sou visto como um imbecil, mas se eu não chamasse atenção, não teria como. Não quero lacrar, mas é a única saída que tenho. Não sou esse idiota. As redes eram minha única vantagem. Essa eleição é desproporcional", acusou.
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