Expoente do conservadorismo na capital federal, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que a direita está num bom momento, tanto no DF quanto no Brasil. “A gente tem bons nomes aparecendo para o Senado, para o governo, para deputado federal e distrital. Acho que estamos no melhor momento aqui no DF, de forma mais organizada do que nunca, e isso também se reflete em nível nacional”, enfatizou, em entrevista ao jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Denise Rothenburg, no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Em nível local, ela cita como nomes para comandar o governo em 2026: Celina Leão (PP), Michelle Bolsonaro (PL), Paula Belmonte (Cidadania), Izalci Lucas (PL) e ela mesmo. Para a Presidência, aponta os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Jr (PSD). “Eu olho para a esquerda: quem são os nomes da esquerda? Está difícil. E esse cenário se repete em nível nacional. Temos bons nomes na direita, e eu não consigo ver o nome para suceder o presidente Lula”, frisou. “Eu só sei que o Brasil será direita, como o DF será a direita.”
A senadora também criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por ter descriminalizado o porte de até 40 gramas de maconha para uso pessoal. “É o início do fim”, enfatizou. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como está a “fila” para 2026?
A fila está linda e só cresce. Estamos num momento muito bom da direita e da centro-direita, tanto no DF como no Brasil. No DF, a gente tem bons nomes aparecendo para o Senado, para o governo, para deputado federal e distrital. Acho que estamos no melhor momento aqui no DF, de forma mais organizada do que nunca, e isso também se reflete em nível nacional. As eleições municipais vão ser um ensaio para o que vai acontecer em 2026.
Nesses dois anos desde que assumiu como senadora, quais foram as conquistas que a senhora vê, não só pessoais, mas também do grupo conservador do qual faz parte?
Minha candidatura foi atípica, de última hora, e fiz uma conversa com o eleitorado. Estava na hora de Brasília eleger uma causa, e não uma política. E eu conversei com a base, falei com as famílias. Falei sobre a proteção da criança, proteção da infância, do idoso, da mulher, falei sobre a pauta do suicídio, sobre educação de qualidade, saúde de qualidade, e as pessoas do DF gostaram do que eu falei. Fui eleita para isso. Sou uma senadora de causas. Não sou aquela senadora política, de ficar no dia a dia nas brigas políticas e de me envolver nas questões políticas partidárias, por exemplo. Estou trabalhando em cima de causas. Hoje, quero me consagrar como a senadora da infância.
Como fará isso?
Desde o primeiro dia, tenho apresentado inúmeras propostas de proteção da infância no país, e quando se protege a infância, eu viro o xerife. E aí eu sou o terror dos pedófilos, como falam, o terror dos estupradores, dos agressores de criança. Sobrava, quando o tema era a infância, a proteção da infância, quando era a agressão às crianças, mas também, com um olhar muito voltado para o Distrito Federal. Eu tenho feito muito pelo meu DF.
O que destacaria?
Por exemplo, saúde mental no DF. Na verdade, a saúde no DF precisa de uma atenção especial. Sou da base do governador Ibaneis, sou da base deste atual governo, mas também faço as avaliações deste atual governo. Sou crítica quando preciso ser crítica, sou apoiadora quando tenho de ser apoiadora. A saúde está precisando de uma atenção especial. Tenho um canal aberto com a Secretária de Saúde, tenho conversado sempre com ela. Não sou daquelas de subir na tribuna e gritar, berrar, eu prefiro levar proposições, propostas.
Quais são suas proposições?
Temos um deficit de Caps (Centros de Atenção Psicossocial) no DF. Conduzi as minhas emendas para a gente construir, este ano, quatro Caps no DF, atendendo inclusive uma determinação do Ministério Público — já tem determinação, os projetos estavam prontos, mas não tinham o dinheiro. Estou investindo na construção dos Caps, trabalhei a nomeação de novos profissionais na área da saúde, tenho conversado com o governador, e no ano que vem, quero mais Caps, quero mais atenção à saúde mental. A eleição para o governo do DF ainda está distante, mas fala-se muito da conversa que está havendo entre a senhora, Michelle Bolsonaro e Ibaneis.
Como vê esse cenário?
O DF será conservador em 2026. Disso nós temos certeza. É certo. Temos bons nomes para disputar, direita e centro direita, no DF. Temos Celina (Leão), que aparece; temos uma Michelle, que pode ser uma governadora também; temos um Izalci (Lucas), que está aparecendo; temos uma Paula Belmonte que, já ouvi falar, está sinalizando nesse sentido, então, bons nomes estão aparecendo. Tem Damares também. Deixa eu botar meu nome aqui também. O difícil vai ser todo mundo fechar em torno de um nome. Aí eu olho para a esquerda: quem são os nomes da esquerda? Está difícil. E esse cenário se repete em nível nacional. Temos bons nomes na direita, e eu não consigo ver o nome para suceder o presidente Lula. Mas aqui no DF, a gente vai ter que ter o cuidado de unir essa direita, e eu estou nesse papel.
Como assim?
Fiz um anúncio ontem (domingo), estou criando um grupo político no DF e quero estar nessa coordenação. As pessoas pensam que não, mas eu queria anunciar, aqui no CB.Poder, que tenho um grupo político que está se reunindo. Temos propostas para o DF. É um grupo suprapartidário. O DF precisa de um choque de gestão. A nossa máquina é pesada, vai ter que chegar a hora de uma reforma administrativa no DF, e não pode passar do próximo governo. Uma megarreforma. A máquina está inchada, e precisamos falar sobre isso. Por mais que o governador Ibaneis, que é meu amigo, esteja tentando fazer grandes mudanças, as mudanças que ele quer não se faz em dois governos, ele está dando o pontapé em muitas mudanças. Então o próximo governo vai ter que vir com muita coragem.
Não existia um pré-acordo para a indicação da vice-governadora, Celina Leão (PP-DF), para concorrer ao GDF?
Até Izalci (Lucas) se despontar como um pré-candidato, havia toda uma conversa em torno do nome de Celina. Por exemplo, a Michelle já falou de Celina, eu já falei de Celina, Ibaneis já falou, estamos construindo. Mas Celina é uma figura pública extremamente articuladora, e eu quero dizer para vocês que Celina não é só o DF. Celina pode ser um projeto-Brasil também. Ela vai ficar muito brava porque eu nunca falei sobre isso com ela, meu Deus, lá vou eu dar um furo aqui. Mas eu acho que o próximo governo federal vai ter que ter uma mulher, pelo menos como vice-presidente — senão presidente, como vice — e, se for uma junção de partidos e o PP tiver nessa indicação, Celina é um nome forte dentro do PP. Tem duas grandes mulheres, a Tereza Cristina e Celina, e a Celina é tida como uma grande articuladora, uma mulher de diálogo.
E no cenário nacional, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é o nome que a senhora defende?
Temos tantos nomes. Estamos no melhor momento da direita. Temos Tarcísio, Zema, Caiado, Ratinho (Jr.).
Mas Tarcísio é do seu partido.
É do meu partido, mas Tarcísio está num grande, megaprojeto em São Paulo. Acho que ele só viria a ser candidato se aceitasse um grande desafio de nação. São Paulo não quer que Tarcísio se afaste, os megaprojetos dele não serão entregues em quatro anos. Mas nós temos outros grandes nomes, temos uma Tereza Cristina, por que não uma mulher presidir o Brasil? Temos uma Damares, por que não eu estar lá também? Temos uma Michelle. Ela seria uma vice-presidente sonho de consumo de qualquer candidato, agregaria muita ternura e muita empatia no Brasil, muita pauta social. Eu só sei que o Brasil será direita, como o DF será a direita.
Na sua opinião, a esquerda não tem nomes?
Quem seria o sucessor de Lula? Haddad, com tantos erros na pauta econômica? Acho que os erros da pauta econômica do governo Lula — que, na verdade, eu não considero um governo, eu considero um desgoverno — vão afetar diretamente o vice-presidente Alckmin, e vai ser difícil quem estiver colado no Lula ganhar a eleição de 26.
Mas ele se identificando mais ao centro, não há como juntar a esquerda com esse pedaço do eleitorado?
Não cola mais, porque as pautas dele, o discurso dele é um discurso, ainda, de um Estado pesado, de uma dependência estatal, do povo dependente do Estado. Você não ver o Lula falar de desenvolvimento, de economia liberal. Ele mudar um discurso agora não vai colar. O setor produtivo está muito bravo com ele.
Qual é a sua avaliação sobre a decisão do STF, que estabeleceu uma quantidade que o usuário de maconha pode portar?
Usei uma frase muito forte e vou repeti-la: foi o início do fim. Se ficar como o Supremo Tribunal quer e determinou, é o início do fim. O Congresso estava debatendo o assunto, e as famílias estavam alimentando, no Parlamento, uma decisão mais acertada. O Parlamento estava debatendo a PEC 45, passou no Senado, está na Câmara, e a Câmara iria se debruçar e já daria uma resposta. O Supremo poderia ter esperado um pouco mais. As famílias precisavam ser ouvidas, e mais que as famílias, os povos tradicionais. Você não viu ninguém lá no Supremo falando dos indígenas. Os mais alcançados agora, com essa decisão, serão os indígenas. Áreas indígenas vão ser usadas para plantar maconha no Brasil. Os nossos indígenas não têm resistência a drogas. Olha o que está acontecendo com os indígenas aqui do Mato Grosso que tiveram acesso ao álcool e ao crack. Os indígenas terão acesso à maconha porque agora vão dizer para eles que não é mais crime.
O que achou de o STF fixar o porte de maconha em 40g?
Quarenta gramas de maconha são uma mãozinha cheia. Dá para fazer de 70 a 130 baseados, então o traficante vai estar na porta da escola com 130 cigarros (de maconha) dizendo para o adolescente que não é mais crime. E a minha preocupação é lá na ponta, aquela família mais humilde que usava como instrumento pedagógico dizer para o adolescente “não chegue perto da maconha porque é crime”. Esse instrumento poderoso que a família tinha no Brasil, ela não vai ter mais. Agora, vai ter o pai dizendo que não pode, e o traficante oferecendo por um preço bem baratinho, dizendo “você pode usar até 130 por dia e não vai preso”. Foi um descompasso. O STF tomou uma decisão não acertada, e quem ganhou com isso foi o crime organizado. Para quem vai ficar o dinheiro? Tem muita gente falando "agora nós vamos acabar com o tráfico". Mentira. Porque eles vão vender mais, eles vão ter mais traficantes, e para quem vai ficar o dinheiro? Você acha que o traficante vai pagar imposto de cada cigarro que ele vende? Vai ter uma maquininha ali emitindo nota fiscal do cigarro? Para onde vai esse dinheiro? Para o crime organizado. O Supremo Tribunal tomou uma decisão de fortalecimento do crime organizado no Brasil.
Como avalia a aprovação, em comissão do Senado, do projeto que libera os jogos de azar?
Foi uma decisão que agora contraria a sociedade também, sob a alegação de que vamos gerar emprego no Brasil, que vamos ter grandes cassinos no Brasil. Me poupem. Você acha que os grandes cassinos vão vir para o Brasil? Acha que o bilionário americano, europeu vai atravessar o continente para vir jogar num cassino no Brasil — se ele tem cassinos em grandes castelos na Europa — vai vir pegar malária no Brasil, dengue no Brasil? Isso vai facilitar os caça-níqueis nas esquinas, os bingos nas esquinas, o mais pobre ter acesso ao jogo de azar, agora legalizado e incentivado, e o que nós vamos ter? Caos. Estamos num momento de pautas de morte no Brasil. Drogas, jogos de azar. Estamos num momento de muita preocupação. E os jogos de azar vão fortalecer o crime. Você acha que os bicheiros que estão lá matando, os contraventores, os assassinos que estão lá, há anos, cometendo crimes, não serão os primeiros beneficiados com a legalização dos jogos no Brasil? E nós não temos órgãos de controle.
Como vê o fato de haver crianças e adolescentes apostando dinheiro?
Empresários estão nos procurando no Senado, fazendo fila em nossos gabinetes. O que tem de servidor endividado, empregado endividado, empregado gastando horas do trabalho em joguinhos eletrônicos e, todo mês, chega dia 10 — pagamento é dia 30 —, pedindo antecipação de salário. É uma história de "vale", "vale’" Quando eles vão investigar, o que que acontece? Dívidas de jogos eletrônicos. Ludopatia existe, a dependência de jogos existe. Aí você fala assim: "Mas senadora, e a loteria?" Há uma diferença aí muito grande, a ciência explica. Quando você compra uma cartela para jogar na loteria, vai ter que esperar uma semana, então tudo no seu organismo está pronto para esperar uma semana. O jogo é instantâneo, a adrenalina, os neurônios, o prazer. Não se compara um jogo de loteria com um joguinho do tigrinho, com um joguinho eletrônico, com um bingo. É instantâneo. É mais uma situação de saúde mental no Brasil que vai ser colocada em xeque. Então, o que está acontecendo no Brasil? Parece que querem instaurar uma desordem social. A quem interessa um menino dopado e viciado em jogos? A quem interessa um menino erotizado e dopado? Deixa eu dizer uma coisa para você: maconha deixa o menino abestado. Isso eu posso falar porque tenho experiência, trabalho com dependência química há mais de 40 anos. A maconha recreativa, que alguém usa ali no final de semana, o jovem antenado que usa, não vai ser essa realidade. Vai ser maconha todo dia, toda hora, os meninos vão ficar abestados. A ciência já falou que vão ter problemas de neurônios.
A maioria dos senadores aceitou essa proposta, certo?
Porque levaram para eles o argumento do emprego, da geração de renda, mas eles não tiveram tempo. É porque o Senado mudou, um terço do Senado mudou agora.
Mas o Senado não é conservador, hoje, mais do que era antes?
Mas é, também, voltado ao setor produtivo. Tem interesses econômicos nisso. Então, entre o interesse econômico e a possibilidade de geração de renda — e eles tiveram um argumento forte que os convenceu também — “tem que regularizar porque tá solto, não tem mais como controlar”. E eu conheço senadores conservadores, que pensam como eu, que disseram a mesma coisa do cigarro eletrônico agora: "Temos que regulamentar porque não tem mais como segurar". Esse foi o argumento que venceu, mas tem um outro aspecto que vocês talvez não estejam discutindo: a corrupção que vai acontecer. Vai ser lavagem de dinheiro. O Ministério Público se manifestou inúmeras vezes: não tem órgãos de controle para fiscalizar uma máquina lá num bingo, lá num cassino.
Sobre a eleição para a Presidência do Senado, o que o Republicanos pretende fazer?
Eu sonho, e acho que o grupo todo, com uma mulher na presidência do Senado. Seria significativo uma mulher na liderança. E estamos trabalhando muito o nome de Tereza Cristina (PP-MS) nos bastidores, a nossa ex-ministra da Agricultura. A Tereza é uma mulher incrível, ela é de conciliar, é muito mãe, é muito agregadora, muito competente, me inspira e me ensina. É uma parceira. Então, acho que seria interessante a gente começar a pensar numa mulher presidente do Senado.
Já não existe um pré-acordo com o senador Davi Alcolumbre (União-AP)?
Existe. Eu, inclusive, gosto muito do Davi. Eu não sei se vocês sabem que eu quase fui senadora no lugar dele, lá no Amapá. Bolsonaro queria que eu fosse candidata lá no Amapá, mas eu respeito e gosto muito dele. E o Davi tem uma coisa, um carisma que a gente não consegue entender. E há, ali, meio que um acordo, mas eu vou dizer uma coisa para você: muitas águas rolam debaixo de uma ponte, e estamos aí um pouquinho distantes dessa eleição. Então, vamos aguardar.
*Estagiário sob supervisão de Cida Barbosa
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