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Bolsonaro e Ramagem cumprem agenda para mobilizar militância

Ex-presidente e deputado Alexandre Ramagem, ambos no centro de investigações sobre a chamada "Abin paralela", participam de eventos no Rio de Janeiro. Segundo postagem do senador Flávio Bolsonaro em rede social, ideia é "dar força aos perseguidos"

Ramagem chega à sede PF para depor sobre uso ilegal da Abin. Ele é apontado como o braço de Bolsonaro no esquema de bisbilhotagem -  (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Ramagem chega à sede PF para depor sobre uso ilegal da Abin. Ele é apontado como o braço de Bolsonaro no esquema de bisbilhotagem - (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

No centro da investigação que apura o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) postaram vídeo nas redes sociais convocando apoiadores para eventos públicos nos quais comparecerão, nos próximos dias. O parlamentar, porém, prestou depoimento, ontem, à Polícia Federal — na Zona Portuária da capital fluminense — para se explicar sobre a chamada “Abin paralela”.

As agendas públicas tentam mobilizar a militância bolsonarista em um momento em que o ex-presidente e um dos seus principais colaboradores estão na mira de investigações que podem complicar, ainda mais, o futuro de ambos. Em 4 de julho, a PF indiciou Bolsonaro no caso das joias sauditas e, com a gravação da reunião para tratar da questão das “rachadinhas” que envolvem o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o coloca no centro da investigação pelo uso de instituições de Estado para o arquivamento de apuração que vinha sendo realizada pela Receita Federal contra o filho 01.

Já Ramagem correu o risco de ser sacado pelo clã Bolsonaro da disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro, pois teria gravado a reunião sobre as “rachadinhas” sem o consentimento do ex-presidente. Nas últimas horas, circularam rumores de que poderia ser substituído pelo deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro, na corrida ao Palácio da Cidade.

“Falar da cidade e dar força aos perseguidos. Sua presença é essencial”, escreveu Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ao divulgar o vídeo e as agendas do pai e de Ramagem.

Na gravação, o ex-presidente reiterou seu apoio à candidatura de Ramagem à capital fluminense. A manutenção do repaldo é apontada como uma vitória de Flávio, principal articulador da campanha do ex-diretor da Abin. Faltando apenas três meses para as eleições municipais, o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), aparece com 53% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Ramagem tem 9%. Bolsonaro disse, na gravação, que os atos no Rio servirão para discutir os problemas do município. A previsão é de que o ex-presidente desembarque no Rio, hoje, para eventos na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio) e em Duque de Caixas, na Baixada Fluminense. Bolsonaro e Ramagem estarão, amanhã, em Campo Grande (Zona Norte da capital), Itaguaí (no Grande Rio) e Angra dos Reis, e, no sábado, em Niterói (também Grande Rio).

Na próxima segunda-feira, o PL oficializará a candidatura de Ramagem a prefeito. O ex-presidente não deve ir à convenção, pois, segundo ele, tem compromissos em Brasília.

Depoimento

Apesar de ter superado o mal-estar da gravação da reunião das “rachadinhas” — que, segundo ele, foi autorizada pelo ex-presidente —, Ramagem prestou depoimento à PF por conta de sua atuação à frente da Abin. Ele nega as acusações de que tenha colocado a agência de inteligência a serviço do clã Bolsonaro a fim de perseguir e espionar desafetos da família e do governo do ex-presidente.

Uma das perguntas feitas a Ramagem questiona um encontro dele com o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa, que teria ocorrido no ano passado. Além disso, foi indagado sobre a reunião cujo tema foi a investigação, pela Receita Federal, sobre as “rachadinhas” que envolvem Flávio Bolsonaro.

A PF descobriu que autoridades dos Três Poderes, advogados e jornalistas foram espionados ao longo de vários meses pela chamada “Abin paralela”. O monitoramento ilegal ocorreu principalmente por meio do sistema First Mile, de origem israelense e que foi comprado pelo governo brasileiro alegando necessidade de usá-lo em investigações.

O esquema de espionagem contava com a participação de integrantes da PF cedidos à Abin, que, inclusive, municiavam o chamado “gabinete do ódio” — esquema de disseminação de mentiras e desinformações que teria funcionado dentro do Palácio do Planalto e que seria subordinado ao vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho 02 do ex-presidente. A perspectiva dos investigadores é de que as apurações sejam concluídas em até 60 dias.

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postado em 18/07/2024 03:55
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