O governador Ronaldo Caiado, de Goiás, aumentou a pressão, ontem, para que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) seja incluído no projeto de lei (PL) que trata da renegociação da dívida das unidades da Federação com a União. Ele se reuniu com o ministro Fernando Haddad, no Ministério da Fazenda, e defendeu que os entes endividados que aderiram ao RRF possam entrar no Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).
Segundo Caiado, a ideia é fazer com que as unidades da Federação não percam os benefícios atuais do RRF, ao mesmo tempo em que renegociam o débito que têm com a União. "Trouxemos algumas solicitações para que o Regime de Recuperação Fiscal também esteja dentro do plano do Propag, que é o novo projeto de renegociação das dívidas", salientou.
Segundo o governador, a dívida de Goiás com a União está em torno dos R$ 17 bilhões — o estado consta da lista dos cinco maiores devedores, que, juntos, somam R$ 700 bilhões. Atualmente, os débitos são corrigidos pela inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mais 4% de juros ao ano.
"Quando você tem uma indexação da dívida pelo IPCA mais 4%, mesmo que pague as parcelas, a dívida só vai aumentar. O que os estados querem é que, com o pagamento, a gente tenha o declínio da dívida. Essa é a proposta — o quanto podemos diminuir essa dívida", observou.
Além de Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul estão no regime de recuperação fiscal. A medida prevê que a União assuma os débitos e não execute as contragarantias em caso de inadimplência. Os valores não pagos podem ser refinanciados em até 360 meses.
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Segundo o governador goiano, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e relator da matéria, Davi Alcolumbre (União-AP), deve receber os governadores antes de apresentar o relatório sobre o PL da renegociação da dívida dos estados. "Notei que ele tem uma preocupação muito grande em poder nos ouvir para fazer a redação de um projeto final", elogiou.
A proposta em tramitação no Senado prevê que a dívida dos estados que aderirem ao Propag fique congelada no valor atual e os juros sejam abatidos conforme o ente federativo faça investimentos nas áreas de infraestrutura, educação e saúde, além de concederem bens à União como forma de abatimento.
A proposta apresentada por Caiado tem o apoio do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Ele se reuniu, separadamente, com Alcolumbre, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar do assunto quando o governador goiano estava com Haddad.
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"(A renegociação das dívidas) não é um programa, é uma mudança de indexador. A gente não está pedindo um programa. A gente está pedindo que isso seja inserido, inclusive, dentro do regime, para os estados que estão fora e para os estados que estão dentro. Seja uma nova regra para todos", disse Castro, após encontrar Lira.
O governador fluminense observou que "o regime (de recuperação fiscal), na verdade, é um sistema especial de pagamento — vem em cima do estoque da parcela. Queríamos que alterasse o estoque, mas o governo federal não topa alterar. Então, a gente quer mexer na parcela por meio dos indexadores. Nossa ideia é que isso sirva para o Brasil inteiro".
Castro também sugeriu o uso do Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR), que será criado com a reforma tributária, para abater as parcelas das dívidas dos estados. "Até porque, a gente transformaria esse abatimento num dinheiro, na prática, muito maior, uma vez que esses juros não mais incidiriam naquele valor", explicou.
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Para o governador fluminense, os investimentos obrigatórios que os estados fazem atualmente em saúde e educação também são elementos para abater as dívidas. "Que a gente não ficasse só tendo que gastar dinheiro novo, mas que o dinheiro que já é investido fosse também parte disso. O presidente Davi (Alcolumbre) falou que acha que é uma boa proposta", afirmou.
Já o governo de Minas Gerais considera que pouco se altera a situação da dívida do estado com a União — em torno dos R$ 165 bilhões — a extensão do prazo para pagamento, até 1º de agosto, concedida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), na terça-feira. A observação é do vice-governador Mateus Simões.
Por conta disso, o governo mineiro pretende apresentar outro pedido de prorrogação do prazo para o ministro Nunes Marques, relator do processo contra o estado. Isso porque a expectativa era de que o prazo fosse prorrogado até 28 de agosto.
Projeto permite mudança de regime
Instituído pelo Projeto de Lei Complementar (PLP) 121/24, de autoria de Rodrigo Pacheco, o Propag prevê que a unidade da Federação poderá migrar do RRF para o novo programa de renegociação de dívidas "nos termos do regulamento" — que seria um decreto que o governo precisará editar após a aprovação da proposta. A matéria tem apoio, sobretudo, dos governadores dos estados que têm as maiores dívidas com a União. O presidente do Senado garantiu que o projeto de lei será apreciado na primeira quinzena de agosto, depois do recesso parlamentar — que começa hoje. (Com Agência Estado).
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