eleições municipais

Candidatos mostram que não há idade para participar da vida pública

Candidatos a prefeito e a vereador mostram que, mesma na faixa entre 80 e 90 anos, não lhes falta vitalidade para participar da vida pública. Tribunal Superior Eleitoral não estabelece um teto etário para a disputa

Irajá tem redes sociais, mas quer se eleger no corpo a corpo -  (crédito: Fotos: Redes sociais)
Irajá tem redes sociais, mas quer se eleger no corpo a corpo - (crédito: Fotos: Redes sociais)

Deputado constituinte na década de 1980, período que cumpriu dois mandatos na Câmara, o advogado e professor Irajá Rodrigues, do MDB, aos 88 anos, volta à política e tenta se eleger prefeito em Pelotas (RS), cidade castigada pelas enchentes e que já administrou duas vezes nos anos 1990. Ele aparece como o segundo candidato a prefeito mais velho do país, entre os 15.437 postulantes ao cargo Brasil afora, nas eleições municipais de outubro.

Não lhe faltam ânimo e disposição, mas Irajá resiste às redes sociais. Ele até tem uma conta no Instagram, mas, nas suas palavras "não sou um abusador" desse tipo de comunicação.

"Não sou um useiro ou abusador desse tipo de comunicação. Tenho, sim (uma conta no Instagram), mas uso moderadamente. Sei que pesa, mas o que gosto mesmo é do contato pessoal. Me elegi em campanhas modestas, sem grandes investimentos. E me habituei ao contato pessoal com as pessoas", disse Irajá ao Correio. Pelotas está entre os principais municípios gaúchos e, com 325 mil habitantes, é o quinta do estado com a maior população.

O candidato mais idoso entre os que tentam o Poder Executivo municipal é David Orlandi, que tem 96 anos e disputa a administração da cidade de Embu das Artes (SP). É filiado ao Partido da Causa Operária (PCO), uma legenda de extrema esquerda que prega contra o capital internacional e quer taxar o lucro dos banqueiros e as grandes fortunas. A candidata a prefeita na chapa é Neide Orlandi, sua filha, de 70 anos.

Os Orlandi, pai e filha, falaram ao mesmo tempo com o Correio na última sexta-feira. Embu das Artes tem 250 mil habitantes e David rechaça que haja impedimentos por conta da idade avançada. Afirma que 96 anos "não é muito" e que pretende ir bem mais longe.

"Como vice, quero ajudar minha filha. Ainda tenho disposição com 'só' 96 anos. Não é muito. Eu quero ir longe, quero atravessar esse século", disse o mais idoso do pleito de 2024. Experiência, arremata, não lhe falta.

"Se eu não tenho experiência nessa idade, quando que eu vou ter? Tenho muita experiência e muito sonho ainda. Meu 'computador' funciona bem ainda", garante. A proposta de governo dessa dobradinha do PCO crítica a política neoliberal, prega mudanças para melhorar a vida do trabalhador, condena o "roubo dos banqueiros" e repudia o voto útil — aquele usado em favor do que tem mais chance de ganhar em vez de se optar pelo supostamente mais capacitado.

"O trabalhador não pode ser obrigado a votar no candidato que ele considera menos pior. Os trabalhadores devem votar na política que eles acreditam, na política que de fato irá resolver seus problemas. Nesse sentido, o caminho é o governo dos próprios trabalhadores", diz o programa da chapa dos Orlandi.

O mais idoso prefeito no cargo é Coronel Eloi, atual gestor de Barro Duro, uma cidade com cerca de 6.700 habitantes no Piauí. Aos 87 anos, ele vai tentar a reeleição. Se reconduzido, reassumirá o cargo com 88 anos. Eloi é filiado ao PSD. Seu primeiro mandato como prefeito foi em 1980, há mais 40 anos.

Legislativo

O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registra, no cômputo geral, 24 candidatos com mais de 100 anos de idade. São dados autodeclarados à Corte e há erros gritantes de preenchimento das fichas, que acabam gerando distorções nas análises. Na busca detalhada, não foi localizado candidato ou candidata centenária.

Se entre os mais velhos prevalecem os homens para a disputa das prefeituras, as mulheres com mais idade concorrem para vereadora. A candidata mais idosa é Zulmira Miziara, do PSD, que tem 96 anos e disputa uma vaga na Câmara Municipal de Tanabi (SP), cidade de 26 mil habitantes. Em 2016, ela tentou, mas não se elegeu e, à época, concorreu pelo PCdoB. Mas teve voto para figurar na suplência da Casa.

Em São Cristóvão (SE), Alda Cruz, do PSB, é candidata a vereadora. Ela tem 94 anos e seu nome na urna e de campanha eleitoral é Alda Cordelista. É a segunda mais velha na relação que consta no TSE. Em 2004, tentou a mesma vaga, pelo PTB, mas obteve apenas a suplência.

Já Salomé Stocco, do Podemos, participa de sua primeira eleição como candidata, aos 92 anos. Tenta se eleger vereadora em Santa Cruz das Palmeiras (SP), munícípio de 29 mil habitantes.

*Estagiária sob a supervisão de Evandro Éboli

 

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postado em 01/09/2024 03:55
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