Em 2013, Bárbara Pena viu a vida mudar. O que deveria ter sido uma noite comum se transformou em um pesadelo que ainda hoje tem suas marcas. O homem que ela dividia a vida e a casa, virou seu algoz. Em um depoimento, Bárbara descreveu os momentos terríveis que sofreu nas mãos de seu ex-namorado.
"Depois de uma discussão por não querer continuar o relacionamento, eu optei por dormir. Eu fui acordada sendo espancada”, disse enquanto sua voz embargada contava os detalhes da violência. Bárbara não pôde comparecer pessoalmente à audiência pública da Comissão Mista de Combate à Violência Contra a Mulher do Congresso Nacional, nesta quarta-feira (14/8), mas deixou um vídeo para passar durante o debate.
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"Meu ex-namorado me arrancou da cama para a sala, me puxando pelos cabelos. Nesse momento, eu acabei desmaiando. Eu acordei com o cheiro do álcool, e percebi que meu corpo estava sendo queimado vivo". Ela conseguiu escapar, ainda em chamas, até a área de serviço, onde gritou por socorro. Mas o agressor a jogou do terceiro andar do prédio.
Os ferimentos foram muitos. "Eu quebrei os pés, calcanhares, tornozelos, aprofundei o fêmur na bacia, esmaguei três vértebras e afundei o crânio", descreveu. A ambulância deixou Bárbara e seu agressor juntos, onde, segundo ela, o homem debochou da situação durante o caminho. Ela foi levada ao hospital, onde permaneceu por dois meses em coma, lutando pela vida.
Quando finalmente começou a melhorar, veio a pior notícia. "Meus filhos, Isadora de 2 anos e 7 meses, e Henrique de apenas 6 meses, faleceram por inalação de fumaça que o próprio pai colocou (na casa)".
Essa tragédia tirou a vida dos filhos e deixou Bárbara com 40% do corpo queimado. Após mais de 250 cirurgias, Bárbara agora se dedica a uma nova missão, lutar pela justiça e por outras mulheres que sofrem ou podem sofrer o mesmo tipo de violência. "Minha vida foi destruída. Dói muito olhar para o espelho, e ver que ainda existem marcas, mas o que mais me dói é nunca poder ter meus filhos novamente. Eu luto por justiça". Hoje, ela é uma sobrevivente e ativista dos direitos das mulheres.
"O sistema ainda falha em proteger as vítimas adequadamente. Muitas mulheres que tentam fazer a denúncia são silenciadas e marginalizadas", disse Bárbara.
A mulher também criticou a legislação atual, que permite que um delegado de polícia fixe fiança para crimes previstos na Lei Maria da Penha. Para Bárbara, essa prática põe em risco a segurança das vítimas. "É inadmissível estipular o pagamento de fiança para crimes contra as mulheres, mesmo que não ultrapasse 4 anos de pena. A violência contra a mulher, frequentemente, inicia com agressões menores. Se incentivamos as denúncias desde o início das agressões, não podemos afirmar que protegemos a vítima se o agressor pode pagar uma fiança e continuar a ameaçar uma mulher".
*Estagiária sob a supervisão de Ronayre Nunes
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