Faltando menos de um mês para o primeiro turno das eleições municipais, o ex-presidente Jair Bolsonaro anunciou, na noite de quinta-feira, em um evento da campanha do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que aposta na reeleição dele. “Torço por você, tenho certeza de que haverá segundo turno e seremos vitoriosos”, disse, no vídeo exibido em um jantar de apoio ao prefeito, no clube Monte Líbano, em São Paulo. Na gravação, Bolsonaro é apresentado pelo governador paulista, Tarcísio de Freitas.
Pesos pesados da política estiveram presentes ao jantar, como o ex-presidente Michel Temer, o deputado federal e presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), o exgovernador Rodrigo Garcia (PSDB) e o presidente do PSD, Gilberto Kassab.
O apoio de Bolsonaro, de certa forma, surpreendeu quem acompanha a novela da eleição paulistana. Depois de se comprometer com a candidatura de Nunes e influenciar na formação da chapa — o candidato a vice-prefeito é o coronel da reserva da Polícia Militar paulista Ricardo Mello de Araújo, do PL —, o ex-presidente não tinha, ainda, feito nenhum gesto incisivo de participação na campanha do prefeito. Ao contrário: chegou a declarar, em agosto, em entrevista a uma rádio potiguar, que Nunes não era o seu “candidato dos sonhos”.
Bolsonaro até agora ajudou pouco. Embora tenham estado juntos no palanque do Sete de Setembro, na Avenida Paulista, o ex-presidente não participou de nenhum programa eleitoral do prefeito. Ao contrário: o filho 02, Carlos Bolsonaro, chegou a fazer acenos a Pablo Marçal, candidato do PRTB, indicando um possível apoio do clã.
O flerte com o influenciador digital acabou exatamente no Sete de setembro, quando foi barrado no palanque de Bolsonaro, montou um comício paralelo e se apresentou como o “verdadeiro candidato da direita”.
A ratificação do apoio de Bolsonaro a Nunes foi exibido no dia em que duas pesquisas de intenção de voto (Futura e Datafolha) foram divulgadas, ambas mostrando as mesmas tendências: Nunes se descolando na liderança da corrida eleitoral e Marçal encolhendo. A estratégia da campanha do prefeito de se colocar como o único que pode derrotar o representante da esquerda, Guilherme Boulos (Psol), no segundo turno, também vem dando resultado no sentido de estancar a migração dos bolsonaristas para a candidatura de Marçal. A presença constante de Tarcísio de Freitas também é avaliada como vital para o futuro de Nunes.
Conservador
Os estrategistas da campanha do prefeito, agora, estudam a melhor forma de incorporar Bolsonaro à campanha. Como o prefeito vem apresentando boa performance sem a presença do ex-presidente, a expectativa é de que esse apoio só se torne mais efetivo no segundo turno, em que será possível dividir as candidaturas por campo ideológico.
Mas o próprio Nunes espera que o ex-presidente suba no palanque em algum momento do primeiro turno. “O embarque dele na campanha é natural, só depende do Bolsonaro”, disse ao Correio um dos estrategistas da equipe do prefeito.
Em uma sabatina horas antes do evento no Monte Líbano, Nunes havia revelado que tem muito material gravado para ser usado até outubro. “Temos no nosso banco de dados mais de duas horas de gravações com o presidente Bolsonaro, das ações que a gente fez junto. Preciso, inclusive, tê-lo junto até para fazer um vídeo do acordo do Campo de Marte. Consegui, quando ele era presidente, resolver a dívida da cidade (com a União) de R$ 25 bilhões”, disse o prefeito, referindo- se à operação que renegociou a dívida paulistana em troca do aeroporto Campo de Marte, na capital, que passou ao controle da Aeronáutica.
Nunes tem se esforçado para consolidar a imagem de político conservador. A escolha do nome dele para ser vice do tucano Bruno Covas na prefeitura paulistana, na eleição de 2020, levou em consideração o passado como vereador, sempre alinhado com as pautas da direita, como a posição antiaborto e a defesa de uma agenda liberal para a economia. Com isso, “equilibrou” a chapa com Covas, um político de centro- esquerda, e venceu a disputa contra Boulos.
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