Não é preciso ser um cientista para perceber que o clima em todas as regiões da terra está mudando e que essas mudanças põem em risco nosso modo de vida. Com o conhecimento que a humanidade adquiriu do fim do século 18 até agora, é possível distinguir com bastante acerto o que tem origem em causas naturais e o que é provocado pela ação do homem. Esse conhecimento nos dá o poder de intervir nesses processos, para mitigá-los ou para nos adaptarmos às suas consequências.
Hoje, no Brasil ou em qualquer democracia, a política divide as pessoas em quase tudo e, como não poderia deixar de ser, divide também quanto à questão ambiental. Se ninguém pode em sã consciência negar o fato das mudanças climáticas, uma grande parte das pessoas prefere acreditar que elas não têm relação com a ação humana e, portanto, não tem cabimento políticas ambientais que custam caro. É um ponto de vista desesperado que, levado às últimas consequências, nos manterá passivos até que as mudanças se tornem irreversíveis.
Se o negacionismo é mais presente na direita política mais radical, não é infelizmente sua exclusividade. A esquerda, com suas agendas de soberania e de desenvolvimento a qualquer custo, sem falar nos ressentimentos coloniais, não é capaz de dar passos efetivos no combate à mudança do clima. Seu discurso é politicamente correto, mas, na prática, ela tem outras prioridades.
Uma pessoa razoável não pode ter dificuldades em perceber que a ação do homem é uma grande causadora das pressões que se abatem sobre o nosso ambiente. Até a Revolução Industrial, a população humana foi sempre pequena para as dimensões da Terra. No primeiro ano da era cristã, a população mundial tem sido estimada em 188 milhões de pessoas, e 1.800 anos depois estava perto de 1 bilhão, um crescimento de cinco vezes em 18 séculos. Pouco mais de dois séculos depois, somos hoje 9 bilhões de pessoas.
Do tempo dos romanos até o fim do século 18, o padrão de vida se manteve estagnado, sem pressão da produção e do consumo sobre os recursos da natureza. De 1750 até hoje, a renda de europeus e norte-americanos multiplicou-se por 20 e a do mundo como um todo, 14 vezes. A explosão demográfica multiplicada pela explosão da renda em pouco tempo não tinha como não pressionar o ambiente natural em que vivemos.
Esforço financeiro
Deter a mudança do clima vai exigir um esforço financeiro gigantesco dos países e, para isso, será indispensável a concordância e a adesão das suas populações. Além disso, será necessário um nível inédito de cooperação internacional. O movimento ambiental e o relativo engajamento dos principais governos nas discussões do clima coincidiu com o fim da União Soviética e o relaxamento das tensões geopolíticas.
De lá para cá, o mundo reconfigurou-se à base de novos antagonismos e as tensões geopolíticas voltaram a ser tão fortes quanto antes. O ambiente para a cooperação e a repartição justa dos custos da transição parece claramente sombrio.
Olhando para a frente com realismo, é possível prever que os antagonismos geopolíticos não devem favorecer políticas ambientais nacionais de grande alcance, pois a palavra de ordem nas grandes potências e nos blocos econômicos é vencer a competição e prevalecer, qualquer que seja o custo. Os movimentos ambientalistas estão perdendo tração porque sempre preferiram atuar à margem das correntes políticas principais e, agora, enfrentam isolamento.
Desde que a questão ambiental entrou na agenda dos governos e de parte das sociedades, muito progresso foi feito e muita coisa foi evitada. A preocupação ambiental, no entanto, é ainda uma pauta dos governos e das elites. Para que o combate às mudanças climáticas, com todos os seus custos e sacrifícios, adquira a escala necessária, é preciso que as pessoas comuns sejam persuadidas. Para isso, o discurso da ordem e do medo deve ser substituído pelo de esperança. Todos precisam acreditar que com a ciência e a política, a mudança do clima é mais uma luta que os homens são capazes de vencer.
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