A convenção que fará a escolha do candidato tucano para a disputa da maior cidade do país ocorre neste sábado (27/7) e, apesar do pré-candidato José Luiz Datena representar para alguns militantes da legenda a última esperança de salvar o PSDB no seu berço histórico, a escolha do nome promete ser tumultuada. Datena, que esperava encontrar um partido para chamar de seu, deve enfrentar a resistência de grupos que pediram o registro de pré-candidaturas e prometem disputar com ele a indicação da legenda.
A direção nacional do partido reagiu e homologou na manhã desta sexta-feira (26/7), a candidatura de Datena e indeferiu as outras inscrições por perda de prazo. A decisão ocorreu em uma reunião da cúpula nacional da federação do PSDB com o Cidadania.
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Fontes do partido destacam que o estatuto da Federação prevê a interferência da direção nacional nas cidades com mais de 200 mil habitantes para resolver conflitos. E que a estratégia de homologar internamente a candidatura do apresentador busca evitar interferência da ala contrária a Datena que apoia o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Para o presidente da sigla na cidade, o ex-senador José Aníbal, não há dúvida que o apresentador será o escolhido e, dessa vez, manterá a candidatura até o fim. “O Datena disse ao UOL que seria candidato até o incomodarem, mas, no dia seguinte, disse na Band que agora 'acabou' que vai ser candidato de qualquer maneira. Vocês têm que parar de pensar que nós vamos interromper a campanha do Datena por alguma razão ou por vontade dele. Esquece, o Datena vai até o final e vai ganhar a eleição", disse Aníbal ao Correio.
A aposta na direção da legenda é de um cenário no segundo turno com a disputa entre Datena e o candidato do PSOL, o deputado federal Guilherme Boulos (SP), o que demonstra a expectativa em conseguir tirar parte dos votos do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
Mas a oposição ao apresentador tem se organizado dentro do ninho tucano. O ex-presidente da sigla na cidade Fernando Alfredo, representante da ala que quer que a sigla apoie a candidatura de Nunes, protocolou, na última quinta-feira, a inscrição da sua pré-candidatura para a convenção deste sábado (27/7).
Alfredo promete lotar o encontro, que será na Assembleia Legislativa paulista, para oficializar o representante tucano para o pleito. Mas de acordo com o estatuto da Federação PSDB-Cidadania, apenas 11 filiados, que são integrantes da direção das duas legendas, têm direito de votar na convenção.
“O PSDB tem tradição de escolha entre os seus militantes dos seus candidatos a prefeito, agora isso está sendo subvertido por um outsider da política como o Datena. Ele não tem uma ideologia, uma hora defende a direita, outra hora ele defende a esquerda, ele parece uma biruta de aeroporto. Como confiar em um cara que se filiou em 12 partidos? Eu não tenho dúvida que ele vai desistir”, disse ao Correio o ex-dirigente partidário.
Ele diz ainda que teve, inicialmente, o pedido de inscrição negado na sede partidária, mas que procurou o presidente da Federação PSDB-Cidadania, o ex-deputado estadual Mário Covas Neto, que acabou aceitando a sua inscrição, assim como a de uma antiga assessora do ex-governador Mário Covas, a militante tucana Maria de Lourdes.
“Os seguranças foram hostis e não quiseram receber o documento, mandei uma mensagem para o presidente da federação, o Mario Covas Neto, que recebeu nossa inscrição. Mesmo assim, ainda ontem (25/7), eu entrei com uma ação na Justiça para garantir o direito da nossa participação na escolha do candidato a prefeito”, disse Alfredo.
Vice
O apresentador migrou para o ninho tucano do PSB depois de uma articulação da deputada federal e pré-candidata na disputa paulistana pelo PSB, Tabata Amaral, que contava em compor com os tucanos tendo Datena como seu vice. Apesar da opção tucana de lançar Datena como cabeça de chapa, Tabata não fala em traição, mas já demonstrou que vai descartar a possibilidade de disputar como vice do apresentador.
Sobre a negociação para Tabata aceitar ser vice de Datena, vista como a escolha para vice dos sonhos de alguns tucanos, Aníbal prefere a reserva. “Eu não vou falar sobre. A Tabata faz parte do centro democrático e o centro democrático tem que vencer a seleção em São Paulo. Nesse campo estão o Datena e a Tabata. Nós vamos romper essa polarização entre Lula e Bolsonaro aqui na cidade de São Paulo, o povo está enfadado disso e está cansado desse prefeito”, disse o ex-senador.
Além da Tabata, as articulações internas apontam para uma movimentação do próprio Aníbal, assim como de Mário Covas Neto, que leva o prestígio do nome do pai, o ex-governador de São Paulo, figura de peso na história tucana.
Mão no bolso
Datena, quando aceitou concorrer pelos tucanos à prefeitura de São Paulo, chegou a dizer a pessoas próximas que não teria problema em abandonar o alto salário que recebe na televisão, mas condicionou a sua participação a não precisar “colocar a mão no bolso para nada”, dizendo que não repetiria o comportamento do ex-governador de São Paulo, João Doria, que teria investido, em 2016, uma pequena fortuna na sua pré-candidatura para ser o candidato a prefeito.
Mas a condição imposta por Datena pode esbarrar em alguns obstáculos. Um deles é a cobrança de dívidas de uma gráfica, ainda da campanha de José Serra à prefeitura, na eleição de 2004, que soma um débito de mais de R$ 2,5 milhões, que já pediu a penhora dos fundos públicos a que a legenda tem direito. Sem os recursos das transferências públicas o partido precisará contar com o apoio dos diretórios nacional ou estadual para seguir com a campanha do apresentador, que sem recursos, poderia desistir da candidatura.
No entanto, essa desistência também pode ser onerosa ao apresentador, ao menos é o que promete o ex-presidente municipal da legenda, Fernando Alfredo. “Se não aceitarem a participação da militância, eu vou entrar com novas ações. Inclusive uma para acionar o Datena, no CPF dele, para que ele devolva ao partido tudo que foi gasto do fundo partidário na pré-campanha se ele resolver desistir da eleição”, disse o ex-dirigente.
Sobre Fernando Alfredo, José Aníbal diz que o ex-presidente não passa de um “gangster, vigarista” a quem acusa de utilizar “200 contracheques da prefeitura” – cargos comissionados na gestão Nunes ocupados por filiados do partido - para tentar levar a legenda na direção de apoio ao prefeito Nunes.
Segundo a pesquisa da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, divulgada na quinta-feira, realizada com uma margem de erro de 2,5 pontos percentuais e registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob número SP-04746/2024, o apresentador José Luiz Datena (PSDB) aparece como terceiro colocado com 12%, empatado tecnicamente com o coach Pablo Marçal (PRTB), que soma 11%.
Boulos aparece na liderança com 26% das intenções de voto e o atual prefeito, Nunes, em segundo com 22%. A deputada Tabata aparece na quinta colocação com 5% e o deputado Kim Kataguiri (União Brasil) em sexto, com 3%. Essa pesquisa fez as perguntas das chapas conhecidas, com a vice de Boulos, a ex-prefeita, Marta Suplicy (PT), e no caso de Nunes, o seu provável vice, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o coronel Mello Araújo (PL).
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