O 21 de agosto de 2024 foi histórico na vida do poeta e jornalista Luiz Artur Toribio, conhecido como Luis Turiba, de 74 anos. Em decisão unânime, a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH) concedeu anistia política e oficializou o pedido de desculpas a Turiba.
Em entrevista ao Correio, Turiba contou que decisão da comissão é memorável. "Eu me emocionei bastante com a técnica do governo de pedir desculpas por tudo o que o Estado fez com você, com a sua geração, reconhecendo que houve abusos e que a sociedade brasileira já reconheceu há muito tempo", pontuou.
Na sessão da comissão, a presidente Enéa de Stutz e Almeida e os conselheiros decidiram, por unanimidade, pela anistia política, porque o poeta apresentou farta documentação que comprova que foi perseguido por razões políticas entre outubro de 1970 e junho de 1987. Ao todo, Turiba contabilizou dados e documentos de 20 anos.
Perseguição
Nascido no Recife, Turiba mudou-se novo para o Rio de Janeiro e foi criado de uma "maneira carioca", como ele descreveu. Foi no Rio onde ele integrou em movimentos estudantis durante o governo do general Costa e Silva, da ditadura.
Durante o AI-5, vários estudantes do grêmio estudantil da escola técnica em que ele fazia parte foram expulsos. Turiba foi impedido de se formar.
Ele conta que tinha entre 17 e 18 anos quando foi preso pela Justiça Militar. A pena de seis meses, se transformou em nove e, somente depois disso, ele foi solto.
"Fui preso, fui maltratado e todas essas coisas que falam da ditadura eu e a minha geração toda, não sou só eu, foram vítimas também e estão nessa luta pela indenização e pelo reconhecimento de direito a essa anistia", pontuou.
O sonho de se tornar jornalista se concretizou ao longo dos anos, com estágios em notórios jornais brasileiros mesmo sem ter um diploma. Na carreira passou por redações do Diário de Notícias, do O Globo e em Brasília nos jornais Gazeta Mercantil, Jornal de Brasília e também no Correio Braziliense.
Acompanhado de dois dos cinco filhos, amigos e familiares, Turiba recebeu a anistia e foi exaltado pelos amigos presentes. Na ocasião, ele também leu o poema Tortura, de autoria própria.
Leia o poema na íntegra
Levanta-se o véu e rasga-se a túnica
Os corvos ainda bicam o que restou de ti
Uma dor cicuta que espiral perdura
....tortura...
O teu silêncio cobrado em preço físico
O teu algoz agora também teu karma
Tua voz teu suspiro e teu fantasma
Quem içou o dia e eternizou o cinza
Um Deus raivoso fez habitat às sombras
Tiras o capuz e o que vês? Abismos...
Jagunços a conspirar em cadafalsos
_ Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!
_ Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?
Nunca serás mais o que antes eras
Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas
Marcado como gado a ilusão tritura
.....tortura.......
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Na mesma sessão que concedeu anistia à Luis Turiba, foi reconhecido também ao filho de um anistiado político, que receberá uma indenização pelo sofrimento durante a infância. Vladmir Marco de Araujo tinha 9 anos de idade quando, em 1964, policiais invadiram sua casa e levaram seu pai, o sargento reformado Antônio Horlandino de Araújo, que passou dois anos preso.
Veja a sessão na íntegra
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