O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou, ontem, a condenar o atentado sofrido pelo ex-presidente e candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, no último sábado. Ao ser indagado por jornalistas se o ataque a tiros favorece alguém politicamente, Lula frisou que a violência enfraquece a democracia.
"Não sei se vai fortalecer alguém. Isso empobrece a democracia. Ao invés de a gente ficar analisando se alguém ganha ou perde com isso, temos que ter certeza de que a democracia perde. (Perdem) os valores do diálogo, do argumento, de sentar-se a uma mesa da forma mais diplomática para encontrar soluções para os problemas", enfatizou Lula, antes de receber o presidente italiano Sergio Mattarella para uma recepção, no Palácio do Itamaraty — sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Lula salientou que qualquer manifestação antidemocrática precisa ser fortemente repudiada, não importando se a origem do ataque vem de esquerdistas ou de direitistas. "A gente não pode ter dúvida de condenar qualquer manifestação antidemocrática, em qualquer lugar do mundo, seja pela direita, seja pela esquerda. Ninguém tem o direito de atirar em uma pessoa porque não concorda com ela politicamente", afirmou.
Atento à polarização que tomou conta das redes sociais desde o atentado contra Trump — com a esquerda e a direita se acusando mutuamente de estimularem episódios de intolerância política —, Lula enfatizou que a democracia não se constrói pela violência. "Se tudo vai ser na base da bordoada, na base da violência, na base do murro, na base do tiro, na base da faca, para onde vai a democracia? E como sou um defensor da democracia, acho que temos que condenar", salientou.
Assessores palacianos admitem que o atentado contra Trump em Butler, na Pensilvânia, deve ser capitalizado pela campanha e fortalecerá a candidatura do republicano à Casa Branca. Diante dessa possibilidade, o Palácio do Planalto vem estudando os impactos da volta de Trump ao poder nos Estados Unidos não apenas nas relações com o Brasil, mas com o restante do mundo.
No MRE, mesmo trabalhando com o cenário da vitória do republicano, os diplomatas não creem em uma mudança radical no relacionamento entre entre Brasil e Estados Unidos. "Temos uma relação histórica que não foi afetada durante a primeira gestão de Trump, não devemos ter grandes novidades em um segundo mandato dele", avaliou, reservadamente, um diplomata.
Bolsonaristas mobilizados nas redes
Integrantes do Palácio do Planalto trabalham com a certeza de que o atentado contra Trump será explorado pela extrema direita brasileira, que desde sábado pega carona no episódio nas redes sociais. Não apenas porque interessa insistir no discurso de que os representantes "antissistema" são violentamente perseguidos — casos de Trump e Jair Bolsonaro —, mas, também, por conta do momento atual em que o clã do ex-presidente se vê na defensiva devido à gravação feita pelo deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL-RJ) — cujo áudio foi liberado ontem.
O deputado Filipe Barros (PL-PR) comparou o ataque a Trump com a facada levada por Bolsonaro, em 2018, em Juiz de Fora (MG). "A violência não é uma instância política, e o ódio praticado pela extrema-esquerda não pode querer eliminar seus adversários", afirmou.
"Os extremistas não somos nós! Bolsonaro tem razão mais uma vez: os atentados são contra a direita", reforçou a deputada federal Carol de Toni (PL-SC).
Para o senador Marcos Rogério (PL-RO), o atentado foi uma tentativa de calar os conservadores. "Demonstra mais uma tentativa de silenciar a direita. Hoje, com Donald Trump. Em 2018, com Jair Bolsonaro", comparou.
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) enfatizou a simbologia do gesto de Trump após o tiro. "Levantou-se e, ensanguentado, colocou o punho para o alto em sinal de força para seus apoiadores", publicou.
Já o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) preferiu criticar o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, sobre o perigo do armamento para cidadãos comuns, ao citar o caso de Trump. "Para a esquerda é assim: desde que estejam cercados de seguranças fortemente armados, desarmar os outros que retiram certidões e gastam muito dinheiro para possivelmente ter uma posse de arma de fogo a fim de se defender e à sua família", atacou.
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