O Brasil enfrenta um inimigo poderoso no Pantanal. Ele pode atacar a qualquer hora do dia e, rapidamente, se expandir por quilômetros, destruindo tudo o que está pela frente. Além de matar a fauna e devastar a flora, os incêndios chamam para o combate homens e mulheres de diversas corporações. Neste cenário de guerra, as Forças Armadas cumprem uma missão específica: apoiar as equipes que estão na linha de frente. Esta ação, muitas vezes, não tem a mesma visibilidade do que a batalha entre os agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou do Corpo de Bombeiros contra o fogo. Mas para um homem poder enfrentar as chamas, há outros que trabalham para que ele esteja ali.
A participação das Forças Armadas no Pantanal está prevista na Portaria 3.179, assinada em 27 de junho pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. A chamada Operação Pantanal II determina que Exército, Marinha e Aeronáutica prestem suporte logístico aos especialistas no combate aos incêndios. Em média, 530 homens das três Forças atuam diariamente no chamado Comando Conjunto.
Logística
Cabe aos militares auxiliar os especialistas em debelar as chamas. Eles ajudam os 868 profissionais civis engajados no enfrentamento, dos quais 419 são do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os militares também cooperam com outras agências envolvidas, como o Corpo de Bombeiros, a Polícia Federal e a Força Nacional.
As bases de apoio estão em oito localidades: Forte Coimbra, Porto Índio, Corumbá, Porto Murtinho, Coxim, Ladário (todas no Mato Grosso do Sul), Poconé e Porto Conceição (ambas no Mato Grosso) — todas instaladas em organizações militares. Desde o início da operação, as Forças Armadas disponibilizaram oito aeronaves, 46 embarcações e 142 viaturas, que possibilitaram 426 missões de transporte, deslocando 3,8 mil agentes e 131,7 toneladas de equipamento de combate ao fogo. Pilotos da Operação Pantanal II lançaram 1,2 milhão de litros de água sobre incêndios e focos de fogo identificados.
Até o 15 de setembro, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMAMC) registrou 119 incêndios no bioma, dos quais 85 foram extintos e 20 estão controlados. Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), de 1º de janeiro a 15 deste mês mais de 12% do Pantanal foi consumido pelas chamas. Ao todo, foram 1,9 milhão de hectares queimados, sendo 215,5 mil só nos primeiros nove dias de setembro.
Segundo dados do ministério, 619 animais silvestres haviam sido resgatados do Pantanal até 15 de setembro. O levantamento dos bichos que morreram em 2024 ainda não foi feito. Em 2020, único ano à frente deste em registros de focos de fogo, estima-se que mais de 17 milhões de vertebrados foram vítimas das chamas. As Forças Armadas devem operar na região até 27 de outubro.
CINCO PERGUNTAS PARA/ General Luiz Fernando Baganha, comandante da Operação Pantanal II
A Operação Pantanal II começou no final de junho. Como estava a situação quando as Forças Armadas chegaram?
Neste ano, as condições para propagação de seca estão muito favoráveis. A gente diz que tem uma tríade, que envolve temperatura acima de 30°, umidade abaixo de 30% e ventos acima de 30km por hora. Essas três condições se fizeram presentes nesse período com uma intensidade muito grande. A situação se desenhava como mais crítica porque o período de estiagem começou dois meses mais cedo — em maio, início de junho, a gente começou a ter estiagem. Secou antes e, como consequência, há uma situação mais favorável a incêndios.
Como é feita a logística para uma situação com tamanha complexidade?
As três Forças têm aeronaves e helicópteros, fundamentais para se chegar às áreas de atuação. As estradas ali são precárias ou inexistentes. Com o helicóptero, a gente consegue deslocar uma equipe de um ponto ao outro com uma grande rapidez. Outro eixo de apoio são as aeronaves que têm capacidade de espargimento de água. Quando não extinguem o fogo, conseguem fazer uma redução da temperatura no local, permitindo às equipes que estão em terra chegar mais próximo e combater com mais eficiência os focos.
Como é a preparação dos militares convocados para a operação? Seguem as orientações dos outros órgãos?
Não, pelo contrário. É preciso lembrar: o que estamos fazendo é prestar suporte logístico. É o dia a dia da nossa tropa. Para uma guerra, que é nossa missão principal, você tem que ter capacidade de levar meios, de alojar, de alimentar, de levar saúde para socorrer as pessoas. São ações inerentes à nossa atividade fim, como Força Armada. E nossa tropa é perfeitamente qualificada. Não estamos agindo diretamente no combate ao fogo, a não ser no caso das aeronaves que lançam a água
Qual tem sido o maior desafio?
As condições meteorológicas. Operar um helicóptero numa condição de temperatura e de visibilidade baixa requer um adestramento e uma capacitação muito grandes. Quando você opera a aeronave, tem de garantir um esforço aéreo muito grande, número de horas elevado. Isso exige uma manutenção e um planejamento criteriosos para que as aeronaves tenham disponibilidade de voo. É preciso, ainda, uma preparação e uma disponibilidade de tripulação. Você não pode sair voando 10, 12 horas, submeter a tripulação a um desgaste excessivo — o risco de um acidente é grande
Cuidar do meio ambiente é papel do Exército?
É missão do Exército mostrar a nossa prontidão não só na defesa da Pátria, mas, também, nessas missões subsidiárias. O meio militar serve para operações de guerra e para ajudar a população nos momentos críticos, como foi lá no sul (Rio Grande do Sul), com nossas embarcações, nossas pontes, nossos hospitais. E agora, aqui, o suporte de levar comida, água, suprimento, condições de alojamento. Mostrar isso é importante para que a população continue confiando no Exército, na Força Aérea e na Marinha.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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