O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu enfaticamente, ontem, a democracia na América Latina. Em discurso na 64ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Assunção, no Paraguai, criticou os "falsos democratas" e o "nacionalismo arcaico", um recado direto ao presidente argentino Javier Milei — que não compareceu ao evento. Além disso, saudou a posição do bloco ao se opor às mais recentes tentativas de golpe de Estado no continente: a da Bolívia, em 26 de junho, e a de 8 de janeiro de 2023, quando os bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
A ausência de Milei — foi representado pela chanceler Diana Mondino — causou desconforto entre os líderes presentes à cúpula, e o discurso em defesa da normalidade institucional serviu para isolar o presidente argentino — sobretudo porque acusou o chefe do governo da Bolívia, Luis Arce, de um "autogolpe", teoria repudiada por toda a comunidade internacional, que condenou a fracassada quartelada.
"O Mercosul permaneceu mais uma vez unido em defesa da plena vigência do Estado de Direito. A reação unânime ao 26 de junho, na Bolívia, e ao 8 de janeiro, no Brasil, demonstra que não há atalhos para a democracia. Precisamos permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários. Enquanto a nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado a lado", frisou.
"Bobagem"
Segundo Lula, "é uma bobagem imensa um presidente de um país importante como a Argentina não participar de uma reunião do Mercosul — é triste para a Argentina". "Estamos trabalhando para o fortalecimento do bloco com a Argentina porque acreditamos que é um país extremamente importante para o sucesso do Mercosul. Se o presidente participa, ou não, não interessa. O que interessa é que o povo argentino precisa do Mercosul e o Mercosul precisa do povo argentino", afirmou.
Mas Lula não esteve sozinho na crítica a Milei. O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, cobrou que "todos os presidentes" do bloco deveriam participar da cúpula. "Não só a mensagem importa, o mensageiro é muito importante. Se o Mercosul fosse tão importante, todos os presidentes deveriam estar aqui. Dou importância ao Mercosul. E se realmente acreditamos neste bloco, todos deveríamos estar aqui", disse. O Uruguai assume a presidência temporária do colegiado por seis meses.
O anfitrião da cúpula, o presidente paraguaio Santiago Peña, disse que o Mercosul "é um exemplo exitoso de integração e que não há outro caminho" para a região. Ele reconheceu que há diferenças de visões políticas e ideológicas entre os governantes do bloco, mas defendeu que todos os países sul-americanos se dediquem ao avanço de uma "democracia com conteúdo" e "de resultados".
A cúpula marcou a entrada do governo de La Paz como membro efetivo do Mercosul. De Assunção, Lula seguiu para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para uma visita oficial e de apoio a Luis Arce.
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