O desastre climático que provocou a enchente histórica no Rio Grande do Sul foi consequência de uma conjunção de fatores meteorológicos que havia sido detectado com dias de antecedência pelos institutos de previsão do tempo e informados ao Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Em três dias, o nível de alerta para o estado, emitido pelo centro, subiu de moderado (em 29 de abril) para muito alto (em 1º de maio).
O que os especialistas tentam responder é por que, diante dos alertas, o poder público não se antecipou para esvaziar áreas de risco. Para a diretora do Cemaden Regina Alvalá, essa avaliação deve ser feita sob dois aspectos: a gestão do risco de desastre e a gestão do desastre em si. No segundo caso, ela considera que houve muitos acertos, como a união das esferas de governo (federal, estadual e municipal). Mas faltaram ações que amenizassem os danos e as perdas de vida quando o desastre ainda estava apenas na previsão.
"É isso que nos diferencia de países como Chile e Japão, por exemplo, que investem na gestão do risco, que pressupõe conhecer a área, monitorar e alertar a população. Não estamos preparados para o pleno cumprimento da gestão do desastre", lamentou.
Para administrar as ações de atendimento às comunidades vitimadas por tragédias climáticas, ela lembra que é preciso saber, antes, quais são as alternativas para abrigar as pessoas e quais são as rotas de fuga, que devem ser conhecidas e sinalizadas. Regina também sugere que conteúdos sobre a ciência dos desastres sejam incorporados ao currículo escolar, o que ajuda a construir uma consciência sobre como agir em situações extremas.
Outro fator levantado por Regina é o treinamento da Defesa Civil e de outras áreas, como segurança pública e saúde. "Elas atuam na ponta, vendo como está a situação real. Tem que haver uma permanente interlocução entre a instituição federal que está emitindo os alertas e estados, municípios e sociedade", frisou.
Regina destaca, porém, que o país avançou no tratamento dos desastres climáticos. Em Petrópolis, na Região Serrana fluminense, em março, fortes chuvas provocaram mais de 500 deslizamentos de encostas e quatro pessoas morreram. "Deveria ser zero, mas, comparativamente ao volume de chuvas, foi um número pequeno. A cidade mostrou uma capacidade razoável para lidar com o desastre", lembra.
Ela destaca a necessidade de o país ter uma legislação que atenda às necessidades do poder público de agir com rapidez quando há a expectativa de um evento extremo, mas previsível. "Não temos lei que obrigue tirar alguém de casa, mas outros países têm. Os eventos extremos são em espaços de tempo cada vez mais curtos, e as pessoas têm que saber como agir", observou.
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