Grupo político conhecido pelo pragmatismo e aspiração ao poder, o Centrão se articula para ocupar o maior espaço possível na disputa pelas prefeituras nas eleições deste ano. As legendas desse agrupamento desconsideram se o favorito em determinada cidade tem ligações com Jair Bolsonaro ou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que estão interessados na vitória em outubro.
O fato de pelo menos quatro partidos do Centrão ocuparem ministérios não impede estarem ao lado de um nome apoiado por Bolsonaro. Caso mais cristalino é o da disputa na capital paulista. O prefeito Ricardo Nunes, do MDB, legenda com cargos no governo federal, tem Bolsonaro a seu lado e levou a reboque nada menos que outros quatro partidos que controlam ministérios na Esplanada: PP, PSD, União Brasil e Republicanos.
No Recife, o União Brasil, por exemplo, está ao lado do candidato apoiado por Lula, o atual prefeito João Campos, do PSB. Um dos caciques do partido, o deputado Elmar Nascimento (BA), que não é um apoiador ferrenho do governo no Congresso, tem feito acenos ao PT na disputa na Bahia.
Um cacique do Centrão, Elmar está participando de convenções do PT no interior do estado e tem trocado elogios com o ministro Rui Costa (Casa Civil) — não exatamente um aliado de longa data. De olho na presidência da Câmara, o parlamentar já disse que, se eleito sucessor de Arthur Lira (PP-AL), o governador baiano, o petista Jerônimo Rodrigues, terá nele um "parceiro".
Legenda que também ocupa ministério, o PP tem se aproximado do grupo político de Bolsonaro. Na disputa em Belo Horizonte, o partido do ministro André Fufuca (Esportes) fechou aliança com o PL e aderiu à candidatura de Bruno Engler, deputado estadual.
Também na capital mineira há defecções na direita. O governador bolsonarista Romeu Zema, do Novo, fechou apoio ao deputado estadual Mauro Tramonte, do Republicanos — partido de Alexandre Kalil, que foi o candidato de Lula ao governo do estado em 2022 e perdeu para Zema. O governador virou alvo de ataques de Carlos Bolsonaro nas redes sociais.
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Proibição
O PL e o PT baixaram normativas para as eleições proibindo coligações que os envolvam. Ou seja, que estejam juntos na mesma chapa. Várias delas foram desfeitas na véspera das alianças, principalmente no interior do país. Mas nada impede que esses dois grupos estejam juntos de antigos aliados de Lula ou de Bolsonaro.
"Historicamente, o Centrão sempre buscou estar alinhado ao poder. Precisamos entender o papel das eleições municipais de 2024 de olho nas eleições gerais de 2026. Teremos eleições em 5.568 municípios, e manter uma corrente de partidos que se aliaram para definir a eleição presidencial de 2022 é um tanto difícil", explicou o advogado eleitoral Josias Vieira, integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).
Para ele, as emendas parlamentares têm um papel fundamental nesse processo e o fato de as eleições municipais demandarem uma capacidade para discutir problemas locais, o que definirá a corrida para o Executivo municipal.
"Daí ser compreensível alguns partidos, principalmente aqueles regionais, se aliarem a grupos ligados ao presidente Lula e outros ao ex-presidente Bolsonaro, ainda que tenham caminhado em polos distintos na eleição passada", disse. "Será um grande desafio para aqueles que buscam na polarização um ponto central para se manter na disputa."
Para o cientista político André César, o Centrão se pauta pelo pragmatismo e faz bem esse jogo. Citou a habilidade de duas de suas principais lideranças nacionais, como Arthur Lira, do PP, e Gilberto Kassab, presidente do PSD.
"A eleição municipal é um campo para esse grupo político avançar ainda mais. É um terreno importante para isso. É o que já está acontecendo. O Centrão está compondo com todo mundo. Tem impacto na sucessão da Câmara e, depois, na eleição presidencial de 2026", destacou César.
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