Investigação

Ramagem e Tostes vão prestar depoimento à PF para explicar Abin Paralela

Ex-diretor da agência e ex-chefe da Receita esclarecerão à PF reunião sobre estratégia para enterrar apuração de "rachadinha" envolvendo Flávio Bolsonaro

Ramagem propôs abrir procedimentos contra os auditores da Receita, dirigida por Tostes — elogiado por Bolsonaro -  (crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)
Ramagem propôs abrir procedimentos contra os auditores da Receita, dirigida por Tostes — elogiado por Bolsonaro - (crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e o o ex-secretário da Receita Federal José Tostes devem prestar depoimento, hoje, à Polícia Federal (PF) por conta da investigação da chamada Abin Paralela — que apura o uso da estrutura da Agência Brasileira de Informações para espionagem de desafetos e adversários durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois constam no áudio da reunião em que é discutido uma estratégia para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) na investigação sobre a "rachadinha" — esquema de devolução de parte dos salários dos funcionários do gabinete, quando ele era deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Na segunda-feira, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo da gravação da reunião ocorrida em 2020. Dela participaram, além de Ramagem, Bolsonaro, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI, ao qual a Abin é subordinada), Augusto Heleno, e as então advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach. A reunião durou 1h08 e foi gravada por Ramagem — que, em vídeo publicado nas redes sociais, disse ter recebido a autorização de Bolsonaro para registrar o encontro.

O ex-diretor da Abin propõe abrir procedimentos administrativos contra os auditores-fiscais da Receita que investigaram o senador, a fim de tentar anular as apurações. Bolsonaro concorda. A estratégia foi colocada em prática e o processo contra Flávio acabou arquivado em 2022.

"O secretário da Receita é um cara muito bom", diz Ramagem, em certo momento da reunião.

"Ninguém está pedindo favor aqui (inaudível). É o caso conversar com o chefe da Receita, o Tostes", diz Bolsonaro pouco depois.

Os investigadores da PF destacam que o ex-presidente fala, mais de uma vez, em usar o cargo para acessar altos funcionários do governo que poderiam ter informações úteis para a defesa. Segundo os investigadores, a Receita chegou a abrir uma sindicância interna contra os auditores que levantaram os dados que apontavam a prática rachadinha por Flávio.

Bolsonaro sugeriu conversar com Tostes e, depois, disse que iria falar com o então chefe do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) para "resolver o assunto". As advogadas apontam, então, que o melhor caminho seria chegar ao chefe da estatal, Gustavo Canuto — que também deve ser chamado a depor pela PF.

Luciana e Juliana sugerem que o Serpro — que administra o sistema da Receita — poderia apurar se auditores acessaram dados de Flávio. Ramagem, então, diz que Canuto era de outro órgão, mas poderia ser um caminho para obter informações adicionais sobre a investigação.

STF se corrige

O STF se corrigiu, ontem, e destacou que a decisão de Moraes não proíbe que Bolsonaro e Ramagem se encontrem por serem investigados pelo esquema da Abin paralela. Inicialmente, a Corte informara que a determinação proibia encontros entre eles. No entanto, explicou que a ordem é válida para os investigados atingidos pela etapa da semana passada da Operação Última Milha, da PF. Nem o deputado nem o ex-presidente estão entre os alvos.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 17/07/2024 03:55
x