Governo

Silvio Almeida fala em púlpito evangélico

Na Igreja Batista da Água Branca, ministro dos Direitos Humanos vincula ética cristã à defesa dos direitos humanos na missão de abrir canais de diálogo com os fiéis

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, criticou com veemência o Projeto de Lei (PL) 1904/24, conhecido como PL do Aborto, em um evento da Igreja Batista da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, na noite de sexta-feira. Em mais um gesto de aceno do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao público evangélico, ele discursou por mais de uma hora, em tom de pregação, com o objetivo de falar diretamente aos fiéis e reforçar a mensagem de defesa dos direitos humanos.

Em suas declarações, Almeida ressaltou a importância dos valores democráticos e da laicidade do Estado, e destacou, por diversas vezes, a relação entre o papel do governo, a importância dos direitos humanos e a ética cristã. O ministro compareceu ao evento, chamado Conversas Pastorais, a convite do líder da Igreja Batista de Água Branca, Ed René Kivitz.

 

 

"Estou aqui por um chamado à democracia, à liberdade, à tolerância e aos direitos humanos. Valores que só prosperam num Estado laico. Estamos aqui porque amamos o Brasil. Temos em comum a ideia de que o respeito e o cuidado são condições essenciais para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária", declarou o ministro, aplaudido pelos presentes.

Ideologia do ódio

Com um discurso forte e bem construído — repleto de citações bíblicas e filosóficas —, Almeida condenou o que chamou de "ideologia do ódio", presente em algumas propostas de segurança pública e no PL do Aborto, de autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), líder evangélico da Assembleia de Deus. "Está envenenado pela ideologia do ódio quem defende que jovens negros sejam exterminados pela polícia. Está em engano e envenenado pela ideologia do ódio quem defende que uma política de segurança pública queira transformar policiais em matadores; e levar os policiais à morte, ao desespero e ao suicídio. Quem defende uma polícia violenta não é amigo dos policiais, é inimigo dos policiais. Está em engano, envenenado por uma ideologia de ódio, quem quer que uma mulher que foi estuprada seja presa", discursou Almeida, recebendo outra salva de palmas.

O ministro reforçou a importância do Estado laico, argumentando que a laicidade é uma garantia de liberdade religiosa para todos. "O cristianismo acredita no poder compartilhado, e o poder compartilhado é democracia. Esse é o nome. O cristianismo se coaduna com a liberdade, mas uma liberdade em que a responsabilidade e o cuidado com o outro são elementos fundamentais. Liberdade com responsabilidade, com cuidado e com respeito. Liberdade e direitos humanos. Por isso, os direitos humanos, em uma das suas facetas, são liberdade de religião e liberdade de crença", destacou.

Em uma outra ação recente realizada pelo governo na tentativa de conquistar esse público que apoia, em sua maioria, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no final de maio, Lula enviou uma carta à Marcha para Jesus em São Paulo, destacando a importância do evento e o papel vital da igreja nos compromissos de seu governo. O petista enviou como seu representante para o evento o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias. No documento, ele agradeceu o convite e lembrou ter sancionado o projeto de lei que incluiu a Marcha para Jesus no calendário nacional em 2009, durante seu segundo mandato.

Direitos trabalhistas

Silvio Almeida também aproveitou a oportunidade para relacionar o cristianismo com futuro e esperança, e reiterar a necessidade da defesa dos direitos trabalhistas. "Será que a gente não deveria pensar e se posicionar contra a destruição dos direitos trabalhistas? A ponto de uma parcela da população, mesmo tendo emprego, não conseguir se sustentar?", questionou.

Ele finalizou o discurso com um apelo à preservação da laicidade do Estado como um pilar fundamental da democracia brasileira. "Toda vez que alguém quer acabar com a laicidade do Estado não é para beneficiar os cristãos. Quem quer acabar com a laicidade do Estado é porque quer se beneficiar do Estado em proveito próprio. Não tenham dúvida disso", enfatizou.

Outros acenos

Em março, a AGU e o Ministério da Fazenda chegaram a um consenso com a bancada evangélica no Congresso para retomar o Ato Declaratório Interpretativo (ADI) que amplia a isenção fiscal sobre a remuneração de líderes de denominações religiosas. no mesmo mês, outra tentativa de aproximação política com lideranças evangélicas foi feita quando o governo lançou a campanha publicitária Fé no Brasil, destacando avanços na economia. Além das medidas tomadas nos últimos meses para quebrar a oposição de boa parte do eleitorado evangélico, Lula tem adotado um tom mais moderado, incluindo menções a Deus e à família, em seus pronunciamentos oficiais e declarações públicas.


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