Nas Entrelinhas

Análise: Polarização naufraga no Triângulo das Bermudas

A disputa pelas prefeituras pode se encerrar no primeiro turno em 13 capitais. Estão nessa situação Rio de Janeiro, Salvador, Boa Vista, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Palmas, Porto Velho, Recife, São Luís, Teresina e Vitória

Debate pós-cadeirada teve gritaria entre concorrentes e advertências. Candidatos também apresentaram propostas sobre saúde, educação e mobilidade urbana -  (crédito:  Taba Benedicto/AE)
Debate pós-cadeirada teve gritaria entre concorrentes e advertências. Candidatos também apresentaram propostas sobre saúde, educação e mobilidade urbana - (crédito: Taba Benedicto/AE)

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) se manteve na liderança da disputa eleitoral em São Paulo (9,32 milhões de eleitores), com 27% de intenções de votos, em empate técnico com Guilherme Boulos (PSol). Pablo Marçal (PRTB) permanece na terceira posição, mas fora do empate técnico, com 19%, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. No Rio de Janeiro (5,09 milhões), o prefeito Eduardo Paes (PSD) manteve-se na liderança absoluta, com 59% de intenções de votos, enquanto Alexandre Ramagem (PL) está com 17%.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro emitiram sinais trocados em suas principais bases eleitorais. O primeiro, aposta num candidato de esquerda em São Paulo, Boulos, e num de centro no Rio, o prefeito Eduardo Paes. O segundo, num candidato de extrema direita no Rio, Ramagem, e um candidato de centro em São Paulo — Nunes.

Em Belo Horizonte (1,99 milhões), o deputado estadual e apresentador de tevê Mauro Tramonte (Republicanos) continua na liderança, com 28%, enquanto o prefeito Fuad Noman (PSD), candidato à reeleição, e o deputado estadual Bruno Engler (PL), apoiado por Bolsonaro, estão com 18% de intenções de votos. Nas três capitais do chamado Triângulo das Bermudas — São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais —, considerando-se a pesquisa do Datafolha, a polarização entre petistas e bolsonaristas está sendo mitigada pelas alianças e o comportamento dos eleitores. Ou seja, naufraga.

Se consideramos a situação de Salvador (1,96 milhões de eleitores), o fenômeno se repete. Candidato a reeleição, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) está com 55% das intenções de voto, enquanto o vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior (MDB), tem 22%, na pesquisa Real Time Big Data, divulgada na semana passada. Como Eduardo Paes, pode vencer no primeiro turno.

Entretanto, no quinto colégio eleitoral do país, Fortaleza (1,76 milhões), a disputa está acirrada entre os candidatos André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), empatados com 23% das intenções de voto. É a capital mais importante onde a polarização existe. Pela margem de erro — de três pontos percentuais, para mais ou para menos —, também há empate técnico com o candidato Capitão Wagner (União Brasil), que contabiliza 20%, segundo pesquisa Real Time Big Data/Record, divulgada na quarta-feira.

Em 13 capitais, a 16 dias do pleito, a disputa pelas prefeituras pode se encerrar no primeiro turno. Além do Rio de Janeiro, com a eleição de Paes, e de Salvador, com Reis, estão nessa situação Boa Vista, com Arthur Henrique (MDB); Florianópolis, com Topázio Neto (PSD); João Pessoa, com Cícero Lucena (PP); Macapá, com Dr. Furlan (MDB); Maceió, com JHC (PL); Palmas, com Janad Valcari (PL); Porto Velho, com Mariana Carvalho (União Brasil); Recife, com João Campos (PSB); São Luís, com Eduardo Braide (PSD); Teresina, com Sílvio Mendes (União Brasil); e Vitória, com Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Reta final

Esse cenário pode sofrer alterações, principalmente nas grandes cidades. O peso das redes sociais nas eleições está sendo mitigado pelos efeitos das políticas de aliança, das estruturas administrativas e pela propaganda gratuita de rádio e tevê, que mudou de formato, com inserções muito semelhantes aos comerciais. Entretanto, na reta final, depois da aterrissagem dos candidatos — alguns ficaram perdidos no espaço depois que a pré-campanha acabou —, a disputa deixa de ser uma "guerra de posições" na sociedade civil para se tornar uma "guerra de movimento", com a entrada em cena da grande massa de eleitores. É quando a eleição passa a ser o assunto das conversas de família, do ônibus ou da fila do caixa de supermercado.

Muitas pesquisas capturaram os efeitos da exposição dos candidatos nas redes e na mídia tradicional. No caso de São Paulo, mostram que a maior exposição no rádio e na tevê beneficiou Ricardo Nunes, que conta com 65% do tempo nos meios. Guilherme Boulos, porém, tem grande resiliência e pode se beneficiar dessa transição de "posições" para "movimento", por causa da militância de esquerda.

Pablo Marçal, com frágil estrutura partidária e baixíssima exposição nos meios de comunicação tradicionais, teve um crescimento meteórico ao chegar "causando" nas redes sociais. Parecia ser o candidato do "movimento". Mas seu estilo "lacrador" virou um feitiço contra o feiticeiro, ao transpôr para um debate ao vivo na tevê sua linguagem agressiva do mundo virtual, o que acabou resultando na cadeirada que levou do apresentador José Luiz Datena (PSDB), que faturou o episódio ocorrido nos estúdios da TV Cultura.

A maioria dos prefeitos com bons níveis de aprovação e baixa rejeição, como os que podem se eleger no primeiro turno, deixou de lado a retórica da polarização. Prefere disputar os votos de eleitores de Lula e de Bolsonaro, simultaneamente. Nessas eleições, os prefeitos de 26 capitais do Brasil têm uma média de aprovação de 60%, segundo o Ipsos Public. Destaque para o de Macapá, Dr. Furlan, com 86% dos votos.

 

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postado em 20/09/2024 03:55
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