Anos de Chumbo

Governo Lula reinstala Comissão de Mortos na ditadura, extinta por Bolsonaro

Nova presidente, Eugênia Gonzaga anuncia parceria com CNJ para emissão de atestados de óbitos reconhecendo como causa da morte a violência do Estado contra dezenas de vítimas do regime militar

Comissão de Mortos e Desaparecidos foi reinstalada nesta sexta, com a presença de familiares dessas vítimas da ditadura, que espalharam cartazes de seus parentes no auditório do Ministério dos Direitos Humanos -  (crédito: Divulgação/MDHC)
Comissão de Mortos e Desaparecidos foi reinstalada nesta sexta, com a presença de familiares dessas vítimas da ditadura, que espalharam cartazes de seus parentes no auditório do Ministério dos Direitos Humanos - (crédito: Divulgação/MDHC)

O governo reinstalou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos em solenidade na manhã desta sexta-feira (30/08), no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. O colegiado, que tem a missão de buscar a verdade sobre as circunstâncias das mortes das vítimas da ditadura militar e tentar localizar seus restos mortais, foi extinta no apagar das luzes do governo de Jair Bolsonaro, um ex-presidente que cultua o regime dos generais, nega a tortura e exalta a figura de torturadores.

Já na cerimônia da volta da comissão, a presidente, a procuradora Eugênia Gonzaga, anunciou uma parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a emissão de atestados de óbito considerando a violência e a perseguição do Estado como as causas das mortes, não naturais, dessas vítimas mortas pelos militares e cujo paradeiro é desconhecido até hoje. Serão considerados os nomes estão listados no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que reconheceu que o Estado matou e desapareceu com 434 militantes de esquerda.

A volta da Comissão dos Mortos e Desaparecidos foi marcada pela presença de familiares de vítimas da ditadura, que levaram faixas com as fotos desses parentes, e por discursos emocionados das autoridades. O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, criticou duramente a extinção da comissão no final do governo de Bolsonaro.

"Essa atitude foi terrível, cruel e violenta. Mas foi coerente com sua trajetória (de Jair Bolsonaro), que tem como ídolo um torturador", disse Silvio Almeida, que garantiu que serão envidados esforços para localizar e identificar essas pessoas que morreram nas mãos do Estado ditador.

Eugênia Gonzaga, que já presidiu a comissão em outra oportunidade, se dirigiu aos familiares mortos pelos agentes do Estado naquele período.

"Sinto muito por tudo que vocês ainda vivem. Hoje é o dia internacional das vítimas do desaparecimento forçado. E eles estão aqui hoje, juntos com cada um de vocês. Vamos atuar para buscar respostas concretas, que é o direito mínimo de todos os familiares e vítimas que aqui estão", afirmou a presidente da comissão.

O ex-deputado e ex-preso político Nilmário Miranda defendeu a revisão da lei que ainda impede a punição a torturadores. Ele integrou a primeira formação da comissão, na sua criação, em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

"Temos que batalhar para interpretar a verdade, rever isso na lei. Não se pode perdoar verdugos, carrascos e torturadores", discursou Nilmário Miranda.

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postado em 30/08/2024 14:05
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