O site do Instituto Conservador Liberal (ICL), entidade idealizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), veicula foto da passeata de atrizes contra a censura imposta pela ditadura e uma manifestação contra o próprio regime militar.
A imagem ilustra o artigo "Entre sufrágios e naufrágios: um olhar sobre o voto feminino", de autoria da hoje deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PL), de Santa Catarina, que critica as feministas e argumenta que o direito da mulher votar foi fruto dos homens que planejaram a República, a democracia e o liberalismo. "Foi a evolução cultural deles que permitiu às mulheres fazerem parte dessas conquistas". Não consta na página a data da publicação do texto.
Na foto, emblemática e das mais representativas sobre aquele período, aparecem de mãos dadas, na passeata, cinco consagradas atrizes brasileiras: Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell. Não é a primeira vez que essa imagem das artistas é explorada pela direita brasileira e por partidos políticos desse espectro, como o PL.
A fotografia já foi usada pela atriz Regina Duarte, pelo Partido Liberal e também pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que preside o PL Mulher. No caso de Regina Duarte, gerou até um processo judicial. Janaína Diniz, filha de Leila Diniz, a acionou pelo uso indevido da imagem de sua mãe, exposta num vídeo, na qual a foto surge durante um discurso do então presidente Jair Bolsonaro em defesa do golpe militar. A imagem das atrizes surge quando Bolsonaro afirma que "64 foi uma exigência da sociedade" e que "as mulheres nas ruas pediam o restabelecimento da ordem". As cinco atrizes não pregavam nada disso. Ao contrário. Michelle Bolsonaro já associou a foto à conquista do voto feminino, o que também não corresponde à verdade.
Regina Duarte, por decisão judicial, se retratou na última segunda-feira (15), nas suas redes. Ela afirmou que Leila Diniz era sua amiga e que, ao publicar a imagem, em dezembro de 2022, acreditava que estava "ressaltando o valor da força da mulher através daquele grupo de atrizes que eu amava, respeitava e era para mim um exemplo: lutavam por seus direitos de liberdade de expressão".
Mas segundo a advogada Maria Isabel Tancredo, que representa a diretora Janaína Diniz na ação, a execução contra Regina Duarte seguirá enquanto não houver cumprimento efetivo da obrigação determinada em sentença transitada em julgado."
Regina Duarte não fez a retratação determinada pela Justiça, mas uma tentativa de justificar o injustificável. É evidente que não cumpre com a obrigação de explicitar aos seguidores da atriz que Leila Diniz nunca apoiou a Ditadura Militar e que a fotografia utilizada no conteúdo infringente foi, na verdade, feita em um contexto de oposição ao regime e à censura".
O ICL organiza no Brasil a Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora), que, na edição deste ano, recebeu o presidente argentino Javier Milei. No fim de semana de discursos, no início deste mês, lideranças bolsonaristas pregaram a anistia de Jair Bolsonaro, atacaram o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e defenderam a anistia dos presos pelos ataques do 8 de janeiro.
O Correio entrou em contato com o gabinete e com a assessoria da deputada Ana Campagnolo, mas não obteve retorno. E não conseguiu contato com o gabinete de Eduardo Bolsonaro nem com o próprio. O espaço está aberto para manifestações de Campagnolo e do deputado.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br