Pablo Marçal (PRTB) aproveitou os dois debates repletos de trocas de provocações e insultos para recircular o conteúdo nas redes sociais e disparar o engajamento no TikTok - aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos curtos - em relação aos demais candidatos à Prefeitura de São Paulo, aponta levantamento do Observatório de Conflitos na Internet, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e Instituto Democracia em Xeque e Instituto Democracia em Xeque obtido pela reportagem. Especialistas, porém contrapõem que isso não necessariamente reflete em votos nas urnas.
Os dados mostram que entre os dias 8 e 14 deste mês, que compreendem o debate feito pela Band e pelo Estadão, Marçal ganhou 200 mil seguidores, enquanto seus vídeos foram vistos por 10,8 milhões de pessoas. A deputada federal Tabata Amaral (PSB) ficou na segunda posição no ranking de seguidores e visualizações.
Seguem ela, na ordem, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo). O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi muito pouco notado e ficou com a última posição. Neste momento, Marçal tem 2,5 milhões de seguidores no TikTok, Tabata tem 638,4 mil, Boulos 381,2 mil, Marina Helena tem 100,1 mil, Nunes tem 15 mil e Datena 6,3 mil.
Marçal produziu 10,8 milhões de visualizações em 48 postagens na rede social. Tabata teve 1,7 milhão de visualizações em 19 postagens, Boulos teve 1,2 milhão de visualizações em 34 postagens; Datena teve 483 mil em 38 postagens; Marina, 400 mil em 19 postagens e Nunes, teve 6,4 mil em sete postagens.
Tabata ganhou 24,3 mil seguidores, Boulos 10,7 mil, Marina Helena 6,3 mil, Datena 2,8 mil e Nunes apenas 200.
Marçal teve os dois primeiros vídeos mais vistos neste período - o primeiro, assistido por 4,4 milhões de pessoas, associa Tabata ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à ex-presidente Dilma Rousseff, chamando-os de criminosos. No outro conteúdo, 1,8 milhão de usuários do TikTok viram Marçal criticar todos os outros debatedores, se colocando como o mais preparado candidato para a Prefeitura da capital paulista.
Cláudio Penteado, pesquisador da UFABC responsável pelo levantamento, aponta que ainda não é possível afirmar que ter mais seguidores necessariamente implica em ganhar uma eleição. "A questão que vai se colocar nessa eleição para nós pesquisadores é que se a rede está medindo os votos reais das pessoas", disse.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, tem mais seguidores (5,7 milhões) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (4,7 milhões) no TikTok, e mesmo assim foi derrotado na eleição ao Palácio do Planalto, em 2022.
João Guilherme Bastos dos Santos, diretor de Tecnologia e Estudos Temáticos do Democracia em Xeque lembra de outros casos. "A quantidade de seguidores nem sempre se converte em votos, até porque muitos deles estão em municípios e estados diferentes de onde ocorre o pleito. Há exemplos como (da ex-deputada federal) Joice Hasselmann e (do ex-deputado federal) Jean Wyllys que têm muitos seguidores, se candidataram em grandes centros urbanos e tiveram uma quantidade proporcionalmente pequena de votos", afirmou.
"É o seguinte. Meu nome é Marçal, você que está assistindo, coloca um M aí, faz o M", disse Marçal, depois de atacar todos os candidatos no debate da Band, em um vídeo de dois minutos.
O Brasil tem a terceira maior base de usuários do TikTok no mundo, segundo dados do DataReportal, empresa de análise de dados. São 101,8 milhões de usuários no País, que só fica atrás de Indonésia (127,5 milhões) e Estados Unidos (121,5 milhões).
Como é de se esperar, a intriga entre os candidatos foi quem moveu a crescente de engajamento geral nos perfis de todos os candidatos no TikTok.
Três acusações feitas pelos candidatos ganharam repercussão na rede: os ataques de Tabata e Boulos a Marçal por suposta formação de quadrilha em esquema de fraudes bancárias, insinuações feitas por Marçal, sobre a conduta de Boulos, e a de Tabata a Nunes, que lembrou de um boletim de ocorrência feito contra o prefeito.
"Isso está associado ao algoritmo e ao interesse das pessoas", afirma Cláudio Penteado, da UFABC, responsável pelo levantamento, que diz que as campanhas negativas tornam-se importantes em razão disso. "Tem alguns estudos que mostram que conteúdos associados a emoções negativas como raiva, ódio, indignação geram mais engajamento e, consequentemente mais visualizações."
Tabata aparece na terceira posição. 776 mil pessoas viram ela falar de Marçal como um criminoso. O perfil do Estadão tem os dois outros vídeos do top 5. O público somado de 1,2 milhão de pessoas viram um corte em que Boulos e Marçal se atacam e outro, que mostra a reação da esposa de Nunes ao ser citada por Tabata Amaral sobre um boletim de ocorrência por agressão contra o prefeito.
Foram 486 publicações analisadas dos perfis dos candidatos, dos aliados e da imprensa. Esse período do levantamento corresponde ao que houve o maior número de publicações até então.
O relatório mostra que maior parte do conteúdo de Boulos foi dedicado para atacar seus adversários e focou em falar sobre justiça social e falar sobre seu papel como ativista.
Assim como Boulos, Marçal aproveitou maior parte do conteúdo para criticar ou rebater ataques de adversários. Tabata foi mais propositiva e centrou seus conteúdos para falar sobre a pauta da educação, criticando a gestão do prefeito Nunes e dando ênfase a projetos como o "Pé de Meia", de autoria dela.
"Embora Tabata busque divulgar essas propostas, o que vai conseguir mais engajamento são os vídeos mais agressivos, de ataques", analisa Penteado.
Como mostrou o Estadão, pesquisa qualitativa feita pelo instituto Travessia feita com 15 eleitores durante o debate Estadão realizado nesta quarta-feira, 14, apontou que Tabata teve o melhor desempenho entre os demais participantes.
Nunes teve muito pouco destaque. Foram seus aliados, como o seu vice, Coronel Mello Araújo (PL), que produziram os vídeos que mais engajaram na plataforma. Apagado, um dos poucos momentos de destaque foi o recorte em que ele diz que Marçal iria virar "Bláblá Marçal".
"Acredito que é a própria característica da campanha", diz Penteado. "Nunes é um político das antigas."
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