Três dias depois da demissão do advogado Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, ontem, a deputada estadual de Minas Gerais Macaé Evaristo como nova titular da pasta. A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A posse será na próxima semana.
A ministra esteve no Palácio do Planalto e reuniu-se com Lula e com a até então interina dos Direitos Humanos, Esther Dweck. "É com muita honra que aceitei o convite do presidente Lula para assumir o ministério. Nosso país tem grandes desafios e esse é um chamado de muita responsabilidade. Temos muito trabalho pela frente e sigo esperançosa, com o compromisso de uma vida na luta pelos direitos", publicou Macaé, em sua conta no Instagram.
A escolha de Macaé foi uma forma de encerrar, rapidamente, a crise aberta com as acusações contra Silvio Almeida. Trazer a deputada estadual de Minas Gerais para o primeiro escalão afasta as tensões causadas pelo escândalo de assédio sexual, que envolveu, inclusive, a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial). Além disso, reduzem as cobranças sobre o presidente por falta de mulheres no primeiro escalão.
Carta branca
Macaé assume com total apoio de Lula para fazer as alterações que achar necessárias no ministério. Ela também deixou claro que as denúncias contra Silvio Almeida não andarão em banho-maria. Conforme enfatizou, os relatos de assédio sexual devem ser investigados com rigor, mas com o "amplo direito de defesa". "Quanto às denúncias, é muito importante que os órgãos responsáveis façam as devidas apurações", frisou.
A ministra destacou que é essencial garantir a preservação da privacidade e o sigilo dos fatos. "A ideia é que possamos fazer todo o procedimento necessário, garantindo os direitos das pessoas denunciantes, bem como o amplo e pleno direito de defesa. É muito importante garantirmos a privacidade e o sigilo dos fatos, principalmente das pessoas que foram lesadas", ressaltou.
Antes de receber Macaé, Lula postou nas redes sociais sobre a escolha para o cargo. Por três dias, o Ministério dos Direitos Humanos ficou, interinamente, sob a chefia da ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck. A expectativa era de que o órgão fosse assumido pela então secretária-executiva da pasta, Rita Cristina, mas ela pediu exoneração com a demissão de Silvio Almeida e disse nas redes sociais que "nunca vai soltar a mão" do ex-ministro. "Lealdade, respeito e admiração eternos", observou.
Também foram especuladas para a vaga a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) — que deixou claro nos bastidores que não aceitaria — e a ex-ministra Nilma Lino Gomes.
Ex-secretária de Educação de Minas Gerais, Macaé foi indicada pela presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) — que, por sinal, esteve no Planalto para saudar a chegada de Macaé ao primeiro escalão. Mas o partido como um todo endossou a escolha a deputada mineira.
Antes da escolha do nome de Macaé, Lula tinha deixado claro para interlocutores que quem substituísse Silvio Almeida teria de ficar até o fim do atual mandato presidencial, em 2026. A nova ministra dos Direitos Humanos e Cidadania tinha pretensão de concorrer à Câmara dos Deputados nas próximas eleições, mas, para assumir a pasta, garantiu ao presidente que não deixará o ministério para tentar um cargo eletivo.
Água na fervura
A rapidez com que se decidiu a chegada de Macaé teve, por princípio, a mesma manobra que levou à saída de Silvio Almeida dos Direitos Humanos e Cidadania. A ideia é que o escândalo fosse debelado o quanto antes e cassasse o discurso da oposição bolsonarista de que o Palácio do Planalto custou a resolver a crise. Sobretudo, porque as denúncias de assédio sexual circulavam entre os ministros, mas não se tem notícia de que alguma ação concreta foi tomada.
Com a escolha do nome de Macaé, a preocupação em relação ao desgaste político junto à opinião pública deu vez ao alívio. O ministro Paulo Pimenta, atual titular da secretaria de Apoio e Reconstrução ao Rio Grande do Sul, destacou a trajetória de Macaé ao primeiro escalão governamental.
"A deputada Macaé é uma referência em educação e no combate ao racismo, e traz sua competência para fortalecer ainda mais o governo federal e o Brasil", publicou.
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, também desejou boas-vindas à nova colega da Esplanada. "Conte comigo, ministra, para seguir construindo um país mais justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras", afirmou.
Gleisi destacou a escolha de uma mulher negra para os Direitos Humanos. "O presidente Lula nomeia uma mulher negra, combativa, com história de lutas e realizações na defesa da educação e dos direitos humanos, das crianças e adolescentes", ressaltou a parlamentar.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), aliado de Macaé, também celebrou. "Mais um presente que a gente recebe, aqui no estado de Minas Gerais e na cidade de Belo Horizonte", disse o parlamentar em um vídeo que postou nas redes sociais.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse que Macaé pode contribuir para superar um cenário de adversidade no Ministério dos Direitos Humanos. "É uma militante com profundo compromisso com o projeto histórico liderado pelo presidente Lula, de busca pela igualdade racial e pela justiça social. É habilidosa, boa gestora e agregadora. Por isso, tenho convicção de que será uma ministra que fará história", frisou.
A entrada de Macaé no primeiro escalão aumenta para dois o número de ministros mineiros, cuja bancada vinha reclamando de pouca representação nos ministérios. O outro representante de Minas Gerais é Alexandre Silveira, titular de Minas e Energia. Também sobe para 13 a quantidade de pastas controladas pelo PT e, para 11, as mulheres em colocações no primeiro escalão.
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