tragédia no sul

Crise climática é desafio para o setor de infraestrutura

No Abdib Fórum 2024, autoridades defendem investimentos em prevenção de desastres, como o que provocou uma devastação no RS

Os eventos climáticos extremos acenderam um alerta para a necessidade de investimentos resilientes em infraestrutura. Em meio à tragédia que atinge o Sul do país, estratégias preventivas se mostram essenciais para a adaptação dos municípios. O tema foi debatido durante o Abdib Fórum 2024 Infraestrutura: bases para a neoindustrialização e o desenvolvimento sustentável, que ocorreu nesta quinta-feira, em Brasília.

O evento, realizado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), contou com autoridades e empresários do setor. O ministro das Cidades, Jader Filho, participante de um dos painéis do fórum, alertou: que o aconteceu no Sul do país é o "novo normal". "Se a gente não cuidar desta nova realidade a partir de ações de prevenção, vamos ver situações como essa se agravando cada vez mais", disse.

"A gente precisa primeiro compreender que essa política pública de prevenção não pode ser uma política pública do governo, tem que ser uma política de Estado. Nos últimos anos, não se tratou prevenção neste país", emendou o ministro.

Segundo ele, ao chegar à pasta, o governo tinha um orçamento de apenas R$ 27 milhões para prevenção de desastres. "Isso não dá conta nem sequer da carteira que a gente tinha naquele momento", comentou.

De acordo com Jader Filho, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deve priorizar projetos de prevenção. "Especialmente no caso do Rio Grande do Sul, por razões óbvias, vamos tratar a seleção do PAC especialmente como uma situação à parte. Isso já aconteceu na encosta. Todas as propostas que estavam ávidas para a proteção de encostas foram selecionadas, parte delas em Porto Alegre e outra parte em Santa Maria", destacou ele, que defendeu uma união entre as esferas de governo.

"Se nada for feito, tudo isso que a gente está vendo hoje a gente vai continuar vendo com cada vez mais frequência e, aí, não será mais só o Sul do país, será em outras regiões", acrescentou.

O presidente do Conselho de Administração da Abdib, André Clark, que discursou na abertura do fórum, mencionou a situação de calamidade e destacou a importância de somar esforços neste momento.

"Se o investimento em infraestrutura e indústria de base já era necessário e urgente justamente para a luta do nosso desenvolvimento, agora é mais urgente ainda com a questão da resiliência", frisou. "A reconstrução do Rio Grande do Sul só será possível porque temos aqui, dentro desta sala, toda a cadeia da infraestrutura representada."

Competitividade

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, defendeu que o desenvolvimento do setor é essencial para garantir a competitividade da nova indústria brasileira. "Temos 5.570 municípios. Um município, Altamira, tem 158 mil quilômetros quadrados. É maior que Portugal. Então, é fundamental para reduzir custos e melhorar a competitividade uma boa infraestrutura, integrando os vários modais de logística", exemplificou.

Alckmin afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar, na próxima semana, a Lei da Depreciação Acelerada, que trará benefício fiscal estimado em R$ 3,4 bilhões. Ele destacou ainda que o projeto de debêntures de infraestrutura e a criação da Letra de Crédito do Desenvolvimento (LCD), que tramita no Senado, tem o potencial de reduzir em até 1,5% o custo do crédito para a indústria.

Na avaliação dele, os anúncios recentes de R$ 130 bilhões em investimento do setor automobilístico e R$ 100 bilhões da indústria do aço demonstram a confiança das empresas nas medidas apresentadas pelo governo até agora.

De acordo com dados da Abdib, os investimentos em infraestrutura chegaram a R$ 213,4 bilhões no Brasil em 2023. O valor está bem abaixo do ideal estimado pela entidade, que seria de 4,31% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, R$ 250 bilhões a mais por ano do que o gasto atualmente.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que espera uma retração do PIB no próximo trimestre, devido à tragédia no Rio Grande do Sul. No entanto, segundo ela, a economia deve se recuperar até o fim do ano com a adoção de estímulos pelo governo.

Segundo ela, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai apresentar, na próxima sexta-feira, um pacote para socorrer a indústria e o setor produtivo do estado. "Essa recuperação depende do esforço de uma série de medidas que estamos fazendo, o que vai permitir alavancar o mais rápido possível um estado tão importante", afirmou. Ela destacou o programa de Rotas de Integração Nacional e a necessidade de "interiorizar" o país. "É assim que vamos gerar emprego e renda para desenvolver o crescimento."

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

 

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