A revista britânica The Economist publicou, na edição deste fim de semana, um editorial em que critica o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sob a ótica de sua política econômica. Ao comparar aos dois primeiros governos do líder petista, a publicação aponta que o “terceiro mandato está se moldando para ser mais perdulário”, mas reconhece que “há pouco risco imediato de uma crise cambial”.
O artigo também faz referência à idade do chefe do Executivo brasileiro e sugere que ele deveria começar a preparar novas lideranças para sucedê-lo. “Lula fará 80 anos na próxima eleição. Ele deveria olhar para o futuro, promover sucessores mais jovens e lutar pela reforma do Estado que o Brasil precisa, para abrir espaço fiscal para políticas genuinamente progressistas. Em vez disso, ele parece empenhado em repetir a velha fórmula de taxar e gastar, em seu caminho para mais um mandato”, diz a The Economist.
O artigo começa relembrando o cenário político brasileiro antes das eleições de 2022, sob o comando de Jair Bolsonaro — a quem a revista descreve como “populista de extrema-direita” que “espalhou intolerância e armas, e encorajou a pilhagem da floresta amazônica”.
A ameaça que Bolsonaro representa à democracia, para a revista, “foi resumida por sua tentativa fracassada de persuadir as forças armadas a reverter sua derrota eleitoral”. Sobre o presidente que o sucedeu, acrescentou que, “quaisquer que sejam suas falhas, Lula é um democrata”. E que o petista “agiu rapidamente para conter o desmatamento (da Amazônia), o que é do interesse do Brasil e do mundo”.
As críticas mais severas foram feitas à política econômica do país, em um cenário bem mais adverso do que o que Lula encontrou entre 2003 e 2007. “Os tempos estão mais difíceis agora”, reconhece a publicação.
“O Brasil que ele herdou perdeu o rumo. O crescimento econômico anual nos 10 anos até 2022 foi, em média, de apenas 0,5%, embora tenha melhorado um pouco desde a pandemia. O problema é que Lula está gastando como se o país fosse muito mais rico do que é. Os gastos, neste ano, cresceram impressionantes 13% acima da inflação em comparação com o mesmo período do ano passado, e o deficit fiscal é de 9% do PIB. Os gastos do governo, em todos os níveis, estão caminhando para quase 50% do PIB, e a dívida pública, para 85%. Diante de uma política fiscal expansionista, para conter a inflação, o banco central recorreu à política monetária de uma jiboia.”
"Incontinência fiscal"
O Congresso Nacional não foi poupado. Chamado de "voraz" pela revista, o Parlamento "conquistou mais poder orçamentário sob Bolsonaro, que também ofereceu brindes pré-eleitorais que têm sido difíceis de descartar".
"Os aliados de Lula têm menos peso no Congresso do que no passado, obrigando-o a comprar o apoio de outros (partidos). Grande parte dos gastos envolve brindes para interesses especiais. Mas Lula poderia impedir parte disso, aderindo estritamente à estrutura fiscal que seu governo elaborou para substituir um teto de gastos rígido, que quebrou sob Bolsonaro. Em vez disso, ele atirou no Banco Central, confundindo o sintoma de altas taxas de juros com sua causa subjacente: a incontinência fiscal."
A revista credita mais ao presidente do que à equipe econômica a responsabilidade pela política fiscal expansionista que assusta os analistas de contas públicas.
“Este mês, Lula deu mais apoio sincero a Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda, cujos esforços extenuantes para conter os gastos enfrentaram resistência política”, aponta o editorial. Na sequência, sugere que o petista, aos 78 anos, “deveria olhar para o futuro, promover sucessores mais jovens”. Para a The Economist, “o problema é que Lula está seguindo um caminho de declínio administrado”.
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