Ao vir à tona que o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) gravou, quando dirigia a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), uma reunião que teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o parlamentar agora está perto de ver naufragar a candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro, em outubro. Interlocutores do PL consideram que o hoje parlamentar traiu o padrinho político ao registrar em áudio — que está em poder da Polícia Federal (PF) — o encontro que tiveram.
Aliados de Bolsonaro afirmam que ele ficou muito irritado ao saber da existência do áudio feito por Ramagem, amigo de longa data da família e próximo ao filho 02 do ex-presidente, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL). A gravação da reunião, que não teria sido autorizada pelo ex-presidente, tem tudo para estremecer o apoio ao escolhido do clã para disputar o pleito carioca.
A posição de Ramagem, sem conseguir decolar nas intenções de voto à prefeitura carioca, fica ainda mais enfraquecida. Ele aparece apenas no terceiro lugar das sondagens eleitorais no berço político de Bolsonaro — apenas 7% nas intenções de voto do último levantamento do DataFolha, realizado entre os dias 2 e 4 de julho. Na sondagem, o representante de Bolsonaro fica atrás do atual prefeito, Eduardo Paes (PSD) — que tem 53% e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, e do candidato do PSol, o deputado federal Tarcísio Motta — 9%.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, garantiu ao Correio que todo o clã Bolsonaro participará ativamente da campanha na capital fluminense para reverter a vantagem de Paes. “É uma questão de honra. É a terra dele, ele vai colocar peso na eleição do Rio”, garantiu. Mas, com as últimas revelações, integrantes do partido dizem acreditar em um apoio mais modesto ou mesmo na substituição de Ramagem, já que ainda falta pouco mais de um mês para o prazo de registro de candidaturas — que se encerra em 15 de agosto.
Ramagem foi ao X (antigo Twitter) acusar a PF de agir para atrapalhar sua pré-candidatura. Afirmou que o documento serviu apenas para levar a “imprensa a ilações e rasas conjecturas”.
Prisões mantidas
O (STF) manteve as prisões de cinco presos na quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF). Todos fariam parte de um esquema de bisbilhotice, montado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para favorecer os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, monitorar ilegalmente ministros do STF e políticos opositores.
Mateus de Carvalho Spósito, Richards Pozzer, Marcelo Araújo Bormevet, Giancarlo Gomes Rodrigues e Rogério Beraldo de Almeida passaram, ontem, pelas audiências de custódia e continuam presos preventivamente. A chamada “Abin paralela” não apenas espionaria ilegalmente autoridades do Judiciário, do Legislativo e da Receita Federal, além de jornalistas, como ainda municiaria o “gabinete do ódio” — grupo quer atuava dentro do Palácio do Planalto disseminando mentiras e desinformações contra os adversários do governo Bolsonaro.
Mas o grupo da “Abin paralela” também é suspeito, segundo a PF, de ter algum envolvimento com a minuta do golpe. Uma das versões do documento previa a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) depois do resultado da eleição de 2022. Uma conversa entre dois presos na Operação Última Milha faz uma referência à possibilidade de Bolsonaro assinar o “decreto”.
As mensagens citadas no relatório da PF foram trocadas em 21 de dezembro de 2022, entre o policial federal Bormevet e o sargento Giancarlo — que continuam presos. Os investigadores pretendem usar diálogos da dupla, além de outras evidências sobre espionagem de autoridades e jornalistas, para abastecer os inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos antidemocráticos.
Para a PF, “referências a rompimento democrático” por parte dos investigados indica que eles tinham “potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”. (Com Agência Estado)Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br