Críticas à autonomia do Banco Central (BC), à taxa de juros elevada e a defesa de uma agenda expansionista continuam a ditar as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta segunda-feira (01), em entrevista a uma rádio de Feira de Santana(BA), o chefe do Executivo disse que o BC "tem que ter uma pessoa indicada pelo presidente" e citou governos anteriores à aprovação da autonomia institucional, em 2021.
"Como pode o presidente da República ganhar as eleições e, depois, ele não poder indicar o presidente do Banco Central? Estou há dois anos com o presidente do BC do Bolsonaro. Não é correto isso. O correto é que entre o presidente da República e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira, como o (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso tirou três", criticou Lula.
Mesmo com o tom mais enérgico contra a autonomia, o presidente sinalizou que não pressionará a saída antecipada de Campos Neto e que vai aguardar o fim do mandato do atual presidente da autarquia. "Foi aprovada a independência do BC pelo Congresso e eu tenho, com muita paciência, que esperar chegar a hora de indicar um outro candidato", afirmou.
As falas de Lula contribuíram para mais um desempenho fraco da moeda brasileira, o que também é influenciado pela valorização dos títulos americanos. Ontem, o dólar voltou a registrar mais um aumento, desta vez de 1,15%, com a venda cotada a R$ 5,65. Na semana anterior, a moeda norte-americana já havia atingido o maior patamar desde o início de 2022.
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As declarações de Lula não chegaram a pesar negativamente no Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), que registrou crescimento, com os bons resultados da Vale (VALE3), cujas ações subiram 1,48% nesta segunda, e da Petrobras (PETR4), em que os papéis preferenciais subiram 1,52%. Mesmo assim, com um cenário ainda de incertezas no ambiente fiscal, os bancos oscilaram, com Itaú (-0,57%), Bradesco (-0.96%) e Banco do Brasil (-1,31%), registrando queda no encerramento das operações.
Após o fechamento do mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falando a jornalistas, chamou para si a responsabilidade pela valorização do câmbio. Ele atribuiu o movimento à existência de ruídos internos e acrescentou que falta uma comunicação melhor ao mercado financeiro sobre os resultados da atual gestão. "Apesar da desvalorização ter acontecido no mundo todo de uma maneira geral, aqui ela foi maior do que nos nossos pares. Colômbia, Chile e México também tiveram. Atribuo isso a muitos ruídos. Já falei isso no Conselhão. É preciso comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo", completou.
Haddad citou o resultado da arrecadação de junho, que somou R$ 174,9 bilhões, acima do previsto pela Receita Federal. "Os resultados estão demonstrando que a estratégia adotada no ano passado, com a chancela do congresso nacional e do judiciário, que também deu um apoio importante em temas delicados e robustos do ponto de vista do valor envolvido, os resultados estão aparecendo do ponto de vista de arrecadação", disse Haddad, na saída de uma reunião com a presidente do Banco do Brasil, Taciana Medeiros.
Especulações
Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, defendeu que Lula mantenha o compromisso com a regra fiscal e caracterizou como "especulação" as críticas sobre a parte fiscal do governo. "O governo tem responsabilidade fiscal e social. Aprovamos o arcabouço fiscal e o governo vai cumprir. O resto é especulação. Mais uma vez vai errar quem ficar especulando sobre irresponsabilidade desse governo", cutucou o ministro.
"Quem especulou no final, na transição do governo anterior, perdeu dinheiro com isso. Quem especulou, no ano passado, que a gente não ia ter um arcabouço fiscal, não ia aprovar a reforma tributária, perdeu dinheiro com isso. Quem especulou que não teríamos um arcabouço fiscal, perdeu dinheiro; e quem ficar especulando, vai perder dinheiro de novo", emendou.
Padilha apontou que "mais uma vez o governo vai surpreender os pessimistas, que tentam incutir em Lula qualquer imagem de gastador", disse em coletiva a jornalistas na saída do Ministério da Fazenda, em Brasília. "Neste terceiro governo, o presidente acabou com a gastança irresponsável do governo anterior, de irresponsabilidade fiscal, com desonerações, aumento de auxílios vinculados a fraudes, calotes em precatórios. O governo restabeleceu o compromisso com a responsabilidade fiscal, e posso reafirmar o compromisso com o arcabouço fiscal vigente", apontou.
"Então, o compromisso de combater qualquer tipo de fraude e continuar fazendo pente fino, como disse o presidente Lula, em qualquer crescimento de despesa, ter compromisso com o que está no arcabouço fiscal em relação ao crescimento de despesa, tem um compromisso claro que o governo vai cumprir. Então, quem ficar especulando sobre isso vai perder dinheiro de novo", reforçou. O ministro disse também que a expectativa do governo é de que o relatório da proposta de desoneração da folha de pagamento seja finalizado e apresentado ainda nesta semana. Uma reunião prevista para a noite desta terça-feira (2) deve costurar os detalhes.
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