O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, nesta segunda-feira, que seus ministros passem mais tempo dialogando com o Congresso, em meio à crise que se instaurou entre os dois Poderes. O governo teme que a tensão, encabeçada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas sentida também no Senado, prejudique o andamento de pautas econômicas.
Lula pediu agilidade a seus ministros e que o chefe da Fazenda, Fernando Haddad, gaste mais tempo dentro do Congresso do que lendo livros. Também citou o vice-presidente Geraldo Alckmin.
"Isso significa que o Alckmin tem que ser mais ágil. Tem que conversar mais. O Haddad, em vez de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington (Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social) e o Rui Costa (da Casa Civil) têm que passar a maior parte do tempo conversando com a bancada A, com a bancada B", frisou o presidente na cerimônia para lançar o Programa Acredita (leia reportagem na página 7).
No Congresso, a base governista tenta evitar a votação de pautas-bomba, como a PEC do Quinquênio, que prevê aumentos para servidores do Judiciário a cada cinco anos; e a derrubada do veto de Lula a R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares no Orçamento.
"É difícil, mas a gente não pode reclamar, porque a política é exatamente assim. A política é a arte que permite a gente viver na diversidade com as pessoas, porque a gente tem divergência", declarou Lula.
A crise ganhou força após a Câmara manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser mandante do assassinato de Marielle Franco (PSol). Lira acusou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de ter divulgado que ele atuou pela soltura do parlamentar.
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Tributária
Questionado por jornalistas sobre a cobrança de Lula por mais articulação, Haddad foi sucinto: "Eu só faço isso na vida".
Ele se reuniu com o Lula, também nesta segunda-feira, para tratar dos "últimos detalhes" da regulamentação da reforma tributária, que deve ser apresentada ao Legislativo nesta semana. O texto vem sendo cobrado por parlamentares. Pelo menos 13 projetos alternativos ao do governo já foram apresentados na Câmara.
Segundo o ministro, Lula aprovou os projetos da regulamentação, mas apenas um dos textos será enviado esta semana, o que cria a Contribuição Sobre Bens e Serviços (CBS), imposto federal; e o Imposto Sobre Bens e Serviço (IBS), imposto local, de estados e municípios. Também está incluso o de alíquotas sobre produtos e serviços, como a cesta básica. São quase 200 páginas de documento. O segundo projeto, a respeito do Comitê Gestor do IBS, por exemplo, deve ser enviado em até 10 dias.
"Fechamos com o presidente todo o texto, não tem mais pendência com ele. Agora é um trabalho braçal pra fechar o texto. Está em processo na Casa Civil há muitos dias. São dois projetos, está indo o mais robusto porque o outro é de processo administrativo", explicou. "O presidente quis pessoalmente olhar pra ver se tudo estava fazendo sentido, até porque vai haver um amplo debate na sociedade, e ele queria estar seguro de que o texto tem consistência social também, não só econômica."
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