A deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS), presidenta da Comissão dos Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, denunciou ter sido alvo de uma ameaça de morte com teor racista. A ameaça, que chegou por e-mail na manhã desta terça-feira (20/8), expôs o ódio direcionado a parlamentar.
Ao tomar conhecimento da ameaça, a deputada Daiana Santos registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Polícia Legislativa da Câmara Federal. Nas redes sociais, ela publicou um vídeo reafirmando o compromisso com a luta pelos direitos humanos e destacou que tais ameaças não a intimidarão.
“Ameaças como essa não irão me silenciar. É exatamente isso que o autor quer: me amedrontar e me paralisar. Sou uma parlamentar que ocupa cargos relevantes dentro da Câmara Federal. Sou uma mulher negra, lésbica e defensora dos direitos humanos. O meu perfil incomoda e causa estranheza naqueles que desejam que a política siga sendo um lugar ocupado por um perfil específico. Por isso, repito: não irão me silenciar”, afirmou.
Em um dos trechos da ameaça, o autor disse que a deputada é “uma vergonha para todo o cidadão do RS” e que “jamais será reconhecida como uma cidadã legítima do RS”, onde, segundo o criminoso, “a grande maioria da população é branca”. Além disso, o criminoso usou de linguagem desumanizadora, chamando a deputada e outras pessoas negras de “macacos” e desdenhando de sua posição como uma tentativa de “posicionar macacos” em “cargos insignificantes”. O agressor colocou no fim da mensagem o perfil de pessoas que ele gostaria de assassinar: “macaco”, “sapatona”, “nordestino” ou “homossexual”.
Para Daiana, os ataques refletem um problema maior, que é a resistência de alguns setores da sociedade à inclusão de mulheres negras em espaços de poder. “Esses episódios reforçam a importância de termos mais mulheres, sobretudo negras, nos espaços de poder. A representatividade, quando atrelada ao compromisso com os direitos humanos e a justiça social, é, de fato, impactante para a sociedade”.
A crescente presença de candidaturas negras e LGBTI+ na política também foi apontada pela deputada como um fator que potencializa ataques desse tipo, especialmente em períodos eleitorais. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o percentual de candidatos negros atingiu um recorde nas últimas três campanhas, com 52,73% dos candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores se declarando negros. Em paralelo, este ano marca a primeira vez em que candidatos puderam declarar sua orientação sexual à Justiça Eleitoral, com 2.396 pessoas LGBTI+ participando das eleições.
“O envio desse tipo de ameaça em meio ao período eleitoral não é por acaso. Há uma ampliação nas candidaturas de negros e negras, além da crescente visibilidade das pessoas LGBTI+. Isso incomoda e gera reações violentas por parte daqueles que querem manter o status quo”, explicou.
A parlamentar tem se destacado por seu trabalho à frente da coordenação do eixo de Violência do Observatório Nacional da Mulher na Política, um espaço que monitora e denuncia a violência política de gênero.
*Estagiária sob a supervisão de Pedro Grigori
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