A Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) contrariou o governo federal e divulgou uma nota, na noite de segunda-feira (29/97), em que reconhece a vitória de Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela. "Importante que o presidente Nicolás Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais", diz o comunicado da legenda.
Maduro venceu a eleição, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, com 51,2% dos votos, contra 44% de Edmundo González. A oposição, no entanto, acusa o governo de fraudar os resultados e afirma que González venceu com 70% dos votos.
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Na nota, o PT diz que a eleição foi uma "jornada pacífica, democrática e soberana". "Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolás Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela", observa a sigla comandada pela deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Citando "graves problemas" no país vizinho, o PT opina que as questões na Venezuela são "em grande medida, causados por sanções ilegais" e que o partido permanecerá "vigilante", na busca de evitar "violência e ingerência externa" em assuntos que dizem respeito ao continente. "O PT seguirá vigilante para contribuir, na medida de suas forças, para que os problemas da América Latina e Caribe sejam tratados pelos povos da nossa região, sem nenhum tipo de violência e ingerência externa", finaliza a nota.
falando em nome do presidente da Venezuela, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, agradeceu ao PT pelo reconhecimento do resultado eleitoral. "Agradecemos ao PT, partido governante do Brasil, por suas cálidas felicitações devido ao processo eleitoral de domingo", postou ele em uma rede social.
O posicionamento, porém, não é unanimidade dentro da agremiação. O primeiro a se manifestar de forma oposta foi o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que chamou Maduro de "ditador". "Um governo verdadeiramente democrático convive com críticas, questionamentos e oposição organizada. A atuação de Maduro na Venezuela é a postura de um ditador", escreveu o parlamentar em sua rede social.
No Senado, Paulo Paim (PT-RS) e Fabiano Contarato (PT-ES) também expressaram posicionamento divergente. Contarato observou que o resultado não pode ser reconhecido "enquanto as exigências mínimas de transparência não forem satisfatoriamente atendidas".
"Um resultado que eventualmente confronte a vontade popular manifestada nas urnas não só será ilegítimo, como também lançará o país no abismo!", complementou Contarato.
Paim, por sua vez, avaliou o cenário na Venezuela como "gravíssimo" e "lamentável". "Espero por dias melhores para o seu povo e para o país como um todo. Sem transparência no processo eleitoral, liberdade política e de expressão, e respeito aos direitos humanos, não há democracia", pontuou o gaúcho na plataforma X.
O PSB — partido do vice-presidente Geraldo Alckmin — também seguiu a linha discordante ao condenar as violações de direitos humanos no país vizinho, em nota assinada pelo presidente da legenda, Carlos Siqueira. "Consideramos esse regime uma ditadura e, como tal, sabíamos que ele não faria uma eleição livre, transparente e democrática", conclui o texto.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou, ontem, que o governo venezuelano "se afasta" dos valores democráticos ao não divulgar os dados do pleito com transparência. "Numa democracia, a lisura e a transparência do processo eleitoral que assegure a prevalência da vontade do povo são base essencial e insuperável. O governo da Venezuela se afasta disso ao não demonstrar esses valores com clareza", declarou.
"A luta pela democracia não nos permite ser seletivos e casuístas. Toda violação a ela deve ser apontada, prevenida e combatida, seja contra quem for", pontuou Pacheco.
O líder da minoria no Senado, Ciro Nogueira (PP-PI), vai pedirá que o chanceler Mauro Vieira preste esclarecimentos sobre a posição do governo. "Diante da omissão, do silêncio, da conivência e da falta de reação perante o novo golpe perpetrado por Maduro em sua ditadura na Venezuela, vamos propor a convocação do ministro das Relações Exteriores no Senado com urgência. Para tentar explicar o inexplicável", escreveu Nogueira, no X.
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