O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a disparar contra o Banco Central. Afirmou que o chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, tem "lado político", e criticou a aproximação dele com o governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas. Também comparou a atuação do presidente do BC com a do ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União-PR), que disse ter "rabo preso a compromissos políticos".
Lula fez as declarações em meio à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou nesta terça-feira e prossegue nesta quarta-feira. A expectativa é de que o BC encerre o ciclo de cortes na Selic, a taxa básica de juros, mantendo-a no patamar de 10,5%.
"Só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: o comportamento do Banco Central. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político. E que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar", declarou Lula, em entrevista à rádio CBN.
O chefe do Executivo questionou a isenção de Campos Neto, citando jantar oferecido a ele por Tarcísio de Freitas, na semana passada, no Palácio dos Bandeirantes. No encontro, o governador fez uma série de elogios a Campos Neto. A aproximação sinaliza, para o mundo político, que o chefe da autoridade monetária pode ser indicado a um cargo caso o gestor paulista vença as eleições presidenciais de 2026.
"Não é que ele encontrou o Tarcísio. A festa foi do Tarcísio para ele. Certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhosa a taxa de juros de 10,5%. Quando ele se autolançar a um cargo, eu fico imaginando: nós vamos repetir o Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? O paladino da Justiça com rabo preso a compromissos políticos?", enfatizou. O presidente também disse que o gestor paulista tem mais influência sobre a política monetária do que ele.
Campos Neto fica à frente do BC até 31 de dezembro. Questionado sobre quem escolherá para a vaga, Lula afirmou que será uma pessoa com "compromisso com o desenvolvimento", com o "controle da inflação" e com uma "meta de crescimento" econômico e da massa salarial. "Alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce, e que não se submeta a pressões de mercado", frisou.
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Corte de benefícios
Lula também disse ter ficado impressionado com a quantidade de dinheiro que o governo deixa de arrecadar com benefícios fiscais. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), são R$ 518,9 bilhões em benefícios — R$ 646 bilhões, contando também benefícios creditícios e financeiros.
"As mesmas pessoas que falam que é preciso parar de gastar são as que têm R$ 546 bilhões (sic) de isenção, de desoneração da folha de pagamento, isenção fiscal. Ou seja, são os ricos que se apoderam de uma parte do orçamento do país, e eles se queixam daquilo que você está gastando com o povo pobre", ressaltou.
Ele confirmou que deu 22 dias aos ministros da área econômica, especialmente Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Fernando Haddad (Fazenda), para que apresentem propostas de cortes dos benefícios.
"Você pega a Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões. O setor de combustíveis, que tem isenção de R$ 32 bilhões. Você vai tentar jogar isso em cima de quem? Do aposentado? Do pescador? Da dona de casa? Da empregada doméstica?", listou.
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