Reforma Tributária

Sem imposto seletivo, armas de fogo podem ter queda nos preços

Lobby da indústria armamentista consegue tirar seus produtos do imposto do pecado, mas governo quer rever no Senado e incluir armas e munições no imposto seletivo

Para o policial federal e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa, a alteração tributária só deve ampliar a circulação de armas no país

 -  (crédito: Max Kleinen/Unsplash)
Para o policial federal e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa, a alteração tributária só deve ampliar a circulação de armas no país - (crédito: Max Kleinen/Unsplash)

Com a aprovação do texto da regulamentação da reforma tributária aprovado na Câmara dos Deputados na última semana, as armas de fogo e munições ficaram fora do imposto seletivo, o conhecido “imposto do pecado”. Agora o governo deve buscar alterar essa medida no Senado, porque dessa forma as armas de fogo devem registrar queda expressiva de preço.

Sem a inclusão dos armamentos na alíquota destinada a sobretaxar produtos que podem causar danos à saúde, como o cigarro, restando apenas a alíquota padrão no novo modelo tributário, que deve ficar em torno de 27%, muito abaixo do imposto médio atual que chega a cerca de 90%.

Para o policial federal e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa, a alteração tributária só deve ampliar a circulação de armas no país.

“Permitir que armas de fogo e munições tenham a mesma tributação que flores, fraldas e brinquedos mostra o tamanho do problema que vivemos no país. Com a mudança, na prática, a tributação cairá de 89,25% para 26,5%. O crime organizado agradece.

O policial federal ainda lembra que a medida tem o potencial de fazer o país caminhar em direção ao modelo dos Estados Unidos. Ainda lembra que o criminoso que atentou contra a vida do ex-presidente Donald Trump utilizou-se de um modelo de armamento que durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) teve a comercialização autorizada no país, o que entende como um risco.

"Segundo os dados levantados pelo recadastramento de armas que aconteceu durante o governo Lula, a gente sabe que mais de 30 mil fuzis, inclusive a plataforma AR (AR-15) utilizada no atentado contra Trump, o que mostra que, durante o governo Bolsonaro, a gente se aproximou do cenário dos Estados Unidos com armas potentes, com plataformas de guerra em circulação", pondera o policial.

O vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, também criticou a decisão da Câmara de excluir o armamento, apontando que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve atuar no Senado Federal para reverter a decisão.

“Eu sempre entendo que você deve beneficiar mais a população mais pobre através do Imposto de Renda. O imposto de Renda deve ser sempre o fator mais importante de justiça de natureza tributária. Você colocar comida na cesta básica não é ruim. O ruim é você tirar do seletivo arma”, disse Alckmin.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apontou que a equipe econômica do governo Lula também irá trabalhar pela inclusão das armas e munições no imposto seletivo durante a discussão no Senado Federal durante o segundo semestre. “Nossa proposta é que volte o imposto seletivo sobre as armas”, disse o ministro em evento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo.

Revisões

Além do armamento, o governo vem sinalizando que deve ainda discutir a sobretaxa do imposto seletivo para os alimentos ultraprocessados e agrotóxicos.

“Tem muita coisa sendo discutida ainda após a aprovação da primeira etapa da regulamentação da reforma. Tem gente que quer os ultraprocessados de volta ao imposto seletivo também”, disse Haddad.

Posição defendida pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, que ainda busca a inclusão dos agrotóxicos na discussão do Senado da etapa da regulamentação da reforma tributária.

“Espero que o Senado corrija algumas decisões da Câmara. Agrotóxicos e ultraprocessados têm de estar no imposto seletivo, inclusive para subsidiar o fato de não ter imposto para frutas, verduras e proteínas”, defendeu Teixeira, em um café com jornalistas na última quarta-feira (10/7).

Mas Teixeira aponta que o debate deve ser feito pela sociedade para garantir a mudança no Senado. “O efeito do ultraprocessados e dos agrotóxicos são muito ruins para a saúde e causam doenças graves, como a obesidade, no caso dos ultraprocessados. No primeiro momento, quem venceu esse debate na Câmara foi o lobby da indústria, agora o Senado precisa fazer esse debate com a sociedade”, disse o ministro.

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postado em 15/07/2024 12:03 / atualizado em 15/07/2024 12:04
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