Falar sobre o Judiciário, hoje em dia, parece repetitivo, mas o próprio Judiciário é quem toma a iniciativa de ocupar manchetes e, além de ocupar espaço dos outros Poderes, se expõe às câmeras e aos microfones. Alguns advogados garantem que começou em 2002, quando surgiu a TV Justiça e magistrados se sentiram em palcos ou estúdios. Difícil explicar essa exposição extratribunal para um americano ou europeu. A cada semana, há abundância de assuntos sobre o Judiciário, fazendo a festa de quem precisa de pauta para cumprir a obrigação de um artigo semanal.
Nestes últimos dias, a abundância de fatos me deixou em dúvida sobre o que destacar. Se é o presidente do Tribunal de Pernambuco, que quis rivalizar com Hollywood Boulevard em calçada da fama; se é o tal 1º (virão mais?) Fórum Jurídico Brasil de Ideias, no The Penninsula de Londres; ou se é o Supremo, mais uma vez, estar contrariando a vontade reiterada do Congresso dos representantes do povo, no caso da desoneração da folha.
O desembargador presidente do Tribunal de Pernambuco, depois de ter anunciado a implantação da Calçada da Fama como atração turística e jurídica, voltou atrás quando percebeu o ridículo e justificou "por não achar viável nem apropriado". A emenda veio pior que o soneto porque, agora, há gente a imaginar um juiz dando uma sentença e, depois de anunciá-la, arrepender-se por não achá-la apropriada.
Quanto ao tal fórum de ideias, ninguém conseguiu entender por que foi realizado em Londres, se os participantes — palestrantes, mediador e plateia — eram brasileiros. Preocupante é que, segundo o noticiário, quem financiou a reunião — passagens, certamente de classe executiva, e o caríssimo The Penninsula —, tem ações no Supremo e no Superior Tribunal de Justiça, e lá estavam cinco ministros do STJ e três do Supremo, em dias úteis de trabalho em seus tribunais. Também em dias úteis de trabalho no Brasil, lá estavam dois ministros do Executivo, o diretor da Polícia Federal, o procurador-geral, um diretor do Cade, um senador e um deputado.
E tivemos mais uma demonstração de que o Congresso Nacional — nominado na Constituição como o primeiro dos Poderes, por ser o representante direto da origem do poder — é complacente na proteção de seus poderes. O Congresso aprovou uma lei, a da desoneração, e derrubou os vetos do presidente, confirmando sua vontade. Agora, o Supremo, após atender ao pedido do governo de dar a relatoria de recurso ao ex-advogado de Lula, já registra 5 a zero para derrubar a vontade reiterada do Congresso. Repete assim o tratamento dado à lei do comprovante do voto, em que o Congresso aprovou, a presidente vetou, o Congresso derrubou o veto e o Supremo derrubou a vontade do Congresso. Não custa lembrar as consequências disso. Quanto tumulto poderia e pode ser evitado? Difícil voltar aos trilhos constitucionais? Basta ter humildade e sabedoria para começar do início, pondo em prática o "Estado Democrático de Direito", como está no caput no primeiro artigo; e, depois, o que está no seu parágrafo único: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta Constituição".