Congresso

Presença de Paulo Pimenta deixa a Câmara em clima de guerra

Bolsonaristas atacam ministro Paulo Pimenta em audiência da CCJ. Arthur Lira propõe punição cautelar por quebra de decoro

Pimenta ficou na sessão meia hora além do horário previsto e mesmo assim foi chamado de
Pimenta ficou na sessão meia hora além do horário previsto e mesmo assim foi chamado de "fujão" ao sair - (crédito: Lula Marques/ Agência Brasil)

Convocada para debater o problema das notícias falsas em relação à tragédia climática no Rio Grande do Sul, a audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara com o ministro de Apoio à Reconstrução do estado, Paulo Pimenta, descambou para um bate-boca com troca de acusações iniciado pelo deputado bolsonarista Paulo Bilynskyj (PL-SP). O parlamentar questionou o ministro sobre a presença da esposa dele em uma viagem oficial a Santa Maria (RS) em helicóptero das Forças Armadas.

"Sou ministro, participo de eventos públicos e, muitas vezes, minha esposa me acompanha. Não posso dizer o mesmo do senhor. A minha delegação sou eu que escolho, e, com ela (minha esposa), mantenho uma relação de respeito, sem violência, sem agressão", respondeu.

O deputado paulista reagiu: "Ele (Pimenta) insinuou de alguma forma que meu relacionamento com minha esposa é violento. Isso, ministro, é para o senhor aprender o que é fake news, o que é falso e mentiroso. É esse tipo de moral de esgoto que Vossa Excelência traz aqui para Câmara", rebateu o parlamentar, aos gritos.

A partir daí, a oposição subiu o tom contra o ministro. O deputado Gilvan da Federal (PL-ES) citou denúncias investigadas pela Operação Lava-Jato e prática de "rachadinha" (quando um parlamentar se apropria de uma parte dos salários dos seus assessores) que, supostamente, envolveriam Pimenta.

O ministro rebateu o congressista: "Lamento sua desfaçatez. Nunca fui investigado pela Lava-Jato, nunca fui condenado em processo criminal. O senhor olhou para mim e lembrou do Flávio Bolsonaro. Ele é quem faz rachadinha", retrucou Pimenta, que ficou na comissão até as 18h30, meia hora depois do horário previsto. Mesmo assim, deputados de oposição puxaram o coro: "Fujão! Fujão!".

"Sou um deputado experiente. Essa Casa sempre teve um nível de respeito e tolerância sem agressividade, sem violência", disse o ministro, ao deixar a audiência. "É importante para a democracia que o Parlamento seja respeitado, que esse seja um espaço em que as pessoas sejam respeitadas pelo que elas falam sem serem hostilizadas, sem serem vítimas de agressão", ponderou. O debate sobre os danos causados ao esforço de emergência no Rio Grande do Sul pela profusão de fake news acabou relegado ao segundo plano.

Reação de Lira

Incomodado com a virulência dos "embates quase físicos", o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), apresentou, nesta terça-feira, ao Colégio de Líderes um projeto de resolução para mudar o Regimento Interno no sentido de permitir que a Mesa Diretora possa punir deputados por quebra de decoro com suspensão de mandato e proibição de participar dos trabalhos das comissões antes mesmo de o caso passar pelo Conselho de Ética.

"Não podemos mais continuar assistindo aos embates quase físicos que vêm ocorrendo na Casa e que desvirtuam o ambiente parlamentar, comprometem o seu caráter democrático e, principalmente, aviltam a imagem do Parlamento na sociedade brasileira", postou Lira na sua conta no X (ex-Twitter).

De acordo com o projeto, caberá depois ao Conselho de Ética referendar ou não as decisões cautelares da Mesa.

A iniciativa do presidente da Câmara — que já estava em gestação e não tinha relação com o bate-boca na sessão da CCJ — entrou na pauta da sessão noturna desta terça-feira. No comando da votação do pedido de urgência do projeto, Lira declarou que, "se (deputados) acham que vão resolver na via de fato, a Polícia Legislativa não entrará mais nesse debate". Passava das 22h quando o plenário decidiu aprovar a urgência, deixando a análise do mérito para sessão desta quarta-feira.

As brigas entre parlamentares têm se tornado comum nesta Legislatura, reflexo da polarização política que intoxicou o debate político no país. Na semana passada, o clima de tensão atingiu o ápice quando os deputados André Janones (Avante-MG) e Nikolas Ferreira (PL-MG) quase partiram para a agressão física após o Conselho de Ética arquivar uma denúncia contra Janones.

Horas depois, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a deputada Luiza Erundina (PSol-SP) passou mal e teve que ser levada a um hospital em uma sessão marcada por ríspidas discussões entre os integrantes do colegiado.


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postado em 12/06/2024 03:55